Tecnologia para medição não invasiva de glicose está na sua 3ª
versão. Foto: Divulgação/ eGluco
Edith Rodrigues está entre os 10,2% da população brasileira que vive com diabetes, conforme dados da pesquisa Vigitel Brasil 2023. Todos os dias, para controlar o nível de glicose no sangue e evitar complicações causadas pela doença, a senhora de 82 anos precisa cuidar da alimentação e monitorar a glicemia por meio de uma picada no dedo da mão, técnica que considera incômoda. “Faço a medição há anos e já me acostumei, mas meu dedo fica dolorido, até hoje. Se tivesse como medir a glicose de outra forma, seria melhor”, destaca.
Foi pensando na qualidade de vida de Edith e dos mais de 20 milhões de pacientes que convivem com a doença no país que o professor da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Pedro Bertemes Filho, deu início a um projeto de pesquisa para a elaboração de um glicosímetro (como é chamado o aparelho aferidor da glicose) não invasivo.
Em 2016, o docente propôs ao engenheiro elétrico Sérgio Fernandez Santos a realização de um estudo para a elaboração de um dispositivo de medição. Sérgio aceitou o desafio, se mudou da Espanha ao Brasil para cursar mestrado no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica (PPGEEL), no
Centro de Ciências Tecnológicas (CCT), a Udesc Joinville, e criou o que viria a ser a primeira versão do eGluco (nome atribuído à invenção), um dispositivo que possibilitava medir a glicemia apenas com emissores de luz e eletrodos presos ao dedo indicador e conectados a um computador.
De lá para cá, o projeto evoluiu, ganhou atualizações e, em setembro deste ano, foi selecionado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (
Anvisa) para o projeto-piloto de avaliação regulatória de dispositivos médicos inovadores de interesse para os serviços de saúde no Brasil. O reconhecimento garantirá à iniciativa o apoio da agência para treinamento técnico, logístico e documental para avançar na sua comercialização no futuro.
O caráter inovador da ferramenta chamou a atenção da Anvisa e também da imprensa, que destacou pesquisa ao longo do mês de outubro. A pauta conquistou espaço em veículos do Estado e do país, incluindo EBC, NSC TV, Rádio CBN Florianópolis, G1 SC, ND+, Rádio Jovem Pan de Blumenau e Olhar Digital.
O
grupo de pesquisa Engenharia Biomédica (GEB), ao qual o eGluco está vinculado, trabalha atualmente para desenvolver a quarta versão do dispositivo (entenda a evolução da tecnologia na sequência) - um medidor sem fio em forma de relógio que será testado com mil voluntários nos próximos dois anos.
Os pesquisadores também estão em busca de investimentos para financiar a inovação. “A gente precisa que as empresas invistam na ideia”, pondera Bertemes. Até o momento, o projeto já recebeu aporte financeiro de aproximadamente R$ 600 mil por meio de chamadas da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado Santa Catarina (
Fapesc).
Evolução do dispositivo
"Começou com uma conexão bem improvisada, e a medição era com duas luzes, vermelha e infravermelha, e quatro eletrodos que ficavam no dedo indicador. Todo o circuito era externo e os testes foram feitos no próprio mestrando”, relembra o docente.
A tecnologia ganhou um
upgrade no modelo 2.0, desenvolvido na pesquisa de mestrado de Leonardo Teixeira, no PPGEEL. “A gente passou a contar com três luzes. Todo o circuito foi colocado em uma caixinha, presa ao antebraço, só que a conexão com o computador ainda era por fio”, explica o coordenador.
Logo depois, com recursos da Fapesc, o GEB conseguiu diminuir a parte eletrônica e criar uma tecnologia sem conexão com fio e com mais luzes – quatro no total. Também desenvolveram um aplicativo móvel para fazer a leitura dos dados e apresentá-los em tempo real ao usuário. Foi a partir dessa versão, a 3.0, que a equipe conquistou o apoio da Anvisa.
No
site do projeto é possível conferir um
dashboard em tempo real com os dados dos voluntários que já participam da pesquisa. A versão 3.0 está sendo testada com alguns voluntários no Hospital de Azambuja, localizado em Brusque, sob coordenação do médico hematologista Fábio Benedetti.
Agora os pesquisadores estão empenhados no desenvolvimento do eGluco 4.0, ainda mais moderno.
Versão 4.0
O modelo 4.0 do eGluco está em produção, mas a equipe já adianta as novidades. Serão seis luzes ao todo e as medições de glicose serão realizadas por meio de um relógio inteligente com tela, por onde o usuário poderá acompanhar os dados. O GlycoWatch também terá conexão com o aplicativo móvel para registro das informações.
A invenção ganhará mil unidades que serão testadas por pacientes com diabetes. Até então, o estudo contou com testes internos e no hospital de Brusque. De acordo com Pedro, a nova fase depende de aporte financeiro e deverá durar cerca de dois anos, período em que a equipe receberá o treinamento da Anvisa.
Para que o produto chegue ao consumidor, além dos testes para a validação da eficiência do dispositivo, são necessários outros processos, incluindo a aprovação da tecnologia pela Anvisa, Inmetro e Anatel e a venda dos direitos de produção ou da patente para uma ou mais empresas, que serão responsáveis pela produção e comercialização do relógio para o público final. A previsão é de que a chegada ao mercado ocorra em 2028.
“A contribuição para a sociedade é um monitor não invasivo, um relógio que você não precisa comprar sensores, que você vai usar para a vida toda. E para a Udesc vai ser garantia de recursos a partir da concessão do direito de produção ou da venda da patente”, ressalta o coordenador do projeto.
Segundo o professor, os valores poderão depois ser usados pela Udesc para investimentos em equipamentos, melhoria das instalações, bolsas de pesquisa e refinanciamento do próprio projeto.
“Podemos incorporar no relógio as novas tendências, novidades, outros sinais biomédicos, sensor de queda para idosos. Podemos também criar uma versão para pessoas com pré-diabetes. São inúmeras ideias para estarmos avançando. Não podemos parar”, idealiza Bertemes.
Testes e seleção de voluntários
Os mil relógios para medir a glicose sem necessidade de picar o dedo, ou implantar um sensor subcutâneo (outra forma de fazer a medição atualmente), serão testados por pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2. A distribuição será realizada por meio de uma rede de médicos endocrinologistas, que farão a entrega do dispositivo aos pacientes e acompanharão o processo.
Cada voluntário irá testar a inovação por 30 dias. Nesse período, ainda será necessário fazer a medição por meio do glicosímetro tradicional (com a picada no dedo), para que seja possível comparar os resultados e aferir a eficiência do eGluco.
As chamadas para participação devem ocorrer a partir de 2025, pelo
site da iniciativa,
redes sociais e canais de comunicação da Udesc.
Conheça a equipe
O desenvolvimento do eGluco conta com a dedicação de professores, pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação da Udesc. Depois que o projeto surgiu, três alunos de mestrado e uma estudante de doutorado realizaram seus estudos na área. Um grupo de cinco bolsistas de iniciação científica - quatro deles de Ciências da Computação - também colaborou para o avanço da investigação.
Atualmente, um aluno de doutorado se dedica à construção da nova versão do relógio GlycoWatch em 2025. Os professores do Departamento de Engenharia Elétrica da Udesc Joinville, Pedro Bertemes Filho, Aleksander Paterno e Fabrício Noveletto, e dois professores colaboradores da Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) e da Católica de Santa Catarina completam o time.
E ainda há espaço para novos estudantes e pesquisadores que desejam colaborar com a pesquisa. As informações sobre como integrar a equipe podem ser solicitadas por meio dos canais de contato disponíveis na
página do eGluco.
Quer saber mais sobre o eGluco? Entre em contato pelo site, e-mail
egluco.udesc@gmail.com, WhatsApp (49) 99959-9281 ou Instagram (
@egluco).
Assessoria de Comunicação da Udesc
Jornalista Tássia Becker Alexandre
E-mail: comunicacao@udesc.br
Telefone: (48) 3664-7934