Escrito por Gilmar de Oliveira
Enquanto pai de 3 adolescentes (um rapaz de 18 anos na faculdade e duas adolescentes, de 14 anos, no 9o ano e de 17, no 2o ano), vejo que as aulas remotas trouxeram um pouco da escola, pelo menos em questão de conteúdos, para dentro de casa, pois pude acompanhar algumas falas e cenas das aulas.
Não sei se era ético ou não, mas a gente circula pela casa e ouve, nas manhãs, uns trechos, algumas falas dos professores e dos alunos... mas, ao mesmo tempo, vi questionamentos de meus filhos, participações deles e o empenho em prestar atenção, resolver exercícios e vencer a preguiça e a didática de alguns professores.
Mas, ops... estou aqui como pai, não como educador.
Também surgiram dúvidas, no início das aulas remotas, sobre a qualidade e o tempo perdido, o aproveitamento de cada conteúdo.
Com o tempo, senti adaptação e até dias onde um ou outro filho sentia desinteresse pela aula, se dispersava com facilidade, ou simplesmente cortava a imagem e dormia. Como esta situação aconteceu aos milhares, as escolas proibiram os alunos de fechar a janela. Outras, fazem de conta que nada sabem.
Meu filho, estudante do curso de Ciência da Computação, tinha disciplinas em EaD, mas é uma modalidade diferente do ensino remoto. Ainda assim, se adaptou rapidamente, mas sentiu falta de maiores explicações e das aulas de laboratório, que ele fazia nas tardes. Percebi que ele perdeu a interação com os colegas, pois esse entrosamento é uma das coisas mais legais que surgem quando a pessoa entra na faculdade.
Tivemos de comprar um computador mais potente para ele trabalhar sistemas e programas. Minha dúvida é: como ficam estudantes que não possuem as mesmas condições? A maioria dos brasileiros não possui condições financeiras de ter um acesso à internet com alta velocidade, ou a chance de ter um computador com maior processamento ou até mesmo um celular que suporte o volume de dados, seja de uma aula de faculdade de computação, seja do Joãozinho lá da periferia em sua aula do 6o ano.
Minha filha de 17 anos sentiu dificuldades em tirar dúvidas, teve poucas dificuldades em aprender, usou bem os links e as plataformas de exercícios, mas as dicas e macetes para o ENEM ela percebeu que são mais eficazes pessoalmente.
Não vi problemas de adaptação, mas vi que a interação fez falta. Mas como as avaliações vieram diferentes, houve rápida adaptação e suas notas subiram.
Já a minha caçula, de 14 anos, sempre a melhor aluna da sua classe, notou a necessidade de estudar mais à tarde, sozinha, pesquisando na internet e vendo vídeo-aulas. Assiste, participa e entende bem os conteúdos, mas notei dificuldades na interação, na participação e até em seu empenho na aula remota, deixando para aprender e fixar melhor o conteúdo sozinha, pela internet, com suas pesquisas.
A conversa escola ficou mais presente na mesa do jantar. Pude ver como lidaram com as reclamações contra as aulas fracas e dificuldades que perceberam no novo professor de inglês e senti orgulho dessa autonomia, da maturidade para lidarem com esta delicada situação.
Em geral, boa adaptação, mas nada substitui a aula presencial. O tempo de aula é curto para o grande volume de conteúdos, mas esta é a alternativa mais viável para a Educação continuar a ser o alicerce de nossa sociedade.
Quanto à aprendizagem, continua igual: não sejamos hipócritas: a imensa maioria dos assuntos estudados são esquecidos poucos meses ou mesmo dias após a avaliação sobre o tema.
Para o ENEM e para agregar novos saberes a estes assuntos em cada disciplina, faz-se necessária revisão e nova gama de exercícios.
Portanto, no quesito aprendizagem, com conteúdos tão mortos e longe do dia-a-dia da vida das pessoas, o ensino remoto não mudou quase nada na vida dos alunos. Afinal, praticamente nada aprendemos desses conteúdos para a vida. Servem apenas para responder às provas, infelizmente.
Com a palavra a mãe e Orientadora Pedagógica Sandra Petry
Posso relatar duas versões referente ao ensino remoto:
Primeiro como mãe, que vi e acompanhei meus 3 filhos adolescentes se esforçando para conseguir conciliar as aulas desta maneira, que exigiu uma mudança brusca de rotina sem oferecer adaptação:
Todos, no início - tanto meus filhos quanto a escola tiveram que se adaptar à nova realidade, que ninguém imaginava que demoraria tanto tempo.
No início houve certo tumulto, preocupação em acompanhar esta nova realidade, tanto da escola quanto dos alunos.
Mas aos poucos tudo se encaixou e as aulas foram fluindo. Como o principal objetivo de uma aula remota é a interação entre a turma (alunos e professores) em tempo real e todo o processo de ensino e aprendizagem para a casa demanda autonomia e disciplina com horários, os alunos procuraram se organizar mais, conversaram mais e interagiram de forma a entregar as atividades e tarefas dentro do prazo.
Como cada um estava em casa, sentiram-se à vontade para pesquisar cada atividade, inclusive as avaliativas, o que ofereceu a cada um a segurança do acerto. Pesquisando, foram a várias fontes, o que demandou leitura, comparação de textos, compilação de informações... e APRENDIZAGEM.
Minha esperança é que as escolas tornem-se menos rígidas e sigam o seu real objetivo: proporcionar aprendizado - e não “decorebas”, que logo são esquecidas.
Como tudo tem dois lados, ficou faltando a interação, a conversa pessoal, o encontro presencial entre eles. Mas acredito que podem tirar uma boa experiência para quando tudo voltar.
Segundo, como orientadora escolar e psicopedagoga: trabalho em escola de periferia e a grande maioria dos alunos não conseguiram acompanhar as aulas: uns não tem celular, outros não tem internet, outros moram longe para buscar as atividades em papel, pois os pais trabalham durante o dia.
Para estes, o ensino se “perdeu”, será necessário buscar outra forma de alcançar estes alunos e oferecer a oportunidade da aprendizagem.
Com a palavra os estudantes
Bella Petry, 14 anos, 9o ano do Ensino Fundamental, colégio Século, João Pessoa-PB
Agora o uniforme pode facilmente ser trocado por pijama, as salas lotadas e barulhentas agora se resumem a um aparelho eletrônico e fones de ouvido. A caneta muitas vezes não encontra mais o papel. As cadeiras desconfortáveis deram lugar aos sofás, redes e até camas.
Mas o método de ensino, por sua vez, mesmo que de forma diferente, tem sido o mesmo. E às vezes até mais compreensivo, como deveria ser no princípio.
Uma coisa que as aulas remotas provaram é que para testar os conhecimentos do aluno, não é necessário uma prova sem direito à consulta. Pelo contrário!
As escolas estão treinando os alunos para um lugar que já ficou no passado, ignorando toda a acessibilidade que temos em pesquisa e cálculos. Pude observar que todas as notas subiram com o início das provas com consulta e, querendo ou não, o aluno aprende sempre que pesquisa e/ ou discute alguma questão com os colegas.
Afinal, o ser humano deveria ser treinado para uma vida em conjunto e para o futuro, e não para o passado — onde a pesquisa e o acesso à informação são restritos.—
Há quem diga que foi prejudicial, mas em minha opinião foi benéfico: mostrou um caminho ao futuro, onde sempre conseguimos uma saída para os problemas com soluções criativas.
Louise Petry de Oliveira, 17 anos, 2o ano do EM, Colégio Século
A educação remota é novidade para muitos estudantes, principalmente para os de ensino fundamental e médio.
Com ela vieram soluções de problemas que nunca imaginamos passar, mas também acarretou os problemas por sí própria.
Ouvi muitos relatos de amigos e a maioria se queixa do excesso de atividades e exercícios que são passados diariamente, fazendo com que a saúde mental — e às vezes até física — fosse prejudicada. A sobrecarga prejudica muito a capacidade de foco e qualidade de realização dos trabalhos que antes pareceriam normais.
Bruno Petry de Oliveira, 18 anos, estudante do 1o ano de Ciência da Computação, no UNIPÊ, João Pessoa (PB)
Uma das maiores problemáticas do ensino remoto tem sido o excesso de atividades, excesso de distrações e principalmente a ausência de atenção como era dada pessoalmente.
É importante levar em consideração, que em muitas casas, é comum a falta de um ambiente de estudos adequado ou até mesmo a falta de acesso.
Independente de todos os fatores já citados, a conexão instável em nosso país é de longe a maior problemática, pois as operadoras não são obrigadas por lei a oferecer 100% do serviço contratado.