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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Maio/2020)

CORONA VÍRUS E A INCLUSÃO

Escrito por Gilmar de Oliveira

O Corona Vírus mostra a nós, brasileiros, uma face de nós mesmos que nos assusta: a falta de empatia e de solidariedade.

Vimos atônitos o episódio do atual presidente tocando o povo aglomerado numa manifestação em plena pandemia e dizer que acha que o tema é só histeria da imprensa, que a Pandemia de Corona Vírus é apenas um resfriado e, que se ele pegar, vai se curar.

Nesse triste episódio vê-se, além de ignorância sobre o Vírus (da parte de quem deveria estar cercado de informações e ações preventivas), nada entender de pandemia, da letalidade em escala geométrica, nota-se neste senhor a total falta de empatia com as pessoas, pois o problema é maior que apenas pegar a doença; o dano maior é passar o vírus e fazer adoecer muitos, aumentando as chances de morte, de sequelas respiratórias, prejuízos financeiros e superlotação dos hospitais. A falta de empatia é a face repugnante que muitos tampam, mas o Corona Vírus escancara: Não somos empáticos e, para a maioria, os outros que se danem. E falta de empatia é contagiosa!

O álcool gel acabou porque muitos compraram além do que precisam e estocaram. Então, outros tantos ficaram sem a proteção. Onde apareceu um estoque de álcool gel veio a ganância de comerciantes e intermediários que triplicaram o valor, assim como os preços das máscaras dispararam. Hoje, no Recife e em João Pessoa, assim que saiu o anúncio da suspensão das aulas, mercados grandes ficaram tão cheios de gente comprando todo o estoque, que muitos fecharam suas portas.

Tais exemplos mostram a ganância do brasileiro médio, a falta de empatia, a divisão de classes entre quem tem dinheiro e quem não o tem, sendo que existem dois Brasis: um onde os mais abastados se protegem e se esquivam de suas responsabilidades sociais e outro de pobres, que vivem a servir os ricos, mas não possuem estrutura, visão e formação para se unirem e tentarem equalizar a distribuição de renda e de oportunidades.

Agora, jogamos a cena para a sala de aula. Em cada turma, existem os bons alunos, os medianos e aqueles que têm dificuldades ou transtornos de aprendizagem. Mas o professor é formado e treinado para educar para a maioria, dentro de parâmetros de aprendizagem pré-estipulados, pensando no que a maioria aprende ou tem de aprender, assim como esta base é levada em conta na hora de fazer a avaliação, de escolher as questões e os assuntos em prova.

A Educação deve ser para todos, inclusive para aqueles que não aprendem na mesma velocidade ou não assimilam o mesmo volume de informações esperado pelos professores. Parece que o aluno que não aprende incomoda, dá mais trabalho, exige mais planejamento de aulas, questões e alternativas didáticas.

O professor precisa lembrar-se que as aulas de planejamento e a presença do supervisor escolar, do coordenador pedagógico ou do psicopedagogo institucional é justamente para planejar formas diversas de ensinar e de aprender.

De se pensar e repensar sobre as modalidades de aprendizagem e as características de aprendizado dos alunos que fogem à média. Tanto exigir de quem pode mais, para que as aulas não fiquem chatas, quanto preparar alternativas, desafios, atividades lúdicas e novas técnicas para aqueles que aprendem de forma diferente, limitada ou não.

Mas assim como uma pessoa que te repreende por jogar papel no chão ou por estocar comida em tempos de pandemia é vista como chata, mesmo estando certa, é visto como chato os pais e profissionais que cobram dos professores e das escolas a elaboração de formas de ensino e de avaliação que incluam metodologias diferenciadas e inclusivas para os alunos com aprendizagens e ritmos diferentes.

Estes psicólogos, supervisores, pedagogos e psicopedagogos são vistos como muito cri-cris, mesmo estando certos. E recebem pressão por pedir o que é certo, sendo que o próprio professor deveria ter gosto de ensinar. Parece que há uma inversão de valores, uma distorção, tão comum nesses tempos de polarização, mas anormal.

Fazer diferente dá trabalho. No começo, preparar um conteúdo a mais, com resumo, ou mais gravuras, ou mais exemplos, pedir para pesquisar determinados temas e apresentar o que se aprendeu, pode dar mais trabalho. E dá. Mas dá muitos resultados surpreendentes, salva vidas, desperta para um mundo de descobertas que melhora a vida de tanta gente.

Hoje, vi provas de alunos que acompanho, quando fui a uma das escolas que visitei. Fiquei chocado... não com a prova, mas ao refletir sobre como é a cabeça do professor ao elaborar a prova, sabendo que na sala há alunos que não saberão metade sequer das questões. Azar dele? Nada disso! Todos aprendem, dentro de suas capacidades e suas necessidades. Basta achar os canais certos, para incluir e ampliar horizontes!

Inclusão é empatia. Inclusão não se faz trazendo alunos para a escola e jogando conteúdos infantilizados de livros dos anos anteriores. Inclusão não é manter em sala por 5 horas um aluno que mal segura a cabeça, manter em sala pessoas com seríssimos atrasos cognitivos. Tampouco inclusão é facilitar; A inclusão escolar é dar é dar a oportunidade das pessoas com deficiência ou com transtorno de aprendizagem ensinarem aos “sem deficiência” o que é tolerância, solidariedade, simplicidade, apoio mútuo, empatia, humildade e trabalho em equipe, além de respeito ao outro e às suas características.

Para que nas pandemias futuras, nas crises sociais e principalmente todos os dias, brote de cada coração a SOLIDARIEDADE nos futuros adultos. Para que vejamos que o pensar no outro é o que mantém uma sociedade equilibrada, pessoas felizes, um país sem roubo, sem violência, sem problemas para alcançar sonhos, para superarem seus limites.

 
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