Caro(a) leitor(a), nessa área é apresentado a você de que forma se relacionam os pilares que embasam esse trabalho - a saber: Funções Executivas, Matemática Financeira e reforma da Previdência Social - e que fundamentam o Produto Educacional "Sequência didática para a formação inicial docente na perspectiva das Funções Executivas, Matemática Financeira e Previdência Social". Para um maior aprofundamento dos conceitos aqui expostos, indica-se a leitura da dissertação "Funções Executivas, Matemática Financeira e Previdência Social: sequência didática para formação", que estará disponível na página do PPGECMT, no endereço https://www.udesc.br/cct/ppgecmt, a partir de Julho/2020.
O exercício da docência é um processo múltiplo.
De acordo com Vasconcelos (2006), toda iniciativa que busque analisar como se dá o processo de aprendizagem na Matemática - e que, consequentemente, adote melhorias para seu progresso - necessita considerar os diferentes fatores que influenciam na capacidade de aprender do aluno, tais como: a relação professor-estudante; a metodologia aplicada; o contexto ambiental de crescimento; e, em especial, as habilidades cognitivas decorrentes desse processamento, isto é, como o cérebro aprende.
Já da legislação e diretrizes que regulam o processo educacional, é possível perceber uma preocupação em formar indivíduos aptos a atuar em diferentes esferas da sociedade, como cidadão, trabalhador, ser políticos, entre outros. Assim, não apenas de conteúdo será formado o sujeito, mas também de um pensamento crítico que o posicione de forma ativa no meio social (BRASIL, 1996; SEED, 2008).
Diante dessa questão de formação do aluno - a fim de torná-lo um cidadão ativo em questões sociais, políticas e, especialmente nesse estudo, econômicas - é que se pensou esse trabalho, dado que os conteúdos abordados no Ensino Médio, muitas vezes, não estão diretamente relacionados com o cotidiano dos estudantes. Por isso, a perspectiva aqui adota parte de uma abordagem interior para o exterior, isto é, explora o que permeia o processo do planejamento sob um olhar da neurociência, passa para a sala de aula ao tratar do ensino da Matemática Financeira, e se encontra, por fim, ao cenário social ao se inserir na discussão a respeito da nova Previdência Social.
De acordo com Menegolla e Sant'Anna (2003, p. 13), "o ato de planejar é uma preocupação que envolve toda possível ação ou qualquer empreendimento da pessoa" e, dessa forma, como "a história do homem é um reflexo do seu pensar sobre o presente, passado e futuro; [...] o ato de pensar não deixa de ser um verdadeiro ato de planejar". Assim, almejar um objetivo traçando estratégias claras não se reduz apenas a reconhecer quais ferramentas utilizar, mas envolve, também, um bom funcionamento de determinadas habilidades mentais: as Funções Executivas (FE). As FE estão relacionadas às habilidades e capacidades que permitem ao indivíduo executar ações para atingir um objetivo, monitorando seu próprio desempenho até que a meta seja alcançada, assegurando o comportamento dentro de um contexto específico (COSENZA; GUERRA, 2011). Dessa forma, as FE organizam os pensamentos e permitem a interação com o meio ambiente, envolvendo memória e conhecimentos pré-estabelecidos para definição de planos.
Conforme afirma Diamond (2014, tradução nossa), as componentes das FE - a saber, memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva - estão ativas tanto no processo de planejamento quanto na sua execução. A memória de trabalho é requerida, por exemplo, sempre que é necessário relacionar algo já ocorrido com o que virá a acontecer, quando é preciso reorganizar uma lista de afazeres e na tradução de instruções em planos de ação; o controle inibitório é fundamental para que o sujeito se mantenha em seu cronograma/projeto evitando qualquer estímulo que não contribua para sua ação; já a flexibilidade cognitiva, no ato de planejar, é imprescindível para que o indivíduo tenha novas ideias e/ou se adapte a qualquer demanda que altere seu plano original (DIAMOND, 2014, tradução nossa).
Segundo Cosenza e Guerra (2011), pesquisas em andamento que buscam identificar as melhores estratégias para trabalhar o desenvolvimento das FE no ambiente escolar, ainda não chegaram a uma conclusão de como fazê-lo. Contudo, a forma mais eficiente para estimulá-las é as incorporando ao currículo escolar. Dessa forma, diante desse cenário que requer um planejamento da aposentadoria para uma vida mais prolongada - observando o papel das Funções Executivas no ato de planejar -, foi desenvolvido esse trabalho que busca atingir essa demanda, por meio da Matemática Financeira abordada no Ensino Básico, com professores em formação inicial. Neste sentido, pensou-se em abordar este conteúdo através da Matemática Financeira abordada no Ensino Médio, pois, muitas vezes, ela é deixada de lado, ou ministrada muito rapidamente pelos docentes no final de cada ano letivo, como se fosse apenas um apêndice, isso porque "a contextualização da matemática financeira no âmbito do Ensino Médio está um pouco esquecida e fora do currículo de muitas escolas, devido à ênfase maior dada aos conteúdos da chamada matemática 'geral'" (OLIVEIRA; CREMASCO, 2013, p. 5).
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil - assim como diversos países ao redor do mundo - vem seguindo uma tendência de envelhecimento de sua população, fenômeno esse que ocorre devido à diminuição das taxas de fecundidade e de mortalidade infantil, além das melhorias nas condições de saúde que são promovidas pela alimentação mais adequada, pela ampliação do saneamento básico e pelo uso de medicamentos, que estão se tornando mais eficientes devido aos avanços da tecnologia (IBGE, 2018; FELIX, 2007). Como resultado desse processo, tem-se que "em 2060, o percentual da população com 65 anos ou mais de idade chegará a 25,5% (58,2 milhões de idosos), enquanto em 2018 essa proporção é de 9,2% (19,2 milhões). Já os jovens (0 a 14 anos) deverão representar 14,7% da população (33,6 milhões) em 2060, frente a 21,9% (44,5 milhões) em 2018" (IBGE, 2018, s.p.).
Isso significa que, atualmente, o Brasil tem uma população predominantemente jovem e ativa - sendo que, anteriormente, era jovem e inativa - mas que, em cerca de duas décadas, irá se tornar idosa e inativa. A implicação desse fenômeno, no contexto da Previdência Social, faz ligação com o sistema de repartição vigente do Regime Geral da Previdência Social (RGPS), isto é, considerando o pacto de gerações, "é esperado que o processo de envelhecimento leve a um aumento das despesas com o pagamento de benefícios, sem que haja contrapartida nas contribuições, ou mesmo com a redução destas" (AMARO; AFONSO, 2018, p. 2). Assim, o contínuo aumento das despesas previdenciárias e sua simultânea diminuição de receitas para pagamento dos benefícios da aposentadoria, tornam o sistema previdenciário cada vez mais insustentável em seu modelo atual.
Ainda, soma-se a essas projeções outro dado importante: a expectativa de vida. Conforme aponta o IBGE (2018, s.p.), ao nascer é estimado que cada cidadão brasileiro irá viver por 75,8 anos; há cerca de 30 anos atrás, essa estimativa era de 45,5 anos. Além disso, observa-se também um aumento na sobrevida - isto é, expectativa de vida após completar 65 anos de idade - do brasileiro, que hoje é de 18,5 anos (IBGE, 2016).
Esse cenário é um dos fatores levados em consideração nas discussões sobre a reforma da Previdência Social - promulgada por meio da Emenda Constitucional nº 103, de novembro de 2019 (EC 103/2019). A relevância de trazer essa discussão para a sala de aula se dá porque atingirá, sem sombra de dúvidas, o futuro de estudantes, hoje no Ensino Médio, e que amanhã entrarão no mercado de trabalho. Com o aumento da expectativa de vida, um problema real que se apresenta é como se organizar, ao longo da vida, para chegar à velhice tendo condições de se sustentar e se manter independente financeiramente.
REFERÊNCIAS:
AMARO, L. C.; AFONSO, L. E. Quais são os efeitos do envelhecimento populacional nos sistemas previdenciários de Brasil, Espanha e França? Revista Brasileira Estatística Populacional, Belo Horizonte, v. 35, n. 2, p. 1-29, 2018. Disponível em: https://bit.ly/2GQ0J2r. Acesso em: 20 abr. 2019.
______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Planalto, Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em: https://bit.ly/1rTiGTn. Acesso em: 24 out. 2018.
COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação. São Paulo: Artmed, 2011.
DIAMOND, A. Want to Optimize Executive Functions and Academic Outcomes? Simple, just nourish the human spirit. In: ZELAZO, P. D.; SERA, M. D. (Org.). Minnesota Symposia on Child Psychology: developing cognitive control processes - mechanisms, implications and interventions. Hoboken: Wiley, 2014, p. 205-230.
FELIX, J. S. Economia da Longevidade: uma revisão da bibliografia brasileira sobre o envelhecimento populacional. In: Encontro da Associação Brasileira de Economia da Saúde, 8., 2007. Anais eletrônicos... Niterói: ANPEC, 2007. Disponível em: https://bit.ly/2GO8AyB. Acesso em: 24 out. 2018.
IBGE. Projeção da População 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Brasília: 2018. Disponível em: https://bit.ly/2NtDmBG. Acesso em: 20 abr. 2019.
______. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: https://bit.ly/2oFgIKP. Acesso em: 24 out. 2018.
______. Projeção da população por sexo e idades: Brasil 2000-2060, Unidades da Federação 2000-2030. Rio de Janeiro, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2XOlQJ9. Acesso em: 24 out. 2018.
MENEGOLLA, M.; SANT'ANNA, I. M. Por que planejar? Como planejar? 22 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2003.
OLIVEIRA, D. P.; CREMASCO, N. R. A Matemática Financeira e o cotidiano do aluno do Ensino Médio. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE: artigos, Curitiba, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2TYWtqC. Acesso em: 31 out. 2018.
SEED. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná: Matemática. Curitiba: SEED, 2008.
VASCONCELOS, L. Neuropsicologia da atividade Matemática: aspectos funcionais. In: Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 6., 2006, Pernambuco. Anais eletrônicos... Pernambuco: UFP, 2006. Disponível em: https://bit.ly/2IUTrNo. Acesso em: 01 out. 2018.
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