O período de 1940 a 1960 marcou o desenvolvimento econômico da região da serra catarinense. Neste período, que foi, para a região, o auge da extração da Araucaria angustifolia, a economia serrana evidenciou-se como um importante polo madeireiro do Estado de Santa Catarina, caracterizando o “Primeiro Ciclo da Madeira” na região. O Desenvolvimento econômico da região serrana foi tão próspero neste período que rendeu à cidade de Lages o título de “Princesa da Serra”. Porém o declínio da indústria madeireira (partir de 1970), por conta da exaustão das reservas naturais de araucária, trouxe consigo o desaquecimento e estagnação econômica da região, principalmente na década de 80 e início da década de 90 do século XX.
No entanto, concomitantemente à exaustão dos recursos florestais nativos, a instalação na região de unidades da indústria de celulose e papel a partir da década de 1950, iniciou e impulsionou o plantio de espécies exóticas, principalmente do gênero Pinus. A área plantada foi impulsionada mais tarde pelos incentivos fiscais, que consolidaram a região Serrana, juntamente com a região do Planalto Norte, com as mais importantes fornecedoras de madeira de plantios florestais do Estado de Santa Catarina e da região sul do pais. Esta nova concepção de fornecimento de matéria-prima, oriunda de plantios florestais, contribui para a retomada do crescimento econômico e novo destaque do setor após o declínio da exploração da araucária, caracterizando o “Segundo Ciclo da Madeira” na região.
Atualmente, Santa Catarina possuiu uma área total com florestas plantadas de 828,9 mil hectares. Destes, 67% (553,6 mil hectares) com espécies do gênero Pinus e 33% (275,3 mil hectares) com Eucalyptus. A região Serrana concentra 33% (269.863 ha) destas florestas sendo: 242.338 hectares com Pinus e 27.525 ha com Eucalyptus. A Região Serrana concentra atividades silviculturais (produção florestal) principalmente com Pinus, indústria de celulose, serrarias, portas, fábricas de compensados e chapas de painéis reconstituídos. Segundo a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), o estado concentra 5,6 mil empresas relacionadas ao setor florestal-madeireiro. Historicamente, Santa Catarina é responsável por gerar 15% do número de empregos formais do setor de base florestal da base plantada nacional. Em 2018, o Estado consolidou 90,2 mil empregos. Em 2018, a Silvicultura de Santa Catarina respondeu pelo Valor Bruto da Produção da Silvicultura (VBPS) de R$ 1,38 bilhão. Santa Catarina foi o 3° estado no ranking de contribuição para o VBPS. Em termos de tributos, Santa Catarina arrecadou cerca de R$ 137,6 milhão em impostos da Silvicultura.
Essa elevada importância econômica e social, demonstrada pelos números do setor de base florestal, tem requerido, historicamente pesquisas, desenvolvimento tecnológico e inovação em ciências florestais. Estes estudos devem abranger tanto as áreas de política e economia florestais como nas áreas de produção e tecnologia da madeira, de modo a disponibilizar para a sociedade conhecimento científico e tecnológico em silvicultura, manejo florestal, ciências geodésicas, tecnologia da madeira e todas as subáreas envolvidas nestas grandes áreas de atuação da Engenharia Florestal.
No contexto natural, embora tenha ocorrido a degradação das florestas nativas durante o período chamado de “Primeiro Ciclo da Madeira”, devido a exploração da floresta com Araucária, a região ainda possui vocação florestal relacionada com as florestas naturais. Isso porque a sobrevivência e desenvolvimento de muitos agricultores familiares ainda dependem de produtos da floresta, como o pinhão e a erva-mate. No entanto, a sua utilização racional e sustentável requer estudos e tecnologia apropriada para o desenvolvimento de planos de manejo sustentável com a exploração de produtos inclusive madeireiros, além de produtos não-madeireiros, produtos da socio biodiversidade e serviços ambientais.
Em termos do ambiente natural, as florestas e campos nativos da região têm uma grande importância na conservação dos sistemas naturais e dos recursos hídricos, possuindo nascentes de importantes rios do estado, como o Canoas e Pelotas, além de ser uma região de recarga do Aquífero Guarani. Há também muitas pequenas centrais hidroelétricas (PCH’s), construídas ou em projeto (aproximadamente 27 projetos), e duas grandes barragens no rio Canoas e Pelotas, e outras em projeto.
Esses empreendimentos demandam pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico, na recuperação de áreas degradadas, mitigação ambiental, estudos de monitoramento, de gestão das áreas atingidas e projetos socioambientais. Por isso, constituem-se também em fonte de recursos para pesquisa, por meio de editais próprios e investimentos locais a partir de parcerias, como vem ocorrendo entre o Curso de Mestrado em Engenharia Florestal e empresas do setor elétrico.
Outra característica regional é a proximidade com uma diversidade de formações vegetacionais, com grande potencial para estudos inéditos, e unidades de conservação, destacando-se o Parque Nacional de São Joaquim, e outras unidades estaduais e municipais, além outras modalidades de Unidades de conservação como as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s) existentes na região.
Este histórico, levou a sociedade e o setor de base florestal exigir das instituições de ensino da região a formação de recursos humanos e produção de conhecimento na área. Assim, no ano de 1998, a Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC) criou o Curso de Tecnologia da Madeira (primeiro do Brasil), que posteriormente evoluiu para o Curso de Engenharia Industrial Madeireira (2001) (segundo curso do Brasil). No entanto, crises institucionais levaram aquela instituição a encerrar os cursos na área, não atendendo mais a demanda do setor.
Esta lacuna foi preenchida no ano de 2004 com a criação do Curso de Engenharia Florestal na Universidade do Estado de Santa Catarina. O curso de graduação, permitiu a estruturação de um corpo docente oriundo de diferentes regiões do país, e formação de recursos humanos, estruturando a base para a abertura do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal (PPGEF) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em 2012. O Curso foi criado e aprovado por meio da Resolução 046-2011-CONSUNI-UDESC, que criou o Curso de Mestrado em Engenharia Florestal e aprovou o Regimento Interno do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Engenharia Florestal, para oferecimento no Centro de Ciências Agroveterinárias – CAV, da Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC (https://www.udesc.br/arquivos/cav/id_cpmenu/2215/Resolu__o_046_2011_Consuni_15942324467732_2215.pdf). Em 2022 o Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal da UDESC alcança o conceito 4 da CAPES. Em 2023 foi aprovado o Curso de Doutorado pela CAPES (PORTARIA Nº 2.149, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2023), com inicio do curso em março de 2024.
Atualmente, o Curso de Doutorado em Engenharia Florestal da UDESC é o único dentro da área de Recursos Florestais no Estado (SC).
Em termos regionais, o município de Lages, que é a capital regional do Planalto Serrano, vem apresentando crescimento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que passou de 0,674 em 2000 para 0,770, no senso de 2010, um crescimento de 14,24%. Este índice é considerado alto pelo IBGE. Este crescimento também se deve a contribuição dada por todos os segmentos da cadeia produtiva da madeira, tanto no setor produtivo como nas ações de formação de recursos humanos, pesquisa e extensão promovidas pela Universidade junto à comunidade.
Neste contexto, pode ser destacado que das 196 dissertações defendidas entre os anos de 2013 a 2020, 80% (2013); 70% (2014); 63% (2015); 67% (2016); 61% (2017); 67% (2018); 38% (2019); 29% (2020); 33(2021), 50(2022) e 65 (2023) tiveram como tema assuntos relacionados à região de inserção do Curso de Mestrado, produzindo conhecimento para aplicação regional e que em muitos dos casos podem ser extrapolados para outras realidades, sejam no âmbito estadual, nacional e internacional.
Estas dissertações desenvolvidas dentro das linhas de pesquisa do Programa trataram das demandas econômicas, sociais e ambientais da sociedade e do setor de base florestal regional, estadual e nacional. Dentro da linha denominada Ecologia de Espécies Florestais e Ecossistemas Associados foram abordados temas relacionados à caracterização dos padrões florísticos, estruturais e de diversidade em ecossistemas florestais; realização de estudos etnobotânicos e etnoecológicos; avaliação da ecologia de comunidade e populações de espécies animais; manejo da fauna silvestre; estudos de genética de populações de espécies arbóreas; estudos na área de ecologia da conservação; estudos sobre recuperação de ecossistemas florestais degradados; estudos na área de invasão e contaminação biológica em ecossistemas florestais naturais; análise e monitoramento da qualidade da água em Bacias Hidrográficas; mapeamento da cobertura do solo e de recursos hídricos; avaliação de Impactos Ambientais e Gestão de Recursos Naturais.
Já na linha de pesquisa Silvicultura e Manejo Florestal foram realizadas pesquisas em Ciência do Solo aplicadas à Produção Florestal, enfocando as áreas de solos e nutrição florestal, conservação e manejo do solo, e microbiologia do solo em ecossistemas florestais; estudos nas áreas de silvicultura, produção e tecnologia de sementes florestais, viveiros florestais e fisiologia florestal; estudos do crescimento das espécies florestais, análise, prognose e ordenamento da produção, análise da dinâmica e estrutura de florestas nativas, manejo de nativas e exóticas, classificação de sítios florestais, legislação e políticas florestais, administração florestal, uso de geoprocessamento no ordenamento da produção florestal; mecanização, colheita e transporte Florestal; certificação florestal e políticas de responsabilidade social; análise de conflitos sócio-ambientais e de controvérsias técnicas, estudos relacionados à extensão florestal e comunidades afetadas por empreendimentos florestais.
Na Tecnologia e Gestão de Recursos Florestais, os temas de pesquisa foram voltados à qualificação e quantificação da matéria-prima madeira e produtos florestais, em seus aspectos anatômicos, físicos, mecânicos e químicos, visando à aplicação industrial na indústria de transformação e na construção civil; técnicas e equipamentos envolvidos nos processos da indústria de base florestal, de forma a melhor a eficiência e rendimento, com o intuito de alcançar a sustentabilidade social, econômica e ambiental; determinação da qualidade da madeira para diferentes usos industriais; biomassa florestal para a geração de energia e desenvolvimento de tecnologia e produtos de madeira na construção.
Ao longo da criação do Curso foram incorporadas novas áreas de pesquisa com inserção de novos docentes, e em área de grande interesse ambiental, social e econômico para todo Brasil, sobretudo para a região. Neste sentido, ao longo dos dois últimos períodos de avaliação (2014-2020) ingressaram no programa docentes em áreas como manejo e inventário florestal, economia e gestão florestal, restauração ambiental, agrossilvicultura, melhoramento florestal, produção de mudas, estradas, colheita e logística florestal, silvicultura e cofisiologia e sensoriamento remoto. O corpo docente passou de 15 professores (2012-2014) para 17 professores (2023).
Pôde-se perceber um processo de amadurecimento e evolução do corpo docente nestes dois últimos períodos de avaliação. Em função do Curso de Graduação em Engenharia Florestal ser relativamente recente (2004) na UDESC, houve um processo de estabelecimento do corpo docente do departamento somente depois dos anos 2010. Contudo, grande parte dos docentes eram recém doutores, e com média-baixa experiência em orientação, inclusive apontado pelo relatório de avaliação da CAPES (2013-2016).
Com o passar dos anos, o corpo docente adquiriu maturidade técnica, profissional, com avanços na área de ensino e pesquisa. O próprio Curso de Graduação em Engenharia florestal demostra isso pelas últimas quatro avaliações do ENADE, em que o Curso obteve consecutivamente nota 4,0, listado entre os 15 melhores cursos de graduação em Engenharia Florestal do Brasil.
Com a maturidade do corpo docente também houve um amadurecimento dos discentes, com ações como continuidade de pesquisas, sequência de projetos, grande incentivo de empresas à pesquisa, aprovação de editais de fundações de pesquisa, e outras ferramentas que tornaram as pesquisas mais aprofundadas com busca continua na geração de conhecimento e resolução de problemas locais e regionais.
Como descrito anteriormente, a região possui forte apelo florestal. Desta forma, cada vez aumenta mais a demanda por profissionais capacitados. Dentro deste contexto, o Mestrado em Engenharia Florestal tem tido grande importância, com formação de profissionais capacitados, preparados para os desafios e com aspecto inovador. E por isso, o programa possui forte reconhecimento social na região.
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