Caro(a) leitor(a), nessa área é apresentado a você o que são as Funções Executivas e como elas se relacionam ao espaço escolar. Para um maior aprofundamento dos conceitos aqui expostos, indica-se a leitura da dissertação "Funções Executivas, Matemática Financeira e Previdência Social: sequência didática para formação", que estará disponível na página do PPGECMT, no endereço https://www.udesc.br/cct/ppgecmt, a partir de Julho/2020.
Funções Executivas: conceitos básicos
As FE tornam o sujeito capaz de se adaptar a estímulos, responder, antecipar e prever consequências de um objetivo e, quando necessário, adotar uma postura flexível diante de uma mudança de planos na execução de determinada tarefa. Assim, o indivíduo pode exercer controle e regular seu comportamento ao processar informações de acordo com as condições ambientais (MENEZES et al., 2012).
O desenvolvimento das FE tem início aos 12 meses de idade e vai até o começo da fase adulta, seguindo uma trajetória linear (MENEZES et al., 2012). No entanto, há dois momentos na vida onde elas se desenvolvem mais rapidamente: nos anos pré-escolares e no início da adolescência. Antes dos 4 a 5 anos de idade, as habilidades associadas ao funcionamento executivo ainda estão subdesenvolvidas. Por isso, muitas crianças pequenas têm dificuldade para resistir às tentações, planejar, se concentrar e controlar suas emoções (COSENZA; GUERRA, 2011).
Vasconcelos (2006) afirma que, entre as habilidades cognitivas envolvidas na aprendizagem, são principais as Funções Executivas. Apesar das divergências presentes na literatura, entende-se que as principais componentes das Funções Executivas são: memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade cognitiva (COSENZA; GUERRA, 2011). Diamond (2013) as define da seguinte forma:
De acordo com o Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), desempenho acadêmico, capacidade de adquirir capital humano, realização profissional, boa saúde física e mental e a não adoção de comportamentos de risco, são fatores dependentes do bom desenvolvimento das Funções Executivas (NCPI, 2016). Desta forma, interações sociais (família, escola, comunidade, etc.) formadas a partir de relacionamentos positivos otimizam o bom desenvolvimento das FE, tornando o ambiente propício para seu aperfeiçoamento. Analogamente, situações de estresse prolongado, negligência, abusos e maus tratos são fatores extremamente prejudiciais às FE.
Funções Executivas e o Desempenho Escolar
Já na infância, desde o início da escolarização, as Funções Executivas são cruciais para a rotina diária criança, pois permite a elas (CARDOSO et al., 2015, p. 63),
Assim, é importante que os adultos que fazem parte do convívio da criança estejam dispostos a melhor auxiliá-las no desenvolvimento destas características, uma vez que elas não são inatas. Nesse sentido, Cardoso et al. (2015) defende que as crianças precisam ser confrontadas com diversas tarefas - com diferentes níveis de dificuldade - que permitam o desenvolvimento das habilidades executivas e, para que isso ocorra, é necessário que elas sejam colocadas diante a situações que demandem "capacidade de planejamento, organização, resolução de problemas, escolhas de alternativas, controle inibitório e concentração" (CARDOSO et al., 2015, p. 63).
Indivíduos que apresentam bom desenvolvimento das FE se mostram capazes de identificar os requisitos para a realização de determinada tarefa, indo atrás dos recursos necessários para sua solução e pedindo ajuda quando necessário - características essas indispensáveis para um desempenho escolar eficiente (SEABRA et al., 2014). Analogamente, quando o sujeito possui FE pobres, maiores dificuldades ele terá para atender às demandas escolares.
Ainda nesse cenário, outra situação crítica ocorre: crianças com FE deficientes têm maiores tendências a resistir à escolarização, a mostrar pouco empenho na resolução de atividades e abandoná-las mais rápido (SEABRA et al., 2014); e isso, de certa forma, é reforçado pela estrutura escolar. Crianças como boas habilidades executivas demonstram prazer e dedicação com relação às atividades escolares e, por isso, costumam receber bons feedbacks de seus professores e pares, reforçando sua autopercepção de sucesso - o que não ocorre com aqueles com FE deficitárias. Seabra et al. (2014, p. 172) apontam que "há uma tendência perversa, que leva a um distanciamento cada vez maior entre crianças que ingressam com altos e com baixos níveis de FE". Por isso, importa que professores e educadores sejam inseridos na esfera da neuroeducação a fim de diminuir essa disparidade.
Muitos pais e professores reportam queixas sobre o comportamento da criança sem saber que a atitude em questão é originada de um déficit nas FE. Por isso, Cardoso et al. (2015) reuniram informações que auxiliam no processo de avaliação informal:
Importante destacar que a caracterização de uma deficiência em um, ou mais, componentes das FE devem ser realizados por meio de instrumentos de avaliação. A observação de uma característica não implica, automaticamente, que a criança tem um déficit executivo, pois, em muitos casos, o comportamento inadequado tem relação com a cultura sob a qual a criança foi educada. Assim, a avaliação do indivíduo deve ser propriamente feita dentro do seu cotidiano, com tarefas clínicas, questionários, escalas, entrevistas e observação (CARDOSO et al., 2015).
Todos os comportamentos mencionados interferem no desempenho escolar do indivíduo que, com o passar do tempo, pode se tornar cada vez mais desmotivado com as atividades da escola por (a) não terem uma autopercepção positiva de sua capacidade de aprender; (b) não se relacionarem bem com seus pares, sentindo-se rejeitados; e (c) tornarem-se frustrados com o ato de aprender (CARDOSO et al., 2015).
REFERÊNCIAS
CARDOSO et al. Funções executivas e regulação emocional: intervenções e implicações educacionais. In: DIAS, N. M.; MECCA, T. P. (Org.). Contribuições da neuropsicologia e da psicologia para intervenção n contexto educacional. São Paulo: Memnon, 2015, p. 63-82.
COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação. São Paulo: Artmed, 2011.
DIAMOND, A. Executive Functions. Annual Review of Psychology, Ames, v. 63, p. 135-168, 2013. Disponível em: https://bit.ly/2ZFfwpd. Acesso em: 31 jan. 2019.
MENEZES, Amanda. et al. Definições teóricas acerca das funções executivas e da atenção. In: SEABRA, Alessandra Gotuzo; DIAS, Natália Martins (Org.). Avaliação Neuropsicológica Cognitiva: atenção e funções executivas. São Paulo: Memnon, 2012, p. 34-41.
NCPI. Funções executivas e desenvolvimento na primeira infância: habilidades necessárias para a autonomia. 1. ed. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2016.
SEABRA, A. G. et al. Modelo de funções executivas. In: SEABRA, A. G. et al. Inteligência e funções executivas: avanços e desafios para a avaliação neuropsicológica. São Paulo: Memnon, 2014, p. 39-50.
______. Funções executivas e desempenho escolar. In: SEABRA, A. G. et al. Inteligência e funções executivas: avanços e desafios para a avaliação neuropsicológica. São Paulo: Memnon, 2014, p. 171-182.
TOKUHAMA-ESPINOSA, T. N. The Scientifically Substantiated Art of Teaching: a study in the development of standards in the new academic field of neuroeducation (mind, brain and education science). 2008. Tese (Doutorado em Filosofia) - Capella University, Minneapolis, 2008.
VASCONCELOS, L. Neuropsicologia da atividade Matemática: aspectos funcionais. In: Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 6., 2006, Pernambuco. Anais eletrônicos... Pernambuco: UFP, 2006. Disponível em: https://bit.ly/2IUTrNo. Acesso em: 01 out. 2018.
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