Escrito por Gilmar de Oliveira
Qual a capital da Gâmbia? Você consegue descrever o relevo predominante do sudeste Asiático? E, mesmo dando-se a fórmula, você consegue definir a diferença de potencial eletroquímico para determinar a milivoltagem do neurônio? E, ao menos, sabe dizer (nem precisa saber calcular) a utilidade de um logaritmo? Ou a função de uma inequação?
Brinde especial para você, não-professor de matemática ou de Física, que souber me dizer a funcionalidade prática da temida e lendária fórmula de Báscara.
Pois estas questões acima, exceto as relacionadas às Exatas, reprovaram alunos nos exames finais, em provas que examinei, ao final dos últimos anos letivos. Piorando: As Exatas, em geral, vem na forma de horripilantes cálculos que são o pesadelo dos estudantes.
Disciplinas demais, carga horária de menos, foco distorcido. Some-se a isso que o perfil do mundo e dos adolescentes mudou muito, a sociedade tem outras visões e outras aspirações, algo solenemente ignorado pelos educadores e construtores das matrizes escolares atuais (?).
Pior que não estar antenado com as necessidades atuais para as soluções exigidas para ser e fazer um mundo melhor, onde a Escola deveria trabalhar e formar pessoas preparadas para ler o seu tempo de forma crítica e inserida em seus contextos, é cozinhar esta sopa de “conhecimentos” atuais, altamente abstratos e -desculpem a sinceridade- inútil, num caldeirão de “conhecimentos” vazios.
Tais saberes, da forma como são ministrados, visam muito mais a formar “respondedores de ENEM´s e vestibulares, provões e provinhas” do que pessoas capazes de pensar, solucionar, planejar e conviver.
Tais habilidades são prementes nos países sérios, que planejam se manter no topo, meta que não visa apenas o poder (a exemplo de nossos governos), mas objetiva manter ou melhorar nações sustentáveis, éticas, equilibradas e modernas.
Algo somente possível com um povo capaz de pensar sobre seus dilemas e resolvê-los. Afinal, conhecer é ser livre. Não há liberdade, nem democracia, sem povo preparado.
As escolas estão, em geral, destituindo o conhecimento necessário ao mundo real... Continuam ensinando os mesmos conteúdos, que não geram aprendizagem, há décadas! Se fizessem aprender, você ainda saberia a maioria dos conteúdos ensinados. Lembra-se do que se discutiu ou apresentou, de aulas de campo, de vídeo... muito ainda está na mente!
Faz-se de conta que os alunos sabem responder sobre a Guerra das Duas Rosas ou a Guerra dos Cem Anos quando, talvez saibam responder apenas às questões trazidas pelo professor, sobre o assunto que ele ensinou.
Isso é muito diferente de aprendizagem! Uns meses (ou dias) depois, brancas nuvens, um distúrbio chamado “amnésia discente crônica – subtipo pós avaliação”...
Saber sobre nosso próprio parlamento e suas “leis”, sobre as novas profissões e cursos superiores que estão surgindo, sobre o mercado de trabalho, pensar as questões da modernidade, a Bioética, o planejamento familiar, pílula, DST´s, sobre o machismo, o preconceito, as energias alternativas, dentre outras, até mais simples, parece que não se consegue mais na escola atual, pois ensina-se de tudo, menos a vida real.
Não se trata de menosprezar as disciplinas fundamentais para os jovens, mas repensar seu uso, através de contextualizações e abordagens de situações-problema, sua idade e o mercado de trabalho.
E o mais importante: abrir opções para que os jovens escolham seus próprios currículos, com um núcleo obrigatório e uma parte formativa, optativa, de acordo com seus interesses e necessidades.
A ampla maioria dos conteúdos de química, física, matemática, história, geografia e biologia são complexos para a compreensão dos jovens contemporâneos. E não despertam interesse, não atendem às demandas atuais de um mundo com jovens mais críticos, mais questionadores que as gerações anteriores, que se calavam e ‘aprendiam’, sem sequer saber o porquê.
A própria máxima de estimular o raciocínio com exercícios em Matemática, mesmo sem utilidade, já caiu por terra, substituídos por games.
Os jogos e aplicativos atuais estimulam as áreas responsáveis pela lógica e ainda outras, de forma divertida.
Não adianta sonhar que saliva e giz podem concorrer com a eletrônica, o mundo mudou!
Mas, quantos dos professores estimulam seus alunos para buscarem entender a programação dos jogos, inclusive eles mesmos e o seu uso na sala de aula? Quantos estimulam os alunos a usar em suas aulas os diversos aplicativos dos smartphones?
Precisamos de uma reforma no conteúdo, levar os saberes com sentido e numa forma inovadora, sem utopias, sem demagogias.
Não é o fim do mundo: o desinteresse e a bagunça mostram que é, na verdade, um novo mundo. Integrar-se é resgatar a eficácia perdida!