Em homenagem ao dia do/a professor/a, no mês de outubro, este canto do jornal tem comentado trajetórias de docentes. A escolha não é fácil porque vários deles merecem ser rememorados desde aqueles que têm visibilidade pública e política até os que trabalham, de forma anônima e eficaz, na sala de aula. Devido ao centenário de seu nascimento, no presente ano, decidi escrever algumas linhas sobre Aníbal Nunes Pires, que teve atuação expressiva tanto no ensino secundário como em cursos superiores.
Aníbal merece ser rememorado como professor porque ele é geralmente lembrado como agitador cultural. No campo literário catarinense, integrou o Grupo SUL, que, a partir de 1948, passou a defender o modernismo nas letras e nas artes e, por isso, a atacar o realismo/parnasianismo da Academia Catarinense de Letras. Essa associação artístico-literária posicionou-se de forma mais incisiva por meio da publicação revista SUL, que, por vários anos, foi dirigida por Aníbal e Salim Miguel. Em realidade, o grupo de modernistas catarinenses era formado por uma dezena de jovens contestadores liderados por Aníbal, que, além de ser mais maduro, era versátil e tinha excelente circulação em instituições culturais da pequena Florianópolis.
No campo escolar, começou a sua carreira docente, em meados dos anos 1930, como professor de Matemática e de Português no Colégio Catarinense – o estabelecimento de ensino superior dos filhos homens das elites. Posteriormente, passou a ministrar aulas de Língua Portuguesa e Literatura também no Colégio Coração de Jesus, educandário feminino vinculado à Congregação das Irmãs da Divina Providência, e no Colégio Estadual Dias Velho, o ensino secundário do antigo Instituto de Educação, sediado no prédio neoclássico da rua Saldanha Marinho. Desta forma, até o início dos anos 1960, o professor Aníbal tinha atuado nos três colégios de ensino secundário da capital catarinense.
Com a criação da Universidade Federal de Santa Catarina (1961) e da Universidade do Estado de Santa Catarina (1965), tornou-se docente dessas duas universidades públicas, fazendo parte de uma leva de professores secundaristas que migrou para o ensino superior. Na UDESC, além de professor de várias disciplinas, foi diretor da Faculdade de Educação em dois momentos (1964-66 e 1974-76) e criador dos cursos de Educação Artística, Biblioteconomia e Estudos Sociais. Na UFSC, além de catedrático de Literatura Brasileira, ocupou vários cargos administrativos como o de Sub-Reitor de Assistência e Orientação ao Estudante. Segundo depoimentos orais e escritos, Aníbal Nunes Pires era talhado para cargos de gestão devido à sua capacidade ímpar de liderar equipes de trabalho e de respeitar e valorizar as pessoas.
Em todas as instituições de ensino em que atuou entre os anos 30 e 70 do século passado, o professor Aníbal foi distinguido por seus alunos/as como patrono ou paraninfo de turma – um sintoma indelével de seu prestígio como docente. Por isso, no ano em que ele completaria 100 anos, merece ser rememorado como educador, mas, como afirma o escritor Salim Miguel “tudo o que se faça para homenagear Aníbal Nunes Pires ainda é pouco”.