Escrito por Gilmar de Oliveira
Quando a pessoa sai do texto instrodutório (que atrai ou distrai, para excluir os mais lentos) e observa o que realmente se pede para tentar resolver a questão, é que se nota o quanto a Educação Brasileira é alienante, o quanto esses assuntos são desprovidos de realidade cotidiana.
Não educam, não conscientizam, alienam. Mesmo questões que mostram causas emergenciais de serem pensadas e discutidas, como desigualdade de renda e as consequências da falta de esgoto, viram gráficos e dados, viram números frios, longe de esclarecerem.
É a alienação pela frieza da informação, mas disfarçada de questão contextualizada. E como um professor vai explorar e aprofundar sua aula, sendo que tem muitas e muitas “toneladas” de assuntos para terminar a apostila e ensinar para o ENEM? Sem contar que tem medo desses fascistas e terroristas que passaram a fiscalizar os professores com a distorção da Escola Sem Partido. Sem partido, aham.
A menos que a pessoa curse e trabalhe na área específica, ela jamais aproveitará os assuntos tecnicistas do Ensino Médio para sua vida. São assuntos que qualquer pessoa esquece. Pois não o vive. Então, o jovem até tenta memorizar formas de resolver avançados cálculos matemáticos, mas cai num golpe de uma financiadora que empurra juros extorsivos numa prestação camarada, mas isso não passou na escola!
O rapaz sabe de reações enzimáticas, mas não sabe dizer quais ou porque tais alimentos são saudáveis, ao ir ao mercado com seus pais. E nem sabe os males daquela droga que comprou de um “amigo” na balada.
Porque equações de reações enzimáticas, síntese de polissacarídeos, sequências de genoma e cálculos e fórmulas de Física, como os de calorimetria, óptica e ondulatória não são utilizáveis no cotidiano de quem não é especialista. Muito menos de adolescentes.
Os mais pressionados, seja por desejo de cursarem a faculdade ou por sofrerem a pressão dos pais, toleram, aguentam essas toneladas de temas mortos; mas casos raríssimos assimilam a maior parte do que estudam. Saem sem entender o mundo, sem entender porque o nosso país é tão sem rumo, nem pensam soluções.
Sabem diferenciar uma frase de Hobbes ou Rousseau, sem, no entanto, refletir suas palavras. Assim, entrarão (e talvez sairão) na faculdade.
É revoltante saber que, estes mesmos assuntos, serão vistos novamente, na faculdade, de forma específica, dependendo do curso. Perderão tempo revisando ou aprendendo (boa parte diz que não viu, ou de fato, pela escola ser ruim, não viu!) temas no Superior que passaram indevidamente no Ensino Médio.
Temas que deveriam ser vistos por quem se interessa em assuntos técnicos de Física, Química ou Matemática, mas após o Ensino Médio. Ou seja: não houve aprendizagem e, se houve, gasta-se um tempo desnecessário no Ensino Superior revendo, pois não houve aprendizagem, já que só se aprende quando tem significado. E não é um enunciado de questão que vincula o assunto com a vida, porque o que se pede é complexo e sem uso.
Então, porque se pedem assuntos tão complexo para entrar nas faculdades? Obviamente, o ENEM e os vestibulares querem selecionar os melhores alunos. Melhores em quê? Decorar? A verdadeira causa: não há vagas para acomodar o total de alunos que sai do Ensino Médio para ingressar na faculdade . Nem há tantos cursos técnicos. O ENEM e os vestibulares são um atestado de incompetência, uma porta estreita que só privilegiados entram. Os esforçados vão para as faculdades privadas, a maioria de qualidade mínima.
São cerca de 5, 5 milhões de inscritos para o ENEM. Some-se a esse número os 51% (Fonte INEP) de jovens de 18 a 25 anos que não concluíram o Ensino Médio (sim, leitor, menos da metade da população tem Ensino Médio), porque desistiram, e o caro leitor descobrirá que se todos tivessem terminado seus estudos, somente teríamos vaga nas faculdades para cerca de 25% dos candidatos brasileiros, se não existissem ENEM e os vestibulares e todos entrassem. Se somarmos, com muito boa vontade, mais 500 mil vagas para cursos técnicos (nem de longe temos estrutura para isso), ainda assim, a enorme maioria, ficaria de fora.
A nova Base nacional curricular Comum, o BNCC, já nasceu com vícios e, dificilmente, com os imbecis colocados no MEC pelo atual governo, conseguirá melhorar a aprendizagem. Lembram no projeto do novo Ensino Médio, que deveria entrar em funcionamento em 2018, com disciplinas eletivas? Pois é. E as metas decenais do novo Conselho Nacional de educação, foram colocadas em prática?
Infelizmente, atrelar às políticas nacionais de ensino à politicalha nacional, a lotear o MEC por amizade e favor político, resulta nesse desastre que, só não é pior, por força de milhares de abnegados professores e especialistas educacionais, que lutam arduamente para que nossos jovens estudem e pensem, que vivam o que aprendem, mas é cada dia mais difícil transformar informação em conhecimento e, pelo andar da situação, transformar conhecimento em sabedoria se tornou missão milagrosa.