Parte da equipe ao lado de um dos computadores utilizado na
pesquisa. Foto: Heloíse Guesser/ Secom Udesc
Em 2019, um derramamento de petróleo atingiu mais de 3 mil quilômetros da costa brasileira, comprometendo o trabalho de pescadores e gerando impactos ambientais em áreas do Nordeste e Sudeste do país. Para evitar que situações como essa voltem a se repetir, a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) se uniu à Petrobras em um projeto de pesquisa que investiga o destino do óleo em um possível vazamento, os efeitos na natureza e quais as melhores ferramentas para garantir o contingenciamento do vazamento, caso ele ocorra.
Por meio de modelagens numéricas, o “Subjet” avalia o desempenho de dispersantes químicos e mecânicos em simulações subaquáticas, estudando como o óleo é liberado, quais os seus impactos e como os dispersantes ajudam a controlá-lo. A investigação inclui a realização e acompanhamento de experimentos de dispersão de amostras de petróleo brasileiro por meio de diferentes métodos, comparando os resultados entre cada um para avaliar qual o mais adequado considerando o contexto do Brasil.
O professor da Udesc Balneário Camboriú e coordenador do projeto, Luiz Adolfo Hegele Jr., explica que o estudo pode colaborar para uma resposta rápida da indústria petrolífera se houver um derramamento de óleo em proporções não naturais. “A ideia é que a pesquisa não seja usada, mas ela é necessária para o estudo dos impactos ambientais no caso de um vazamento”, salienta. “Se ocorrer um acidente, vamos ser a equipe que vai saber qual medida de contenção a ser tomada para que o impacto seja o menor possível”, complementa.
O Subjet é desenvolvido no âmbito do
Geoenergia Lab e conta com a dedicação direta de 30 pessoas, entre professores, pesquisadores, estudantes bolsistas e estagiários do
Centro de Educação Superior da Foz do Itajaí (Cesfi), em Balneário Camboriú. Em breve, dois pós-doutorandos estrangeiros se unirão ao grupo para colaborar com as investigações.
A equipe combina os saberes de diferentes áreas, incluindo Engenharia de Petróleo, Engenharia Ambiental, Engenharia Química e Engenharia de Controle e Automação. “Cada um atende a sua frente de estudo, mas todo mundo troca ideia. A gente faz bastante reunião e discussão sobre o tema”, explica o pesquisador da iniciativa, Vinicius Czarnobay.
Com recursos de R$ 13 milhões, financiados pela Petrobrás através da Fundação Instituto Tecnológico de Joinville (
Fitej), a iniciativa tem ainda a colaboração do instituto norueguês
Sintef Ocean, contratado para a realização de experimentos específicos. Para Gustavo Trindade Choaire, pesquisador do Subjet, a parceria entre a Udesc e a indústria é positiva para todos. “A gente consegue ter uma resposta para a empresa e, ao mesmo tempo, a universidade consegue se desenvolver no meio científico, ter essa aproximação. Um processo que é bom para a universidade e para a empresa”, avalia.
O projeto teve início em 2023 e segue até maio de 2026. A fase atual é voltada à realização dos experimentos pelo Sintef Ocean, que irão gerar os dados necessários para as modelagens numéricas (
entenda todo o processo abaixo).
Na quinta-feira, 26 de setembro, os docentes da Udesc Luiz Hegele Jr. e Anibal Bonilla viajaram com representantes da Petrobras para a Noruega, onde debatem o andamento do projeto e acompanham os resultados preliminares da pesquisa com o instituto parceiro. Esta será a segunda visita dos pesquisadores da universidade ao país durante a investigação.
Impactos para a universidade e Santa Catarina
Para o professor Hegele, além de ajudar a evitar a extensão de danos causados por vazamentos de petróleo, o Subjet colabora ainda para o desenvolvimento da universidade e do Estado, gerando emprego e possibilitando que os profissionais graduados pela Udesc sigam em Santa Catarina desenvolvendo pesquisa. “Temos uma formação sólida para as pessoas na carreira da pesquisa aplicada. Esse é o principal ganho para a Udesc. Também temos muitas bolsas, o que ajuda na retenção dos alunos de graduação”, afirma o docente.
O investigador Vinicius Czarnobay, que é engenheiro de Petróleo egresso da Udesc Balneário Camboriú, considera que o projeto incentiva os alunos a seguirem seus estudos na universidade a partir da oferta de bolsas. “É importante para a permanência estudantil também. Graças ao projeto, conseguimos bolsa para estágio, para iniciação científica, mestrado, doutorado. Vamos contratar também pessoas de outros países que virão para a universidade contribuir. Então, para a universidade é um crescimento legal que o projeto proporciona”, avalia.
Segundo o engenheiro, o projeto apresenta, ainda, outro caminho para os profissionais graduados pelo centro de ensino, de seguir na área da pesquisa. “A gente é muito treinado para sonhar em ir para a indústria, de embarcar, ir para a plataforma, viajar o mundo todo. E daí chegou o momento em que eu percebi que aqui eu ia ter algo muito perto do que eu almejava para a minha vida, para a minha carreira, e está sendo muito legal, superou todas as expectativas”, conta Vinicius.
Como o projeto funciona
O Subjet combina modelagens teórica, numérica e experimental. As pesquisas são feitas considerando as características do petróleo brasileiro e as condições meteoceanográficas do país, incluindo corrente, temperatura da água, entre outros aspectos que podem influenciar nos efeitos do vazamento de óleo. Todas as simulações são desenvolvidas visando derramamentos subaquáticos em águas profundas.
Conforme Hegele, o petróleo é um produto natural e, por isso, é comum ocorrer derramamentos espontâneos na natureza. No entanto, esses vazamentos não possuem a mesma proporção que os acidentes comerciais. “Um dos nossos objetivos é ver também como o vazamento desse óleo possa ser mais facilmente biodegradável”, pontua.
As modelagens computacionais e numéricas realizadas pelos pesquisadores em Santa Catarina envolvem três escalas diferentes: a modelagem do jato, a modelagem da dispersão do fenômeno conhecido como “pluma” - considerada a mais desafiadora -, e a modelagem do espalhamento do petróleo no mar.
Para fazer as modelagens, a equipe utiliza softwares específicos, nos quais insere os dados gerados pelos experimentos desenvolvidos na Noruega. A etapa experimental ocorre na Europa em função de os equipamentos necessários para o estudo não estarem disponíveis no Brasil. No entanto, segundo o coorden ador da investigação, a expectativa é que ocorra uma transferência de tecnologia entre os países, com construção de um protótipo para as análises na Udesc Balneário Camboriú.
Os relatórios de desenvolvimento do projeto serão enviados periodicamente à Petrobras, divulgados em congressos acadêmicos e publicados em periódicos científicos, possibilitando o acesso da comunidade aos processos e resultados da investigação.
Para saber mais sobre o projeto, acesse a página do
Geoenergia Lab ou envie um e-mail para luiz.hegele@udesc.br
Assessoria de Comunicação da Udesc
Jornalista Tássia Becker Alexandre
E-mail: comunicacao@udesc.br
Telefone: (48) 3664-7934