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Notícia

28/06/2024-11h36

Políticas e ações da Udesc Ceart promovem inclusão de pessoas trans na universidade

Reserva de vagas na pós-graduação, incorporação de questões de gênero nos currículos e oferta de atividades formativas estão entre as ações do centro.

Ceart iluminado com as cores da bandeira LGBTQIAPN+. Foto: Carolina Weber

*Matéria publicada em 30/01 e atualizada em 28/06/2024.


Incluir a população de transexuais, transgênero e travestis e combater a transfobia são compromissos do Centro de Artes, Design e Moda (Ceart) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), que busca garantir um ambiente universitário plural e diverso.

A seguir, conheça políticas e ações no âmbito do centro e da Udesc que buscam promover o ingresso, a permanência e o acolhimento de pessoas trans na universidade, além da perspectiva de estudantes sobre o tema.

Cotas na pós-graduação

A estudante Joanna Leoni iniciou o mestrado em Artes Visuais em 2023, mesmo ano em que as seleções de mestrado e doutorado passaram a ofertar cotas para pessoas trans conforme a Política de Ações Afirmativas da Pós-Graduação da Udesc Ceart (Resolução Conceart nº 009/2022). "Esse foi um dos atrativos do curso pra mim, pois acredito que quando a universidade pensa essas ações, pensa também em oferecer um lugar de acolhimento, de pertencimento", disse.

Construída com participação da comunidade acadêmica, a política prevê reserva de vagas nos processos seletivos e a concessão prioritária de bolsas para pessoas trans, além de negras, indígenas, com deficiência, quilombolas e pertencentes a outros grupos sociais historicamente oprimidos.

Antes dela, as cotas já existiam nas seleções dos PPGs, porém, de formas diferentes entre si. A diretora de Pesquisa e Pós-Graduação, Viviane Beineke, explica que o documento unificou essa questão e ampliou a oferta. "Após a resolução, houve um acréscimo na quantidade de vagas reservadas em todos os programas. E o maior avanço foi na categoria de cotas para pessoas trans, pois alguns ainda não a contemplavam. Isso dá visibilidade a essa discussão no centro", conta.

Outros editais voltados a estudantes de mestrado e doutorado lançados pelo centro também contam com ações afirmativas que incluem pessoas trans. É o caso das chamadas do Programa de Ações Afirmativas, Formação e Divulgação Científica na Pós-Graduação (PAAFI-PG) e do Programa de Internacionalização e Ações Afirmativas da Pós-Graduação (PIAA-PG). As iniciativas visam apoiar financeiramente discentes para a participação em eventos técnicos-científicos no Brasil e no exterior.

Ações formativas e de acolhimento

Por meio do Núcleo de Diversidades, Direitos Humanos e Ações Afirmativas (Nudha), a Udesc Ceart promove ações de acolhimento e de visibilização da cultura trans, atuando para a educação das relações de gênero e étnico-raciais no âmbito do centro. Além das funções de acompanhamento e fiscalização de direitos, ao longo do ano o órgão promove atividades (rodas de conversa, palestras, oficinas, espetáculos, etc) e produz materiais informativos, como este folheto.

A diretora-geral do centro, professora Daiane Dordete, destaca o papel do núcleo para atualizar o debate sobre as diversidades entre docentes, discentes e técnicos. "O Nudha tem sido um espaço importante de discussão, de diversidade epistemológica junto ao corpo estudantil e de professores e professoras para repensar os currículos, referências e discussões a partir de pensamentos que venham de outros grupos sociais além do nosso sistema eurocentrado", afirma.

No espaço físico da Udesc Ceart, a dirigente também aponta a preocupação em disponibilizar banheiros sem gênero nos prédios do centro como mais uma ação de acolhimento a pessoas transexuais, transgênero, travestis e não-binárias.

Questões de gênero no currículo

Realizadas simultaneamente nos últimos dois anos, as reformas nos Projetos Pedagógicos dos oito cursos de graduação da Udesc Ceart incluíram temáticas e bibliografias que contemplam questões da população trans relacionadas às Artes, ao Design e à Moda.

Em alguns cursos, as discussões aparecem em disciplinas específicas dos novos currículos com vigência a partir de 2024/1, como  "Teatro e Gênero", da Licenciatura em Artes Cênicas; e "Ensino das Artes Visuais e Interseccionalidades", da Licenciatura em Artes Visuais. Em outros, o conteúdo está contemplado de forma mais dispersa, conforme explica a diretora de Ensino de Graduação, professora Fátima Costa de Lima.

Questões de gênero também são contempladas no currículo da pós-graduação. Um exemplo são as disciplinas ofertadas pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas (PPGAC): “Introdução ao Teatro Femininista", "Fabulações Travestis sobre o Fim"  e "Voz, Gênero e Performance".

Uso do nome social

Para Joana Goulart, graduanda em Artes Visuais na Udesc Ceart, falar de visibilidade é falar de educação, especialmente para que pessoas cisgênero (aquelas que se identificam com o gênero de nascença) entendam questões que perpassam a vivência trans, incluindo os perigos e violências a que essa população está exposta. Dentro da sala de aula, ser chamado pelo "nome morto" ou pelo pronome incorreto é um exemplo de microagressão que estudantes trans podem sofrer.

O uso do nome social por pessoas transgênero, travestis e transexuais no ato de inscrição no vestibular e nos registros estudantis é um direito de toda a comunidade acadêmica da Udesc. A primeira resolução a tratar do tema foi publicada em 2014 e, atualmente, a questão é regulamentada pela resolução Consuni nº 070/2016. No ano passado, após atualização, o documento passou a garantir o uso do nome social também nos históricos escolares, certificados e diplomas, além de listas de divulgação de contemplados em bolsas, auxílios e editais.

Além do registro em documentos, Joana destaca que o uso do nome social deve ser garantido em todos os momentos. "Para manter o ambiente acadêmico cada vez mais acolhedor, é preciso que exista um preparo para professores e todas as pessoas que trabalham na universidade para que se respeite o nome social e os pronomes, e que se entenda a importância disso para nós e como é violento quando não é respeitado", disse a estudante.

Perspectivas para o futuro

Apesar dos avanços dos últimos anos na universidade, para a diretora-geral da Udesc Ceart, Daiane Dordete, ainda há muito a ser feito no combate aos preconceitos individuais, estruturais e institucionais para o pleno acolhimento de pessoas trans. Um exemplo é a necessidade da reserva de vagas também nos cursos de graduação e nos concursos públicos para servidores. "A universidade só se transforma efetivamente e só pode ter a cara da população quando essa população estiver aqui. Para isso, são necessárias mais ações afirmativas e políticas de permanência", afirma.

Para a mestranda Joanna Leoni, um futuro possível para as pessoas trans — dentro e fora da universidade — precisa ser construído coletivamente, com a cisgeneridade participando do debate. "Nós tivemos avanços, mas ainda são passos muito pequenos. Muitas vezes precisamos voltar à estaca zero", conta. "Se depender somente de nós chegarmos a lugares que ainda não estamos para pensar nosso lugar, não chegaremos tão cedo", complementa a estudante.

Coletiva Trans

Em 2023, um grupo de estudantes do Ceart fundou a Trama — Coletiva Trans da Udesc para reunir pessoas trans, travestis e não-binárias. Com encontros quinzenais às terças-feiras no deck do centro, a iniciativa tem como objetivo pensar ações e políticas de acesso e permanência para esses públicos na universidade e dialogar sobre estudos de gênero.

"A coletiva é feita por estudantes da graduação, da pós-graduação e servidories técniques de diversos centros da Udesc e membres da comunidade", explica Cae Linn Beck da Silva, mestrando em Artes Cênicas. Além das questões acadêmicas, o grupo também busca auxiliar os participantes em questões fora da universidade.

"A Trama tem desenvolvido um trabalho fundamental dentro da Udesc", conta Joanna Leoni. "Agora vinculada ao projeto de extensão Diálogos Recíprocos, do Nudha, diversas ações puderam ser desenvolvidas ao longo do último semestre. Estivemos presentes no 8M, onde a Trama colaborou na elaboração do manifesto Transformista, assinado por mais de 200 organizações pelo Brasil. Além disso, estamos participando da revisão da política de ações afirmativas da Udesc, no qual temos pautado cotas trans para todos os centros, graduação, pós graduação e concursos públicos", destaca a estudante.

Ações da coletiva podem ser acompanhadas pelo perfil da Trama no Instagram. O grupo também disponibiliza um formulário de cadastro para pessoas interessadas em participar do movimento.
 

Núcleo de Comunicação da Udesc Ceart
Texto por Carolina Weber Dall'Agnese
E-mail: comunicacao.ceart@udesc.br
Telefone: +55 (48) 3664-8350 

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galeria de imagens
  • Foto: Ceart iluminado com as cores da bandeira LGBTQIAPN+.
  • Uma das idealizadoras da Coletiva Trans, estudante Joanna Leoni iniciou o mestrado em Artes Visuais em 2023. Foto: Carolina Weber
  • Trama, a Coletiva Trans da Udesc, reúne pessoas trans, travestis e não-binárias para debater acesso e permanência na universidade. Foto: Luiza Vianna
 
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