Estudantes produziram conteúdos artísticos sobre
temas da disciplina - Imagem: Reprodução
Professoras e estudantes de uma disciplina do curso de graduação em Fisioterapia, do
Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), usaram a criatividade para concluir as atividades avaliativas do primeiro semestre letivo deste ano, afetado pela pandemia de Covid-19.
A experiência mobilizou a turma da sexta fase e fez parte da disciplina Fisioterapia Cardiorrespiratória na Saúde da Criança e do Adolescente, ministrada pelas professoras
Dayane Montemezzo (responsável pela parte teórica) e
Camila Isabel Santos Schivinski (parte prática).
Com aulas ministradas de forma não presencial desde junho, as docentes precisaram ajustar o plano de ensino e o cronograma das aulas para a nova situação.
"Começamos o semestre com ensino presencial, com aulas teóricas em sala de aula convencional, com quadro, retroprojetor, materiais e equipamentos utilizados na área de Fisioterapia Cardiorrespiratória para demonstrações, e finalizamos de forma remota. Foi um ajuste semanal das atividades, no qual foi necessário uma sincronia com a turma de alunos", afirma Dayane.
Avaliação teórica
Com isso, a avaliação teórica, que normalmente envolveria a aplicação de provas formais, foi substituída por "atividades de avaliação processual", como estudos dirigidos, lista de exercícios e um desafio pouco convencional: a produção de conteúdos artísticos ou culturais sobre temas relacionados à disciplina.
Divididos em grupos, os estudantes responderam ao desafio criando paródias de músicas e de jogos eletrônicos, jogos de tabuleiro e outras obras criativas, sobre seis temas relacionados à condições de saúde que ocorrem na infância e adolescência.
Os seis trabalhos elaborados abordaram: a pneumonia; o refluxo gastroesofágico, comum em crianças menores de dois anos; a bronquiolite; a síndrome do bebê chiador; a asma; e a fibrose cística.
As obras foram apresentadas para a turma e compartilhadas com as docentes por meio de plataformas como o YouTube e o TikTok.
Integração com pós-graduação
As professoras destacaram a importância da interação entre estudantes dos cursos de graduação e de pós-graduação em Fisioterapia da unidade, com a participação de mestrandas tanto na parte teórica quanto prática da disciplina.
A mestranda Thaine Garlet acompanhou a parte teórica da disciplina – a atividade, chamada "docência orientada", é requisito para obtenção do título de Mestre em Fisioterapia. As mestrandas Juliana Cardoso, Patricia Keil, Cristina Santos e Karoline Silveira também realizaram essa atividade, com a parte prática da disciplina.
No caso de Thaine, Dayane enalteceu particularmente sua contribuição na elaboração do processo de ensino. Segundo a professora, essa interação é uma vivência valiosa para a formação dos futuros mestres na área. "Os pós-graduandos participaram da disciplina como 'docentes' dos graduandos. Essa experiência de ensino remoto acaba sendo muito proveitosa para os futuros professores", afirma.
Depoimentos
Confira, a seguir, depoimentos da pós-graduanda Thaine e das graduandas Clarissa Volpato Sombrio Foschi e Ana Beatriz Alves de Oliveira Roque sobre a experiência.
"Participei da disciplina como meu estágio em docência no mestrado, que realizei com a professora Dayane. Ela sempre estimulou e incentivou minha participação na organização do cronograma, na elaboração das atividades que seriam sugeridas à turma e no meu relacionamento com os alunos. Estive envolvida na organização e na execução do checklist que tinha o objetivo de levantar dúvidas dos alunos em relação às aulas, no planejamento e na condução das atividades assíncronas e síncronas e na elaboração de estudos dirigidos e atividades avaliativas. As experiências que obtive foram sobre planejamento e condução de uma disciplina que iniciou presencial e precisou adaptar-se para aulas online.
Acredito que o principal desafio que foi conciliar as demandas da disciplina com a adaptação dos alunos ao momento e, também, a nossa adaptação - da professora, em dar aulas online de uma disciplina que sempre foi presencial, e minha, em estar no estágio em docência e vivenciar uma paralisação abrupta das aulas e retorno com aulas remotas.
O resultado foi super positivo. A professora Dayane sempre esteve aberta às minhas colocações e participar desse momento tão delicado, que foi aulas durante a pandemia, ao lado de uma professora experiente e receptiva, gerou vários momentos de grande aprendizado que levarei para toda a vida. Aprendi que escutar os alunos e suas particularidades faz toda a diferença no seu aprendizado, pude presenciar um ensino que desenvolve seu cronograma e atividades voltado às capacidades e necessidades do aluno."
- Thaine Garlet
“A princípio, a ideia de uma atividade avaliativa artístico cultural me pareceu fora de contexto, não consegui perceber que aquele seria um momento de diversão, aprendizado e de explorar novas habilidades ou aquelas 'escondidas' e pouco valorizadas na correria do dia a dia. Estamos tão acostumados com o padrão de avaliação que uma ideia inovadora assusta a princípio, mas tivemos sorte que a professora se agarrou à ideia, mesmo frente aos nossos questionamentos, e a levou adiante! Sem dúvida, a atividade foi trabalhosa, mas também muito prazerosa de ser elaborada. Alguns colegas exploraram a música (eu mesma descobri e compartilhei o amor pelo canto), a criatividade para elaboração de jogos e a atuação. Na luta por um ensino de qualidade, o aprendizado precisa ser desconstruído e reconstruído em conjunto entre professores e alunos, transformando o processo de ensino aprendizagem em algo leve e divertido.”
- Clarissa Volpato Sombrio Foschi
"De forma geral, o ensino superior brasileiro ainda funciona em um molde padronizado de aulas, todo conteúdo teórico é apresentado em aulas expositivas e, ao final de cada bloco de conteúdo, vem uma prova. A menor parte dos professores utilizam metodologias ativas como estratégia. O formato de avaliação não é diferente do ensino básico, mesmo em cursos mais práticos, como os da área da saúde. Ter contato com professores capazes de compreender o processo de aprendizado além do modelo tradicional e tratar o aluno como protagonista do próprio aprendizado é transformador.
Participar da disciplina de Fisioterapia Cardiorrespiratória na Saúde da Criança e do Adolescente foi fundamental no meu processo de amadurecimento como aluna, indo além dos aspectos teóricos que devem ser abordados no curso, pois permitiu que os alunos construíssem, junto com a professora, o formato das aulas e de avaliação, que contemplasse os desafios do ensino remoto e o plano de ensino. Poder opinar e contribuir é importante para alinhar alunos e professores, diminuir a ansiedade e preservar a saúde mental de todos. Além disso, na avaliação final que trouxe a proposta de atividades culturais, nos manifestamos artisticamente e trabalhamos em equipe de forma harmoniosa.
No contexto da pandemia, reformular o ensino e a avaliação foi um desafio. Cada colega de turma tinha uma realidade diferente, impactada pela pandemia. Colegas passaram a cuidar em tempo integral dos filhos, alguns começaram a trabalhar para ajudar as famílias que tiveram a renda comprometida pelo cenário atual (ainda que o curso de fisioterapia seja integral), além da conexão de internet de má qualidade que dificulta o processo de “fiscalização” da provas por vídeo, por exemplo. Em um cenário tão individual, como avaliar pessoas em contextos diferentes de forma justa? A formulação da disciplina com aluno e professora juntos permitiu que todos deixassem claro seu interesse e dedicação e expusessem suas dificuldades. Por isso a aplicação de provas mais flexíveis, com maior período para entrega e com atividades de aspecto lúdico incentivou os alunos e evitou a evasão.
Em resumo, o semestre remoto da sexta fase de fisioterapia na Udesc foi desafiador e produziu bons frutos, sem substituir o ensino presencial, e deixou uma lição clara: diálogo é a base de um ensino de qualidade."
- Ana Beatriz Alves de Oliveira Roque
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