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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Agosto/2015)

Psicólogos nas escolas públicas: Agora é lei!

Escrito por Gilmar de Oliveira

No planeta educacional brasileiro, um mundo atrasado, congelado há séculos e cheio de ameaças à vida da inteligência futura, surge uma luz no imenso buraco negro onde a qualidade foi sugada: psicólogos escolares deverão ser integrantes do corpo técnico das escolas em breve, muito breve, de acordo com o Projeto de Lei aprovado pelos deputados e sancionada pela Presidenta. Até que enfim, uma boa notícia. Mas alto lá, que a situação exige uma análise da situação.

De início, é necessário lembrar as condições de trabalho de muitos dos nossos orientadores educacionais e dos supervisores pedagógicos nas escolas públicas, sem contar os técnicos pedagógicos (na rede estadual) que compõem o núcleo de especialistas ou técnicos da Educação Básica da Rede Pública. 

A maioria conta com salas precárias que, muitas vezes, é dividida com demais especialistas, não oferecendo a devida qualidade para atendimentos que precisam de sigilo e privacidade. Muitas escolas conseguem, por recursos que alavancam na Associação de Pais e Professores, construir uma sala para especialistas, mas muitas não contam sequer com um especialista.

Muitos técnicos educacionais, profissionais concursados em nível de ensino médio, fazem as vezes de orientadores ou supervisores, mesmo sem ter esta especialidade na formação acadêmica. E, mesmo que tivessem, não vejo como ético e salutar uma profissional ser pago para exercer uma função de direito (técnico, nível médio) e exercer outra, de fato (orientador, com elevada gama de responsabilidades, em nível superior). 

A falta de técnicas de orientação ou de supervisão pedagógica acarreta em sérios prejuízos a alunos, pais e projetos educacionais, pois Orientador Educacional não é o profissional que dá “pito” em aluno bagunceiro! Muito menos Supervisor é apenas o profissional que cobra o plano de aula de professor se planejamento. Estas figuras já são pré-históricas, embora sejam comuns ainda hoje! 

Ou seja: desprezam técnica, planejamento, suporte e qualidade para tentarem tapar buracos funcionais que prejudicam a qualidade da educação. O eterno faz-de-conta educacional!

Neste cenário, lamento citar que muitos orientadores e demais técnicos tornam-se “fazedores de cartazes”, “decoradores escolares” e outras atribuições mais estapafúrdias, como a terrível tarefa de substituir professores faltosos. O pior de ter diretor mandando orientador e supervisor para sala de aula é saber que ninguém se choca com tamanha aberração, que não conseguem dizer NÃO!

Agora, chegou a vez dos psicólogos escolares serem escalados para enfrentar os desafios enormes deste planeta inóspito que é a Educação no Brasil. Estes profissionais que muitos prefeitos citam em editais de concursos públicos, ao lado de poucas vagas e de salários de 1100 reais para 40 horas, quando tratoristas com ensino fundamental recebem 1700. Pior que um profissional aceitar tal salário, está um Conselho que não orienta prefeituras e não intervém nestas barbaridades. 

Ainda assim, o cenário pode piorar: a imensa maioria dos profissionais da Educação no Brasil não sabe o que faz e o que pode fazer um psicólogo escolar. Vão pedir para “dar uma olhada e dizer o que aquele menino tem”, como tanto ouvi ao longo de 20 anos na função. Até porque pode ser “o máximo” a fazer, pois é preciso condições de trabalho, tão pedidas, ou mais que “olhar” a criança, nada será feito!

Um psicólogo precisa de sala de atendimento privativa, precisa de locais de acondicionamentos de laudos, pareceres, testes e documentos produzidos para avaliação e psicodiagnóstico, precisa de recursos lúdicos, de testes e exames psicológicos, de treinamento e capacitação. Sobretudo, de um salário digno e capacitação para trabalho multiprofissional. 

Como trabalhar numa escola sem as mínimas condições? Afinal, a formação em psicologia escolar é fraquíssima nas instituições formadoras.

Viraremos fazedores de cartazes? Substitutos de professores relapsos com suas extensas listas de atestados fajutos? Enfeitaremos as escolas para a próxima comemoração cívica assassina de aulas?

Antes de o primeiro psicólogo entrar na escola, que esteja pronta a sua sala, a sua condição digna de trabalho e sua dignidade salarial e o devido trabalho multidisciplinar. Ou ajudaremos as escolas ineptas na tarefa de enxugar o gelo das calotas polares onde congelaram a qualidade da Educação. 

Não sejamos cúmplices! Só contratar não basta, denigre a imagem e frustrará as escolas!

 
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