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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Novembro/2017)

O CAOS SOCIAL E A “CARA DE PAISAGEM” DA ESCOLA

Escrito por Gilmar de Oliveira

Já ouvimos muito a frase-feita: “A Escola ensina, a Família educa!”. Concordo, em partes. Afinal, nem toda escola ensina, pois ensinar e aprender são processos complexos e intrincados e a reprodução de conhecimento sem aplicabilidade e sem uso (para reflexão e mudança de atitude ou aquisição de habilidades) não é, a meu ver (e dos especialistas), um conceito de aprendizagem.

Infelizmente, muitas escolas insistem em passar conteúdos que não se integram entre as disciplinas, nem tem aplicação prática, e usando formas que não atraem a atenção e o compromisso do estudante.

Certo, nem toda escola ensina e nem toda família educa. A maioria das famílias (e instituições) brasileiras vive uma severa crise de valores éticos, de relacionamento e de estrutura moral.

Os pais não são mais modelos a serem seguidos por filhos, estes cada vez mais perdidos e alienados pela mídia eletrônica e a falta de jeito em lidar com isso, por parte dos pais. Os pais desses alunos, que hoje bagunçam muito na escola (que não estudam, não leem), estão tornando seus filhos cada dia mais imaturos, dependentes e sem propósito na vida (exceto consumir, consumir).

Tais pais são pessoas que também passaram por uma escola que não cumpriu sua função de ENSINAR. Isso se vê ao notarmos que seus filhos trazem de casa o preconceito, discriminam, pais que não sabem separar o joio do trigo na hora de votar. Nem aconselham um filho, nem cobram limites, não pensaram em planejar a família, não conseguem pensar sobre temas importantes da vida, como sexualidade, religião, política, artes e trabalho.

Com isso, provam por A+B que a escola falhou com estes novos adultos. São escolas que, sem um plano nacional de Educação, deixou uma geração sem modelos de conduta ou referências, nem ídolos, nem bons exemplos, uma turba perdida entre decorebas inúteis, tarefas sem sentido, sem boa formação técnica (exceto os ricos, que entram em boas faculdades por estudarem em escolas e cursinhos que não ensinam, apenas treinam para responder provas) e sem uma base para dar rumo à vida dos filhos.

A verdade é que, quando um especialista chama os pais de um aluno problemático para vir à escola, ao nos depararmos com pais despreparados, sem base de vida, imaturos, inconstantes, sem perspectivas, perdidos na tarefa de educar, até achamos que os filhos estão bem!

A escola deles falhou, e continua falhando, sem passar uma visão de mundo, sem ensinar a pensar, enterrada em conteúdos mortos!
O resultado disso é esse desequilíbrio comportamental que vemos nas escolas e nas ruas.

E mais ainda, o desequilíbrio nas redes sociais e comentários dos sites de notícias. Quanto preconceito, quanto ódio, quanta opinião furada, de gente que se acha especialista em tudo! Vemos um retorno sem precedentes a séculos passados, ao sectarismo: Espanta o fanatismo sobre Lula, sobre Bolsonaro, verdadeiros santos (ahahah) e mitos para seus defensores.

Assusta os militantes das causas LGBT, que pensam que para serem aceitos precisam apelar para a vulgaridade e ostentação sexual, para bizarrices desnecessárias. Clodovil, Rogéria e outros representantes não precisaram disso para conquistar respeito e admiração. E assusta tanto quanto excessos lascivos estes conservadores e preconceituosos, jurando o inferno e fiscalizando se transam e com quem.

Asnos de teclado em riste querendo ceifar direitos, como se fôssemos uma república baseada em leis religiosas, e não civis (e a maioria dos brasileiros nem sabe disso!), pessoas defendendo esquerda e direita, como se isso no Brasil atual vogasse alguma coisa (só interessa dinheiro!). Imploram pela volta da ditadura militar (cruzes!), como não houvesse corrupção entre as Forças Armadas. Tolos de opinião rasa, ávidos por respostas prontas. Cadê a escola nisso?

E, nesse caos, onde anda a escola? Preparando para o ENEM? Como se estudar fosse só isso... Por onde anda a escola? Debatendo estes temas?

Por acaso debatem e comparam a rinha Trump x Kim com a Guerra Fria? Conseguem discutir o caos das redes sociais, esse narcisismo cibernético? Conseguem perceber que a desigualdade social só aumentou? Constroem pensamentos sobre criminalidade, sobre famílias ou a volta da censura às artes, do retrocesso do ensino religioso se tornar ensino de uma só religião? Não?
Se a escola não está ensinando os alunos e fazer uma leitura de mundo, se não aproveita este cenário de, bizarrices, de ditadura de mídias, de alienação eletrônica e tudo que mencionei acima...

Então, estamos condenados e termos num futuro próximo uma geração de adultos muito pior que esta que está destruindo o planeta, extinguindo da natureza a qualquer tipo de empatia ou capacidade de pensar no coletivo.

A chance de consertar os desequilíbrios do mundo é a mesma de fazer piorá-lo. Tudo depende do olhar que a escola tem: míope ou focado na leitura de mundo, pois para construir um caminho, não basta caminhar, é preciso enxergar algum ponto no horizonte e saber como caminhar até ele.

 
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