Escrito por Gilmar de Oliveira
As modalidades de aprendizagem e de ensinagem são as maneiras particulares de cada um se aproximar do conhecimento, bem como ao ato de dar forma ao seu saber.
Trata-se de uma matriz que vai sendo utilizada nas diferentes situações de aprendizagem. Podem ser observadas semelhanças entre a modalidade de aprendizagem, a modalidade sexual e a modalidade da pessoa buscar o alimento e o dinheiro, porque todas elas são maneiras diferentes do desejo de possessão de um objeto, de obtenção de domínio, de saberes e de se apropriar de forma prazerosa do conhecimento.
A origem das modalidades de aprendizagem de uma criança é a família onde ela se insere, mas sabemos que, a cada dia, a institucionalização de crianças ainda na idade correspondente ao estágio sensório-motor traz consequências positivas na estimulação cognitiva, mesmo com prejuízos ao desenvolvimento cognitivo, pois por mais afetiva que uma atendente de berçário seja, não toma o lugar – e nem se propõe a isso – das figuras paterna e materna. Assim, além da estimulação positiva ou negativa que favorece ou dificulta a aprendizagem do meio, conforme Alícia Fernandez explica, cada pessoa, com as suas particularidades que constituem sua personalidade e sua relação com o mundo, desenvolve sua modalidade de aprendizagem específica. O espaço de relação das famílias é onde se constrói as modalidades de aprendizagem. Numa família, que não autoriza a diferença e o pensamento, encontramos a diferença significada como deficiência, a escolha culpabilizada como ataque (como se pensar diferente fosse uma afronta, um ataque) ao outro e a circulação de conhecimento fragmentada, com pouca mobilidade.
Nas famílias saudáveis se encontra a possibilidade e o entusiasmo na confrontação de ideias. A facilidade do acesso a pensar do seu próprio modo, a descobrir o mundo e explorar possibilidades caracteriza maior capacidade de lidar com os objetos, com pessoas e explorar o conhecimento como forma de estímulo à maturidade das estruturas cognitivas. Portanto, com maior facilidade de explorar o meio, de gerar conhecimento ou estagnar o potencial de exploração que estimula o cérebro da criança, no auge de sua plasticidade cerebral, a desenvolver a inteligência, o gosto pelo novo, a curiosidade e a busca por respostas frente às suas dúvidas. A seguir, um resumo das características de cada modalidade de aprendizagem que uma pessoa pode apresentar:
Aprendizagem Hipoassimilativa: Neta modalidade, em geral, a criança é muito tímida, quase não fala, não explora os objetos na mesa, costuma querer ficar numa mesma atividade. Pobreza de contato com o objeto, esquemas de objetos empobrecidos, dificuldade de lidar com o lúdico criativo e prejuízo na energia transformativa de criação.
Aprendizagem Hiperassimilativa: A criança traz vários assuntos enquanto realiza a atividade; conversa, pergunta, questiona, mas não costuma ouvir, porque já está formulando outra pergunta. Prende-se a detalhes e não observa o todo. Precocidade na internalização dos esquemas representativos, predomínio do lúdico, subjetivação excessiva, resistência aos limites e dificuldade para resignar-se.
Aprendizagem Hipoacomodativa: Nesta modalidade, o aprendente apresenta dificuldade em estabelecer vínculos emocionais e cognitivos. Pode ser confundida com uma pessoa preguiçosa. Não explora muito os objetos, como se lhe machucassem. Em geral, fica só em uma atividade. Reduzido contato com o objeto, falta de ritmo, dificuldade na internalização de imagens, déficit na representação simbólica e não gosta de repetir, de refazer. Pode acontecer quando a criança teve pouca estimulação e/ ou foi abandonada. O sujeito fica entediado e “esquece” que tem desejos de conhecer e que pode escolher os objetos que deseja conhecer.
Aprendizagem Hiperacomodativa: Tem dificuldade de criar, prefere copiar, repete o que aprende sem questionar, sem investigar, é obediente, submissa, aceita tudo. Superestimação da imitação, reduzido contato com a subjetividade, falta de iniciativa, pobreza de contato com a subjetividade, superestimulação da imitação, obediência acrítica, submissão.
Como o tratamento "corretor" do psicopedagogo é através da ludoterapia (jogos e brincadeiras), a percepção das modalidades de aprendizagem é de extrema relevância, pois este conhecimento é que orientará a utilização dos materiais compatíveis com a forma de aprender, facilitando a orientação da prática de uma forma de ensino adequada a sua modalidade na escola e em casa, bem como no ambiente clínico onde reabilita sua aprendizagem (consultório de psicopedagogia).
Na construção das soluções para as dificuldades de aprendizagem com base nas modalidades de aprendizagem, podemos prevenir, observar, diagnosticar, curados a partir dos dois atores e do vínculo que se forma entre eles: psicopedagogo e aprendente.
Diagnosticar é aprender um pouco mais a cada dia, é mergulhar nos processos cognitivos do aprendente, levando em conta toda a sua estrutura biopsicossocial e conhecendo a modalidade de aprendizagem predominante que lhe é característica. Assim podemos instrumentalizar a escola e a família e dar condições do aprendente ser respeitado na sua forma de aprender e a lidar com o conhecimento. Mais que ensinar: saber ensinar; mais que aprender; saber como se aprende!