Elisa Miotto está fazendo intercâmbio na Universidade de
Tsinghua, em Pequim, na China - Foto: Arquivo pessoal
O grupo da aluna Elisa Miotto, do curso de Arquitetura e Urbanismo do
Centro de Educação Superior da Região Sul (Ceres), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Laguna, recebeu o prêmio de segundo lugar no concurso "Design of a Mobile Isolation, Diagnosis and/or Treatment Unit for Use in Ebola or Other Communicable Disease Epidemics", da
União Internacional de Arquitetos (UIA). O resultado foi divulgado no fim de maio.
Voltado para estudantes da área, o concurso teve, como objetivo, desenvolver uma unidade móvel de saúde para facilitar o diagnóstico, o isolamento e o tratamento de pessoas com ebola ou outras doenças infectocontagiosas.
Elisa, que faz intercâmbio na Escola de Arquitetura da Universidade de Tsinghua, uma das melhores da China, desenvolveu o
projeto "Treat" com os colegas Joanna Grocott, da Universidade Roger Willians, dos Estados Unidos, e Leonardo Venancio, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Como tema, o grupo de estudantes escolheu a cólera no Haiti, que é considerado o país mais pobre das Américas, com cerca de 80% das pessoas em situação de pobreza.
A situação do Haiti agravou-se ainda mais após o terremoto de 2010, que destruiu grande parte da infraestrutura e deixou milhares de mortos e feridos. O cenário caótico após o terremoto foi propício para o surgimento e a proliferação da epidemia de cólera, que se propagou e atingiu praticamente todo o território em poucos dias.
Cerca de 47% dos casos de cólera no mundo são diagnosticados no Haiti e a maior causa desse problema é a água contaminada, que é utilizada sem o devido tratamento, pois apenas 30% da população tem acesso à água potável e 27 % ao saneamento.
Sistema de tratamento de baixíssimo custo
Considerando que não basta apenas tratar os pacientes infectados, mas também a água para acabar com a epidemia, o projeto do grupo de Elisa buscou associar o design a essas duas necessidades, concebendo uma solução a longo prazo, dotada de sistema de tratamento químico e solar de baixíssimo custo, capaz de gerar cerca de 135 litros de água potável por dia em cada unidade.
No sistema, a água, coletada diretamente do rio ou poço artesiano, é levada para o filtro natural, composto por pedras, areia e carvão, no qual são eliminadas as impurezas, como odor, cor e sabor.
A água vai, em seguida, para o sistema de purificação solar no telhado, que usa raios UV para matar a matéria microbiológica. Após seis horas de exposição solar, ela fica pronta para o consumo.
Para esse sistema de purificação, o projeto aprimorou o método Sodis, que utiliza garrafas pets como recipientes para tirar proveito da inclinação do telhado, adaptando uma grande superfície metálica coberta com vidro, que funciona como uma "panela", o que acelera o processo e produz água potável em grande quantidade.
A proposta prevê ainda o tratamento das "águas cinzas" através do sistema de raízes e do tratamento do esgoto sanitário (sistema ecológico Soil), que, ao fim do processo, são transformadas em fertilizantes e podem ser destinadas para a produção de alimentos.
O projeto também priorizou a facilidade de montagem e transporte das unidades; o uso de materiais baratos e renováveis como o bambu devido à carência de recursos econômicos e naturais do Haiti; alternativas naturais para ventilação; e o uso de placas solares para produção de energia, tornando cada unidade independente.
O desenho e a distribuição simples facilitam a flexibilidade de funções. Quando for controlada a epidemia, as unidades poderão ser convertidas para novos usos, como residências para os desabrigados do terremoto de 2010, centros comunitários e escolas.
Trabalho de conclusão de curso
No seu trabalho de conclusão de curso na Udesc Laguna, Elisa está desenvolvendo um projeto sobre arquitetura sagrada, sob orientação do professor Douglas Heidtmann Junior.
A acadêmica apresentará uma proposta de complexo religioso para o Morro da Glória, em Laguna, mais especificadamente uma capela para Nossa Senhora da Glória e um museu de arte sacra.
O projeto pretende utilizar a cultura e o potencial religioso da área como estratégias para reativar o uso público do espaço e restabelecer o vínculo com a comunidade local.
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