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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Novembro/2020)

O IDEB, PEDRO, MARIA E O JOÃOZINHO

Escrito por Gilmar de Oliveira

O IDEB (Índice de desenvolvimento da Educação Básica) de 2019 saiu neste mês de setembro. O índice, mais uma vez, mostra a ineficiência do governo federal em coordenar uma frente nacional, com parâmetros de qualidade definidos acima das metas do IDEB, para que estados e municípios possam estruturar formas eficazes de ensino e de aprendizagem e alavancar a qualidade da Educação em nosso país.

Sem um padrão melhor de escolarização, não há riqueza que faça o país crescer de forma justa. Não se retira milhões de pessoas da pobreza sem qualidade de ensino. Principalmente porque a imensa maioria dos quase 6 mil municípios brasileiros não tem a mínima ideia do que seja Educação com qualidade.

Há secretários de educação que mal sabem escrever ou pensar de forma mais profunda. São apadrinhados políticos que usam a Educação para empregar cabos eleitorais, desviar dinheiro público e infernizar adversários.

E o que tem a ver o Joãozinho lá do título com o IDEB? Ainda nada. Quando um IDEB é baixo e não sobe, precisa-se identificar o que está ocorrendo, entender as causas do baixo desempenho dos alunos e combatê-las.

Mas, inequivocamente, é a mantenedora quem deveria, antes mesmo da avaliação do IDEB, ter atacado os fatores que comprometem a aprendizagem do aluno.

É de responsabilidade da mantenedora, no caso das escolas públicas, a prefeitura ou a Coordenadoria de Educação da região (no caso da Rede Estadual), ou mesmo a Secretaria Estadual de Educação.

Na rede particular, a escola deve verificar qual fator está prejudicando o desempenho, ou a mantenedora intervém e demite coordenação, professores, troca o fornecedor de material didático ou os pais fogem e a escola fecha.

Não falo em culpados pelos erros grosseiros de gestores ineptos na educação pública, mas os responsáveis que devem investigar as causas são, pela ordem: Secretaria de Educação, direção, equipe pedagógica e professores.

Num país como o nosso, onde a educação escolar foi negligenciada, não se pode culpar as vítimas, que são as famílias e os alunos. E estes responsáveis que devem investigar causas de baixo rendimento são os mesmos profissionais que devem ser cobrados por toda a comunidade escolar, a começar pelos pais e pela população.

Isso porque para se diagnosticar as causas de baixo rendimento em provas de avaliação geral de aprendizagem, o diagnóstico inicia da macro para a micro estrutura: a mantenedora tem dado a devida estrutura à escola?

Ou seja: a escola tem boa estrutura física, de paredes a bebedouros, de quadros sem reflexo a salas ventiladas ou climatizadas? A iluminação, a acústica, o espaçamento são adequados? Há quadras, espaço para professores, laboratórios, biblioteca, sala de informática, auditório, acesso à internet e materiais didáticos à disposição?

Há limpeza rigorosa de banheiros (ligado a fatores como autoestima e modelos de conduta), merenda saudável, segurança nas portas das escolas? Qualquer uma dessas perguntas, respondidas com um NÃO, em algum desses itens citados, já é fator que interfere na aprendizagem e aponta que a macro estrutura que mantém a escola está falhando.

Mas vamos a outros pontos que compõem a qualidade do ensino e que o IDEB mede, indiretamente: os professores são capacitados com cursos que realmente fazem a diferença? Ou aparecem uma vez ao ano essas formações online de fundações de empresas (Itaú, Vivo, Senna), ou nem isso? Os professores são reunidos por disciplinas ou áreas e possuem, semanalmente, supervisão de ensino com especialistas? A escola conta com psicólogos escolares e assistentes sociais?

É feito o mapeamento das condições sociais e econômicas de cada família? E com estes dados, são tomadas as devidas providências? A escola possui projetos interdisciplinares que envolvem várias áreas e contato com a realidade local e regional? As aulas e atividades possuem ao menos metade do tempo com atividades online ou em laboratórios? Há projetos com palestras de profissionais para falar de empregabilidade e profissões (para os alunos terem referências e sonharem com um futuro através da escola), planejamento familiar e orientação sobre sexualidade sadia e segura, livre de preconceitos?

Se meia pergunta dessas acima tiver um mísero não, a escola está falhando e está atrasada na formação do futuro. O que questionei acima é o que deve existir de base mínima em cada escola para a boa aprendizagem, se o país quiser ter um futuro básico, nada muito além do trivial.

Além, claro, da estrutura completa de inclusão de alunos com transtornos de aprendizagem ou do desenvolvimento e os devidos acompanhamentos. É o mínimo. Sem contar que as aulas precisam de contextos práticos e reais, para dar sentido e atrair o interesse.

O Joãozinho do título não nasceu ainda. Ele será filho do Pedro e da Maria, alunos de uma periferia de sua cidade. Nascerá daqui a 12 anos, numa casa simples, mas própria que seus pais estarão pagando. Joãozinho foi planejado, terá creche e assistência médica, os pais são tecnólogos e estão empregados. Estes pais jovens vieram de famílias simples e pobres de pais adolescentes, que abandonaram a escola e vivem de subemprego.

Na escola de hoje, onde atualmente são alunos do 7º ano (e sequer sabem que estou descrevendo o futuro deles), tem estrutura para pensarem no futuro. Terão base para construir um condição diferente da vida sofrida que seus pais levam hoje em dia e Joãozinho terá um futuro melhor.

Mas só se a estrutura da escola melhorar (e refletir na elevação da nota do IDEB), pois o desempenho dos alunos e o interesse em caprichar nas provas tiver algum sentido. Somente se a escola for completa e o estudo representar preparo para que o jovem possa pensar de forma autônoma.

Pedro e Maria, hoje dois adolescentes, precisam que você leitor, cobre seus candidatos e nossos governantes para que a estrutura que forma um bom desempenho nas avaliações do governo e do dia-a-dia escolar seja item obrigatório em cada sala de aula. Sua cobrança aos políticos decidirá como Pedro e Maria criarão o Joãozinho.

 
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