Escrito por Maria Goreti Gomes
Joinville - A professora Paula Duarte, do Colégio Santos Anjos com mais de uma década de experiência com alunos de seis anos, inicia o ano letivo construindo com os alunos as regras de convivência da turma. Os cartazes com os combinados escritos e em imagem são revisitados diariamente na sala.
Uma cópia das regras foi enviada aos pais. “Houve o relato de uma das mães de que esta vivência incentivou a confecção de um cartaz de regras na casa desta família”, contou a professora.
“No início, o Colégio elege o tema que norteará o ano letivo. Em 2019, a vivência nos convidou a “Contagiar pelo Bem”. O tema também veio de encontro ao da Campanha da Fraternidade. Antes de falar de Campanha da Fraternidade, nos primeiros dias letivos, criamos as regras de nosso grupo, para crescermos enquanto grupo, e nos respeitarmos mutuamente”, registrou a professora.
Paula disse que o tema veio em bom momento, pois a cada ano, os pequenos chegam com menos consciência de seus limites e deveres na convivência tanto com a professora, quanto com os colegas. “Diariamente precisamos relembrar os combinados”, relembra.
Segundo ela, assim como na sociedade brasileira, há muita confusão entre o que são os direitos individuais e os deveres que cada um precisa cumprir para que todos possam usufruir desses direitos.
O respeito à hierarquia no relacionamento com a professora e demais adultos praticamente deixou de existir. E para complicar, é perceptível a intolerância crescente com as diferenças de pensamentos e hábitos do outro.
Tudo isso, aliado à dificuldade em perceber que seus direitos individuais terminam, onde começa os do outro, tornam a convivência em grupo cada vez mais difícil.
Na sala de aula
A conversa sobre o tema da Campanha da Fraternidade levou à retomada de alguns conceitos trabalhados no início do ano. “Primeiro conceituamos, com a ajuda de todo o grupo, o que é direito e dever.
Neste dia, a sala foi organizada de maneira diferente para incentivar a participação de todos. “As crianças se entusiasmaram.
Tendo conceituado o que é DIREITO como poder fazer e ter as coisas, e DEVER como obedecer às regras, continuamos nossas interações sobre a Campanha da Fraternidade”, registrou a professora.
Após conceituar direito e dever, em uma aula online foi estudado o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. A atividade foi escolhida dentre as sugeridas pela equipe pedagógica do CSA no início do ano. O material estudado está disponível no site da Câmara dos Deputados:
https://plenarinho.leg.br/index.php/2017/07/03/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente/
“Durante a aula conversamos muito. As crianças citaram exemplos de seu convívio. Depois de explorar o site, estudamos o cartaz da Campanha da Fraternidade que trata de Políticas Públicas.
O grupo passou a perceber políticas públicas como aquelas reivindicadas por um grupo. Mas reforçou que a reivindicação precisa ser feita com respeito e ordeiramente, pois o outro cidadão sempre merece respeito.
A conclusão foi que para fazer valer nossos direitos, é preciso ainda cumprir com nossos deveres e obedecer às regras sociais em casa, na escola, no trânsito, na igreja”, relatou.
Regras na construção do coletivo
Uma obra de arte coletiva seguindo regras de construção ajudou a compreender os limites de cada um dentro do conjunto. Ao centro um coração, símbolo do amor, que deve estar presente em todas as relações humanas.
“Primeiro fizemos um coração pintado de vermelho, a cor que para o grupo representava o amor. Deus é o criador, nos fez com amor e nos pede que passemos o amor adiante”, explicou a professora.
Depois do coração, foram desenhadas várias linhas. Primeiro o grupo de meninas, em seguida os meninos.
As linhas se cruzavam e formavam pequenos espaços. O passo seguinte foi colorir cada espaço de uma cor diferente, sem repetir a cor, se houvesse necessidade, a cor deveria ser repetir bem longe da outra.
Noutra aula a professora motivou o grupo a escrever palavras importantes para exercitar nossos direitos e deveres na rotina diária. Palavras como verdade, harmonia, ser bom, economizar, união, participar, ajudar, emprestar, brincar, amor, Jesus foram escritas no com as crianças em fase de alfabetização colaborando com hipóteses de escrita. Cada aluno escreveu uma das palavras numa tira de papel e pode colar as palavras no coração da obra coletiva.
“Estas palavras são ensinamentos que temos de praticar em nossa rotina, viver no nosso dia-a-dia e exercitar ações de bem para o coletivo, ações de políticas públicas. Colamos o cartaz na parte de fora de nossa sala e ao concluir admiramos nossa produção e o que ela significa para a construção do nosso grupo, nossa pequena sociedade”, concluiu a professora.
“Enquanto professora, percebo que a cada dia devemos enfatizar ainda mais o bom convívio, partindo de nossa boa postura, incentivar as crianças a perceber que nossas ações têm reflexo direto no todo. Percebo que as crianças precisam de boas referências, noção de rotina, bom comportamento, cumprimento de regras em suas interações, continuou.
“Nós adultos precisamos mediar as vivências dos pequenos promovendo o saudável desenvolvimento nas diferentes áreas. Estamos presenciando na nossa sociedade situações em que a criança escolhe o que faz e como faz. Eles precisam entender que nós também seguimos regras, nossa postura precisa ser firme e acolhedora.
Por vezes ao dispor tudo em demasia para os pequenos, esquecemos de que não ter determinadas coisas, passar determinadas necessidades, nos fez ser as pessoas maduras e responsáveis que nos tornamos hoje. Não podemos deixar que se invertam os papéis, pois impor limites é criar filhos saudáveis”, concluiu.