A redescoberta e a incorporação de instrumentos como a rabeca brasileira ao instrumentarium contemporâneo é um fenômeno recente. Esse processo faz parte de um movimento da etnomusicologia que, a partir da década de 1960, considera os instrumentos e suas práticas como uma das ferramentas cruciais para o estudo da linguagem musical e seus contextos socioculturais. Processo similar ocorreu na musicologia histórica, com a reincorporação de instrumentos musicais antigos, como o cravo, as violas-da-gamba e o violino barroco. A partir das práticas que envolvem tais instrumentos, através de Tratados dos séculos XVII e XVIII, uma vertente interpretativa mostrou-se apta a revelar aspectos até então colocados à margem dos estudos musicológicos, tais como, a retórica musical. A investigação dos instrumentos sob os prismas da musicologia e da etnomusicologia, adquiriu, portanto, um papel importante na teoria e nas práticas interpretativas. Nessa ótica, o projeto põe em evidência as tensões e os fluxos estéticos do pós-modernismo e suas implicações com a prática musical, ao mesmo tempo em que procura criar subsídios para abordagens da história da performance musical não comprometidas com o sentido teleológico que norteou pensamento musical ocidental até meados do séc. XX. Parte de sua metodologia consiste na análise fenomenológica (BAILEY, 1995; KUBIK, 1995; SHELEMAY, 2001; BUTT, 2002; TARUSKIN, 1995; PAGE, 1986, HARNONCOURT, 1990) da literatura erudita e popular, tendo como centro o instrumento. Enfatiza a noção de intertextualidade (LYOTARD, 1979) que permeia as práticas musicais contemporâneas, cuja finalidade seria transformar a narrativa totalizadora, característica do ideal modernista, em uma rede flexível de jogos de linguagem, que assumiria mais o caráter estrutural de evento do que de obra finalizada.
Início: 2010
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