Investigação teve início em 2019, com coordenação de professor
da Udesc Laguna. Foto: Christian da Silva
Um projeto coordenado pelo professor Christian da Silva, do Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Laguna, descobriu uma nova classificação taxonômica para a espécie Panicum venezuelae, uma gramínea de florestas secas.
Por meio do estudo da espécie em campo e nas coleções de herbários nacionais e internacionais, análises filogenéticas com sequências de DNA, entre outros proce dimentos metodológicos, a investigação conseguiu identificar que a planta, classificada até então como Panicum, na verdade pertencia a outra linhagem da família Poaceae, proposta no estudo como um novo gênero.
Conforme Christian da Silva, o estudo surgiu em 2019 com o propósito de investigar as relações filogenéticas de Panicum venezuelae na subfamília Panicoideae, grupo taxonômico em que a espécie está classificada, que também inclui espécies de importância econômica como o milho e a cana-de-açúcar.
“A proposta do novo gênero e a transferência dessa espécie para ele resolvem um problema taxonômico, pois atualmente apenas grupos monofiléticos são aceitos na classificação biológica”, explica o docente.
Segundo o pesquisador, como a espécie possui morfologia distinta e não foi recuperada entre espécies de outros gêneros, a equipe do projeto criou o gênero Drakkaria para a inclusão da gramínea. “Agora a espécie se chama Drakkaria venezuelae”, afirma.
Além da mudança na classificação biológica, a pesquisa fez outro avanço ao descobrir que a espécie é endêmica do bioma das florestas tropicais sazonalmente secas da região neotropical. “Esse bioma possui muitas espécies endêmicas, ou seja, que só ocorrem nele e em nenhum outro lugar do mundo, porém, é bastante ameaçado pelas atividades humanas e mudanças climáticas”, comenta Silva.
“Estudos como este são primordiais para um melhor entendimento sobre a diversidade biológica no nosso planeta, sobre a evolução das espécies, sobre a conservação das espécies e de seus habitats, e como fonte de dados úteis para ajudar na identificação dessa espécie em outros trabalhos científicos ou em atividades de licenciamento ambiental”, avalia o professor Christian da Silva.
Antes disso, as descober tas parciais foram compartilhadas com a comunidade nos Seminários de Iniciação Científica da Udesc de 2020 e 2021, no 71° Congresso Nacional de Botânica, em 2021, e na 7ª Conferência Internacional sobre Biologia Comparada de Monocotiledôneas em 2024, realizada em março na Costa Rica.
Durante o congresso na Costa Rica, o tema também foi debatido no simpósio “Advances in the taxonomy and phylogeny of Panicoideae (Poaceae)”, coordenado por Christian da Silva em parceria com o professor Cassiano A. D. Welker, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A participação contou com apoio financeiro via Programa de Auxílio à Participação em Eventos (Proeven), da Udesc.
A equipe do Laboratório de Botânica e do Herbário Anita Garibaldi da Udesc Laguna, coordenados pelo professor Christian, também produziu publicações para o Instagram (@labot.herbariolag) e um vídeo explicando o desenvolvimento da pesquisa, divulgado por meio do canal do YouTube (@labot.herbariolag). Assista ao final da notícia.
Apesar do término deste projeto, os pesquisadores já avaliam a realização de um novo estudo para compreender a origem e a diversificação de Drakkaria venezuelae usando datação molecular e filogeografia. “Isso permitiria entender quando e onde a espécie surgiu e como chegou à distribuição atual. Além disso, ajudaria no entendimento da evolução do bioma”, conta o professor.
Parceria internacional
Coordenado pelo professor da Udesc Laguna Christian da Silva, o projeto “Avanços na filogenia de Panicum L. (Poaceae, Panicoideae): resolução do posicionamento filogenético e taxonômico de P. venezuelae Hack” contou com a participaçã o da bolsista de iniciação científica e hoje egressa do curso de Ciências Biológicas, Júlia da Costa Hillmann.
A investigação teve ainda a colaboração da professora Reyjane Patrícia de Oliveira, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, e dos pesquisadores Juan Manuel Acosta e Fernando Omar Zuloaga, do Instituto de Botánica Darwinion, na Argentina.
Na Udesc, a iniciativa contou com bolsas de iniciação científica via Programa de Iniciação à Pesquisa (Pipes). Os colaboradores também receberam apoio financeiro por meio da UEFS, CNPq e agências de fomento da Argentina.
Assista ao vídeo
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