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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Junho/2020)

AS AULAS EM TEMPOS DE ISOLAMENTO SOCIAL - Como fica a Educação em tempos de pandemia?

Escrito por Gilmar de Oliveira

A quarentena está demonstrando que a forma de se lidar com a Educação, no século XXI, vai mudar. E os professores, se reinventando, se familiarizando com as ferramentas de transmissão simultânea, em forma de videoconferência.

Mas as aulas não-presenciais vão além: o professor precisa de vídeos complementares, precisa de links com programas, canais do “YouTube”, de uso do e-mail para envio de listas de exercícios, de chat e plantão para tirar dúvidas e gerar maior aprendizagem, estando distante do aluno fisicamente, mas tendo de estar próximo, virtualmente. Lembro que não se trata de aulas na modalidade Ensino à Distância (EaD), embora sejam ambas não-presenciais, as aulas online tem a base síncrona, o aluno estuda a maior parte do tempo junto à turma, com o mestre, ao vivo.

O tempo de preparação das aulas é maior. Isso porque exige treino na plataforma, organização dos conteúdos, seleção de vídeos e textos de apoio, planejamento da forma de cobrar e maior pesquisa, para reduzir o tempo das aulas. Sim, este ponto é peça fundamental. Aulas em conferência cansam mais. Embora o senso comum diga que os alunos estão acostumados com horas e horas na frente das telas, a Neurociência mostra que este excesso de tempo em jogos, vídeos e redes sociais está ligado ao aumento expressivo dos casos de déficit de atenção e de perda da acuidade visual, perda das horas de sono e menor destreza motora.

Ou seja: ficar na frente da tela, prestando a atenção em entender conteúdos, resolver exercícios e anotar dicas (fora conversar no chat ou mexer em outras coisas... alunos sendo alunos...) dá uma canseira danada! Por isso, os especialistas em Neuropsicologia e em ergonomia sempre indicam que a cada 50 minutos, em média, tenha-se uma parada das aulas ou reuniões de 10 a 15 minutos, para focar em outras coisas e evitar a exposição demasiada dos olhos e do cérebro a tantos estímulos, o que ocasiona fadiga do lobo frontal, responsável pelo pensamento racional, atenção consciente e do pensamento complexo, sem contar nos prejuízos à visão (piscamos menos, lubrificamos menos os olhos, diz a Dra Ana Carolina Carneiro Cunha Bezerra, oftalmologista).

Assim, para termos um conteúdo razoável nas aulas em menos tempo, os professores precisam reestudar as técnicas didáticas, elaborar aulas dinâmicas e objetivas sem prejuízo à qualidade. É uma equação difícil, que tem cansado muito os educadores. É necessário treinamento, capacitação constante, leitura. Aqueles professores que participam de grupos de estudo, de trocas de ideias estão se saindo melhor. Que tal professores, buscarem ideias e soluções com seus colegas?

Uma dúvida: quem tem pago, custeado as horas a mais que nossos educadores usam no preparo das aulas? Por incrível que pareça, muitas escolas estão pensando em pagar menos horas/aulas aos professores, devido às aulas online serem menores. É ganância dessas escolas, pois sem alunos, reduz gastos em limpeza, energia, água. Na verdade, deveriam pagar a mais pelo preparo do conteúdo e pela maior responsabilidade. As escolas privadas estão com plataformas digitais de apoio, que o próprio sistema de ensino disponibiliza, cheias de recursos, bibliotecas online, vídeos complementares altamente produzidos. É uma realidade que veio para ficar. A forma de ensinar mudará, a de aprender, também!

Quando o isolamento social acabar, teremos ainda muitas restrições. É uma nova realidade mundial. Assim, as escolas deverão reduzir o número de alunos por sala, talvez nem todos os dias da semana terão aulas presenciais. Ficará complicado para um casal que trabalha fora de casa deixar o filho na escola todos os dias. A tendência é aumentar o trabalho online, assim como também as aulas virtuais.

Na outra ponta da corda, estão os 85% de alunos brasileiros, os das escolas públicas, onde a maioria desses tem acesso limitado à internet, via celulares mais simples, que não comportam aulas com maior volume de dados e cerca de 25% não tem acesso algum à internet. Em algumas cidades do interior do Brasil, mais da metade do povo não acessa internet, nem via celular. Não tem, nem de perto, como competirem com alunos de escolas particulares, em testes de seleção, como o ENEM, nem garantir aprendizado similar.

Não houve treino ou capacitação dos professores e, na boa vontade de muitos educadores, organizam grupos em whatsapp com alunos, para lhes passar lições, levam livros das bibliotecas escolares para estudarem em casa. Em algumas escolas, as famílias carentes que buscam a merenda pegam folhas fotocopiadas, com exercícios aos filhos, para a semana. É um triste flagrante que a pandemia expôs, da desigualdade social, do abismo entre os dois brasis! Os mais abastados, conseguem até mais vantagens com as aulas online, mudam a forma de estudar e de consultar.

Os mais pobres, ficam à mercê das incertezas da Saúde e da Educação. Não temos um plano educacional, não temos um plano de combate à pandemia. O que temos é a necessidade de entender e prevenir um futuro que não perpetue a exclusão e a desigualdade sociais. A falta de oportunidades igualitárias sabemos, são mãe e pai das mazelas tupiniquins.

 
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