Notícia

“Imediatamente, senti muita gratidão a todos e todas que participaram, direta ou indiretamente, de meu percurso acadêmico”, conta Matheus Rocha Grain, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Música (PPGMUS). Ele comemora a escolha da sua tese, “Das memórias que cercam os intervalos de três tons: entre sons e conotações”, para concorrer ao Prêmio Capes de Tese 2024. O trabalho é um dos indicados pelo Centro de Artes, Design e Moda (Ceart) da Udesc.

A pesquisa explora o trítono, um intervalo musical controverso na teoria e arte ocidental, investigando conotações ao longo da história e questionando como a teoria musical pode ser entendida em relação ao seu contexto cultural e social. Seu projeto propõe que entender as memórias associadas ao trítono pode ajudar a reexaminar conceitos comuns na teoria musical. Isso inclui revisar crenças e significados estabelecidos, além de mapear textos importantes na história da teoria mus ical ocidental e compreender que a música não existe isoladamente, mas reflete seu ambiente.

Sua análise abrange desde teóricos clássicos até interpretações modernas, mostrando como o trítono foi interpretado ao longo do tempo. Além disso, o estudo sugere que as conotações do trítono, como a associação com o "diabolus in musica", variam dependendo do contexto histórico e cultural. Essas interpretações não são fixas, mas evoluem com o tempo e refletem preocupações contemporâneas.

Esta matéria faz parte de uma série que irá apresentar as teses indicadas pelos programas de pós-graduação do Ceart ao Prêmio Capes de Tese deste ano. Confira a entrevista realizada com Matheus sobre sua pesquisa:

Quais foram suas principais motivações e inspirações para escolher esse tema específico para sua pesquisa de doutorado?

Minha principal motivação de escolha do tema foi desenvolver um estudo que pudesse me habilitar a atuar profissionalmente, tanto na docência quanto na pesquisa, nas áreas de história e teoria da música.

Poderia contar um pouco sobre o processo de pesquisa e desenvolvimento da sua tese? Quais foram os principais desafios que enfrentou durante esse processo?

O período de produção da tese foi de 2019 a 2023. Certamente, a maior dificuldade foi o período de isolamento social decorrente da Covid-19. Minha pesquisa foi conduzida por revisão bibliográfica, logo, não fui impedido de fazer trabalhos de campo ou coisas do tipo. Entretanto, o distanciamento de colegas, professores e grupos de pesquisa tornou o processo bastante solitário. Felizmente, pude realizar os estágios docentes no Departamento de Música da Udesc e pude fazer algumas disciplinas presencialmente em 2019. Sendo assim, o processo de pesquisa e desenvolvimento da tese se resumiram a longas e incontáveis horas em frente ao computador e a livros.

De que forma você acredita que sua tese contribui para o avanço do conhecimento na área de seus estudos?

Ao estudar memórias e conotações de um componente da teoria musical ocidental, o trítono, foi possível argumentar que é pelo compartilhamento massivo de que o trítono é o mal que ele se tornou, no imaginário contemporâneo, u m mal – que, em boa medida, não causa, ou mesmo nunca causou, mal a ninguém. Ao retomar uma interpretação moderna, de que o trítono é de fato o mal, e uma interpretação antiga, de que o trítono participa da criação, concluiu-se que ambas decorrem de concepções humanas que atribuem conotações a um fenômeno sensível. Acredito que essa tese contribui ao salientar que as crenças sobre o que o trítono é, e foi, não dizem respeito ao trítono, o fenômeno sensível enquanto tal, mas às conotações coladas ao intervalo. Levando isso em conta, a tese buscou enfocar os humanos e seus esforços para significar a realidade circundante. Pois até o estudo das propriedades ditas imanentes ao trítono através das razões musicais reconduzem, inevitavelmente, às interpretações humanas. Mesmo considerando as inúmeras vias não tomadas, as fontes que não puderam ser consultadas e que as conotações sobre o intervalo de trítono ainda estão em movimento, foi possível oferecer uma nota conclusiva: o estabelecimento único e fixo do significado do trítono depende de incontáveis esquecimentos.

Que conselhos você daria para outros estudantes que estão começando suas pesquisas de doutorado?

Um caminho interessante é procurar um orientador que desenvolva pesquisa semelhante à qual o estudante busca produzir, mesmo que essa busca implique em mudança de cidade – como foi o meu caso, visto que sou de Curitiba.

Você pretende continuar pesquisando nessa área específica ou explorar outros temas relacionados à música?

No momento, planejo atuar no ensino superior como docente e continuar pesquisando na mesma área.

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Sobre o prêmio

O Prêmio Capes de Tese é realizado anualmente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As inscrições de trabalhos são feitas pelos programas de pós-graduação, responsáveis pela pré-seleção das teses. A avaliação leva em conta originalidade, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social, metodologia utilizada, rigor da redação, organização do texto e qualidade e quantidade de publicações decorrentes da pesquisa.

O prêmio deste ano reconhecerá os melhores trabalhos de doutorado defendidos em 2023 em 50 áreas de avaliação. Os autores das teses selecionadas recebem bolsa de até um ano para estágio pós-doutoral, certificado e medalha. O orientador do trabalho, coorientadores e o programa de pós-graduação também são premiados. Além desses, três trabalhos vão receber o Grande Prêmio Capes de Tese; também serão concedidos prêmios especiais para algumas áreas.

O resultado será divulgado em setembro e os vencedores do Grande Prêmio serão conhecidos em dezembro, mesmo mês em que ocorrerá a entrega das premiações. Em 2023, a pesquisadora Khetllen Costa, doutora em Artes Visuais pelo Centro de Artes, Design e Moda (Ceart) da Udesc, foi uma das premiadas na área de Artes com a tese "Ressonâncias de Afetos - Raízes Afro-indígenas Retratadas". Saiba mais nesta notícia.


Assessoria de Comunicação da Udesc Ceart
Por Matheus Alves, estagiário de Jornalismo, sob supervisão da jornalista Carolina Dall'Agnese
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