Equipe de produção visitou terra indígena
no último sábado - Fotos: Gustavo Vaz
Um projeto de cultura da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) produzirá neste ano um documentário curta-metragem sobre a história do povo Laklãnõ Xokleng, que habita atualmente a região do Alto Vale do Itajaí.
Desenvolvido pelo
Centro de Educação a Distância (Cead), o projeto Memória e Patrimônio Cultural do povo Laklãnõ Xokleng em Santa Catarina conta com recursos do edital Campus da Cultura, da Udesc, e terá como fio condutor a dissertação de mestrado da pesquisadora
Walderes Coctá Priprá.
Walderes concluiu seu mestrado na área de arqueologia em 2021, pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc).
Orientado pela professora Juliana Salles Machado, o estudo conquistou o Prêmio de Excelência em Mestrado 2021, concedido pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB).
Locais de memória
A dissertação "Lugares de acampamento e memória do povo Laklãnõ Xokleng, Santa Catarina" mapeou os locais de memória dessa população, que teve seus primeiros contatos com não indígenas no início do século 20.
Na Udesc Cead, o projeto de cultura foi proposto e é coordenado pela professora
Soeli Francisca Mazzini Monte Blanco e pela técnica
Maria Helena Tomaz, que são pesquisadoras vinculadas ao
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da universidade.
Criado em 2003, o Neab da Udesc visa, dentre suas finalidades, auxiliar na produção e na disseminação do conhecimento, por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, no desenvolvimento de políticas de diversidade étnicorracial, na promoção da igualdade e na valorização das populações de origem africana e indígena.
Visita de campo
No último sábado, 6, uma equipe do projeto de cultura visitou a Terra Indígena Laklãnõ Xokleng, situada na região entre os municípios José Boiteux, Doutor Pedrinho, Vitor Meirelles e Itaiópolis, onde a pesquisa de Walderes foi realizada.
Acompanhada de Walderes, a equipe fez uma série de visitas preparatórias às gravações, que serão realizadas em agosto.
Também acompanharam as atividades Jucelino de Almeida Filho e Fernando Xokleng, que atuarão na produção do documentário.
Primos e graduandos do curso de Jornalismo na Ufsc, eles trabalham com produção em vídeo. Em dezembro do ano passado, ambos tiveram dois projetos contemplados no Prêmio Catarinense de Cinema.
Pela Udesc Cead, participaram da viagem Maria Helena e os técnicos Gustavo Cabral Vaz (jornalista) e Gilberto Luiz Françosi (motorista). Também acompanhou as atividades a estudante Escaley Alves, do curso de Licenciatura em Teatro da Udesc Ceart, que atua como bolsista do projeto de cultura.
Aldeias
O roteiro incluiu algumas das dez aldeias da terra indígena (Bugio, Coqueiro, Figueira, Kóplág, Palmeiras, Pavão, Plipatól, Sede, Takaty e Toldo), que somam cerca de 2,8 mil residentes Laklãnõ Xokleng e Tupi-Guarani.
A equipe conheceu as escolas Vanhecu Patte e Laklãnõ e a Barragem Norte, dentre outras locações, e conversou com algumas das pessoas que serão entrevistadas.
Na produção, Walderes conversará com lideranças da comunidade, principalmente os anciões.
Definido a partir de rodas de conversas na aldeia, o projeto de mestrado de Walderes buscou registrar a história do povo Laklãnõ Xokleng a partir do mapeamento de locais de memória, como os acampamentos mais antigos e os que surgiram logo após o contato com os não-indígenas, em 1914.
A "pacificação"
Conhecido como “pacificação”, o contato, relacionado ao processo de colonização europeia, deu início a um período completamente diferente na história desse povo, que esteve presente há pelo menos cinco mil anos em uma vasta região do Sul do Brasil.
A dissertação de Walderes registrou os lugares históricos por meio de fotos, entrevistas com anciãos e sábios e visitas aos locais de acampamentos e cemitérios antigos.
Segundo Walderes, esse levantamento foi particularmente importante porque quase não há registros da história de seu povo antes do contato com os não-indígenas.
A histórica perseguição que se seguiu incluiu a violência sistemática, o confinamento territorial, a ocupação e, nos anos 1970, a construção da barragem, com todos os seus impactos à terra indígena.
Locações
A viagem de sábado permitiu à equipe do projeto cultural definir um cronograma e locações para as filmagens, além de conhecer melhor a realidade e a história da comunidade indígena local.
Na escola Vanhecu Patte, da aldeia Bugio, onde Walderes lecionou por 12 anos, os visitantes conheceram uma área externa, usada para atividades pedagógicas, onde foram construídas duas habitações tradicionais nos estilos Xokleng e Guarani (a escola tem crianças descendentes dos dois povos).
Outro local visitado foram as ruínas da Escola Indígena de Educação Básica Laklãnõ, inaugurada em 2004 e interditada pela Defesa Civil em 2015, devido ao colapso da estrutura causado pelo deslizamento do solo.
A terra indígena está situada ao longo dos rios Hercílio e Plate, que moldam um dos vales formadores da bacia do rio Itajaí-açu. A Barragem Norte, que represa o Rio Hercílio e tem impactos imensuráveis à comunidade local, foi construída a partir de 1972 para conter as enchentes nas cidades industriais do Baixo Vale do Itajaí, como Blumenau.
Sobre as pesquisadoras
Walderes tem graduação em Letras - Português/Espanhol e em Licenciatura Intercultural Indígena, mestrado em história e é doutoranda em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP), com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Sua tese, com o título "Território, Memória e História do Povo Laklãnõ no Alto e Médio Vale do Itajaí, Santa Catarina", é orientada pela professora Fabíola Andrea Silva, com coorientação de Juliana Machado.
Soeli Francisca integra o Departamento de Educação Científica e Tecnológica (Dect), da Udesc Cead, e é coordenadora do Mestrado Profissional em Educação Inclusiva em Rede (Profei) na universidade.
Maria Helena coordena o Neab da Udesc e o programa de extensão permanente Memorial Antonieta de Barros, é secretária de Pós-Graduação do centro de ensino e preside a Comissão de Ações Afirmativas e Diversidades (Caad).
Assessoria de Comunicação da Udesc Cead
Jornalista Gustavo Cabral Vaz
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