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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Janeiro/2022)

A BNCC E A FORMAÇÃO CONTINUADA INSUFICIENTE NAS ESCOLAS

Escrito por Gilmar de Oliveira

O leitor deve estar assistindo e observando que praticamente todas as escolas particulares, nessa frenética busca por alunos, associam em seus anúncios as maravilhas de sua escola e dentre tantas palavras lindas, enfatizam investem em Educação Socioemocional. Na verdade, boa parte das escolas já possui, inclusive, uma disciplina específica de Educação Socioemocional na sua grade de disciplinas. Do ponto de vista da própria estrutura e planejamento da Educação, já reside um erro: ter uma disciplina própria, CHAMADA “SOCIOEMOCIONAL” é um erro crasso, pois estão deturpando o que diz a Base Nacional Comum Curricular, paenas para que a escola seja vista pelos pais-clientes como moderna e de acordo com o BNCC. É mais uma gavetinha (como separar História, Matemática, Ciências), uma mostra que a escola não possui uma visão correta de como trabalhar as disciplinas de forma interdisciplinar e que sequer está investindo no desenvolvimento de competências relacionais e emocionais inseridas na formação integral do aluno.

O aprendizado Socioemocional no contexto educacional exige, por si só, um planejamento bem estruturado com a equipe escolar, os alunos e suas famílias para o seu bom desenvolvimento. A aquisição de competências relacionais e emocionais é um dos desafios para se conseguir uma Educação de qualidade que torne o aluno um cidadão que consiga se inserir no mundo e ser protagonista de sua própria vida e de suas escolhas. As competências são capacidades individuais, que se manifestam no nosso modo de pensar, sentir e de nos comportarmos. São habilidades e atitudes para se relacionar bem consigo mesmo e com os outros, sabendo tomar decisões e enfrentar situações adversas. Caminham inseridas em cada conteúdo e cada reflexão dos assuntos trabalhados e debatidos nas escolas. Não, caro conservador, as escolas precisam ir muito alé, de apenas ensinar a ler, fazer contas e decorar tabela periódica ou tabuada.

Essa é a ideia central da BNCC – Base Nacional Comum Curricular, ao indicar um currículo com ideias para o planejamento de projetos ou programas voltados para a Educação Socioemocional nas escolas.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é um documento muito importante e necessário para a qualidade da Educação, uma vez que direciona os currículos escolares para garantir o direito de uma aprendizagem mínima que os estudantes devem usufruir. Assim, dirigindo os conteúdos que devem ser ministrados e enfatizando que a Educação precisa passar pelo viés socioemocional, temos a chance de poder desenvolver formas de ser e de conviver que façam a diferença na construção de uma sociedade mais equilibrada, mais crítica, mais justa. A Base tem uma diretriz de organização das metas de aprendizagem, que inclui as competências socioemocionais na Educação. Todas as instituições de ensino brasileiras devem estar de acordo com elas. Maaasss... a questão é como formar os profissionais para aplicar estas competências socioemocionais, não as separar das demais disciplinas e integrá-las com a vida dos alunos.

Para isso, os professores devem receber uma formação sólida no assunto, de forma a planejar suas aulas de acordo com o currículo das disciplinas trazendo as questões emocionais e vivenciais para cada tema, conforme a proposta da BNCC. É aí que mora o problema. No Brasil, a formação sólida para professores, após saírem das universidades, só acontece – e olhe lá – se o próprio professor procura bons cursos e paga do seu bolso por eles. As escolas públicas dependem dos esquemas de acertos com fundações e institutos, muitos deles intermediados por laranjas e atravessadores que cobram o dobro do que a fundação cobraria. Mas esses atravessadores são, em sua maioria, amigos dos políticos que os contratam. E os cursos são fracos, desinteressantes, fora do contexto e em nada preparam professores para didáticas mais interessantes e muito menos para se trabalhar habilidades emocionais, autoconhecimento ou o que quer que seja.

Portanto, a questão principal é que a capacitação docente e a formação continuada para educadores (professores, especialistas e todos os atores da cena escolar) é muito incipiente, insuficiente e aquém das necessidades de formação e atualização que o mundo moderno exige. Seja para determinar quais conteúdos e com quais padrões didáticos estes conteúdos serão trabalhados com os alunos, seja na capacitação para que a Educação socioemocional, os professores e especialistas encontram-se abandonados. As prefeituras, os estados, as direções e mantenedoras das escolas particulares simplesmente ignoram que capacitar é elevar a qualidade da Educação, é conter gastos, é gerar qualidade de vida, não apenas números em cursos faz-de-conta.

Imagine se todos os professores e especialistas soubessem trabalhar com computadores, programas e aplicativos para slides, para vídeos, para usar a tecnologia a serviço da Educação, a pandemia não teria afetado tanto. Ainda assim, nossos educadores foram heróis, porque foram treinando e se capacitando por si só, foram se reinventando e investindo do próprio bolso para dar conta de assimilar novos saberes tecnológicos que salvaram uma aprendizagem mínima a nossos filhos. Temos de aprender a lição. Capacitar para a tecnologia e inovação, capacitar para o trabalho de desenvolvimento emocional, trabalhar para a interdisciplinaridade e tudo o que preconiza a BNCC; mas antes de tudo: capacitar nossos educadores com qualidade e muito menos “finjo-que ensino-e-você finge que aprende”.

 
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