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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Setembro/2020)

PSICOLOGIA ESCOLAR! Uma conquista, mas com estrutura e valorização - Parte 2

Escrito por Gilmar de Oliveira

Parte 2 – Minha Experiência Inicial –   De Santa Catarina à Paraíba

 

Continuo, neste mês, a descrever as impressões de ser psicólogo escolar na Rede Pública Municipal, atuando dentro de uma escola da periferia de João Pessoa, contrastando com a atuação que tive nos 17 anos iniciais de carreira, na mesma área, mas em escolas particulares, como Consultor em Psicologia Escolar. No mês passado, apresentei aos leitores um pouco da minha experiência como pai de aluno de escola pública (por 2 meses) e como psicólogo escolar efetivo e como foi a minha chegada à Rede Pública, agora como profissional concursado.

Sempre trabalhei como psicólogo consultor institucional, paralelamente à minha função de psicoterapeuta e neuropsicólogo, chamado para trabalhar em escolas particulares e nas redes municipais e estaduais pelos próprios gestores municipais, sendo remunerado, contando com recursos e apoio e não tendo relação contínua e efetiva com a comunidade escolar.

A realidade era outra! Agora, me vejo sendo um psicólogo escolar, de uma cidade grande e até certo ponto, bem organizada e que investiu na Educação e na melhoria salarial dos profissionais da área, mas com muitas mazelas políticas e sociais, muitos cargos desnecessários de favores políticos dentro das unidades. Mesmo com minhas reservas a baixar minha empolgação, foi assim que assumi a vaga no serviço público.

Uma realidade que se provou muito distante daqueles sonhos de estudante ou do profissional idealista, que escrevia artigos a partir de experiências específicas e de uma atuação bem estruturada, sob demanda, que até então treinava professores das redes públicas, mas não vivenciava o interior destas escolas. Era impensável haver a presença do psicólogo escolar e não haver estrutura de trabalho. Para mim, tudo era invisível nas escolas onde prestava consultoria: era entrar, analisar, diagnosticar, propor mudanças, implantar inovações, treinar profissionais e partir para outra escola. Não via o caos que seria se eu não dispusesse dos devidos equipamentos e recursos.

Em poucas horas, no meu primeiro dia como servidor público, no cargo e função de psicólogo escolar, comecei a constatar que não basta apenas ter os profissionais e pagar a estes um valor justo: é necessário apoio de equipamento, cursos, diálogos com os pares de outras escolas, com outros profissionais, consciência da função, um espaço adequado. Por mais boa vontade que meus diretores tivessem, a situação de falta de estrutura estava além do alcance da comunidade escolar.

Comecei a entender que a burocracia e a falta de conhecimento das equipes que gerenciam a Educação é crucial para a existência de lacunas que prejudicam o desempenho das boas práticas educacionais ou para a realização de um trabalho eficaz que venha a gerar avanços na qualidade do ensino e na harmonia das relações dentro do ambiente escolar.

Mas esse desconhecimento não é a única causa: a falta de diálogo na construção do orçamento da Educação, a pouca ou nenhuma representatividade de psicólogos escolares em cargos de planejamento da Educação, a ausência do apoio necessário vindo de cada Conselho Regional, que poderia fiscalizar a atuação, orientar, denunciar a falta de estrutura (como os conselhos de Medicina, Enfermagem, Odontologia e a Ordem dos Advogados atuam quando seus profissionais encontram adversidades) e tantas omissões sistêmicas fazem com que a maioria dos municípios não encontrem razões para contratar estes profissionais.

Não há, no atual modelo de gestão da Educação, em estados e municípios, possibilidades de que se venha a ter melhorias com a implantação do projeto (recentemente aprovado) que determina que escolas públicas de todo o Brasil tenham psicólogos e psicólogas escolares nas unidades de ensino. Ou se modifica a forma de gerenciamento de verbas e de políticas públicas, do micro para o macro, ou nem com um milhão de profissionais de todas as áreas conseguirão a melhoria educacional necessária para o país progredir.

Muitos municípios contam com psicopedagogos institucionais nas escolas ou presentes nas secretarias de Educação. Na verdade, a maioria são pedagogos especialistas em Psicopedagogia, profissionais que carecem (assim como os psicólogos escolares) de clareamento de suas funções para não esbarrarem nas lidas e atribuições dos psicólogos e psicólogas escolares, quando estes tiverem de ser contratados.

A questão é simples: ou se normatizam as funções e a estrutura para as boas práticas da Psicologia Escolar nas unidades de ensino, com determinações federais de remuneração justa e uniformidade de atribuições, ou a Psicologia nas escolas corre o risco de ser parte do caos educacional e colaborar, involuntariamente, para a perpetuação dos problemas que se propõe a eliminar.

É necessária a descrição de leis e instruções vindas dos Conselhos Regionais (ou do Conselho Federal) e do Ministério Público ou aqueles que mais precisam da Psicologia Escolar, jamais terão acessos a serviços de qualidade.

A solução é a mobilização dos profissionais da área, que desenvolvam projetos e frentes de divulgação das funções e da importância da Psicologia Escolar nas boas práticas de gestão escolar.

Somente com a plena divulgação para os demais educadores e à classe política, unicamente com o esclarecimento de toda a comunidade escolar, onde nós profissionais da Psicologia Escolar possamos evidenciar a elevação dos resultados dos índices de qualidade educacional coma ajuda de nosso trabalho, os profissionais da Psicologia conseguirão exercer seu papel transformador na sociedade, abrirão campos de trabalho com a estrutura necessária, com a devida valorização da classe e poderão ajudar aos que mais precisa: os alunos e educadores das redes públicas de ensino no Brasil.

 
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