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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Setembro/2018)

NINGUÉM QUER SER PROFESSOR... POR QUE A REJEIÇÃO?

Escrito por Gilmar de Oliveira

Fui entrevistado esta semana. Uma repórter me escreveu, querendo minha opinião sobre os dados de uma pesquisa, que revela que 49% dos professores entrevistados não recomendam a profissão. Outros 33% estão totalmente insatisfeitos com a carreira. Pensei, pensei e respondi:

 

       Na verdade, estes números não me causam surpresa. Acreditava que a porcentagem de professores que não recomendassem a profissão seria até maior.

       O nível de insatisfação com o exercício profissional dos profissionais da Educação e da rejeição dos jovens concorrentes às carreiras universitárias que formam professores é elevado. São vários os fatores que contribuem para este desgaste: a falta de perspectivas de ascensão profissional, num mundo onde as carreiras são mais dinâmicas, com mudanças em curto prazo; mas o magistério pouco mudou.

       Quem assume a sala de aula raramente tem promoções, a menos que se estude outra carreira. E isso é difícil, pois a maioria que escolhe ser professor vem de classes desfavorecidas, paga a faculdade e quer retorno ao se formar. Outro ponto: A pessoa se imagina envelhecendo dentro de uma sala cheia de alunos bagunçando e sem interesse, pois a escola pouco ou nada se moderniza. Isso afasta interessados. Engana-se quem pensa que os baixos salários diminuem o interesse. Em cidades do Sul e Sudeste, onde o salário para 30 horas pode passar de 5 mil na rede pública, há poucos novos professores se formando. A sociedade brasileira estereotipou o professor como um sofredor, alvo da algazarra e de alunos bagunceiros.

       Os alunos assumem um papel cultural já presente nas escolas: de descompromisso com sua formação, de gerar bagunça e o próprio jovem acha que ser professor em escolas assim não gera prazer, nem realização. Assim, o jovem sabe o que lhe espera na sala de aula: péssimas condições das escolas públicas, que são responsáveis por 85% das vagas no Brasil. Isso afasta os jovens do magistério! Por outro lado, as exigências das escolas particulares contra seus docentes, além da pressão dos pais, também faz os jovens evitarem a escolha pelas licenciaturas. 

       E o que se vê no noticiário, quanto ao mundo educacional? A baixa remuneração, ausência de planos de carreira, condições de trabalho precárias, indisciplina e o desinteresse dos alunos, agressão a professores, ausência de políticas públicas favoráveis à boa qualidade de ensino. Nada disso se vê em outras carreiras. Professores ameaçados, humilhados, desvalorizados, sem formação continuada de qualidade são fatores decisivos para a baixa satisfação e a baixa procura nas faculdades

       A sociedade tem um discurso hipócrita quanto à carreira de professor: querem mais valorização da Educação, mas ninguém quer que seu filho seja professor. Poucos pais que pagam os melhores colégios aceitam sem questionar que o filho escolha a carreira de professor, de Geografia, por exemplo. Torcem o nariz mesmo, se esta for a escolha do Juninho.  Gritam nas redes sociais por melhor Educação, mas são contra as greves que exigem melhores condições de trabalho.

       A sociedade ignora o que se passa nas escolas públicas (mesmo sendo problema de todos, pois muito afeta o país e nosso futuro) e os pais batem palmas para diretores mandões e tiranos na escola privada. Médico, engenheiro ou advogado, tudo bem, mesmo que sem vocação. Filho ser pedagogo ou professor é desgosto para a classe média. Essa distorção causa severo atraso no desenvolvimento do país, mas governo algum percebe o problema ou planeja reverter a situação.

       Quando conversam comigo, nos intervalos de aulas e palestras, as frases dos professores começam assim: “você, que é psicólogo sabe que...” Ora, a maioria do que trago na minha fala vem da experiência como professor!        

       Quando fui professor da rede pública, não me ouviam. Hoje, como psicólogo, pagam para ouvir as mesmas coisas. Mas se tem um professor falando, o próprio professor desvaloriza. Isso quer dizer muita coisa sobre como os educadores se percebem profissionalmente. 

       Enquanto os melhores alunos dos cursinhos não escolherem Matemática, História, letras ou Química, a desvalorização do Magistério não muda! E como pode mudar? Tem de haver uma mudança brusca em todo o projeto educacional: planos de carreiras sólidos, como nas universidades federais (onde as vagas para professor são muito disputadas pelos melhores estudantes), disciplina total em sala, respeito e autonomia ao professor, aulas dinâmicas e que façam pensar, refletir e agir sobre o mundo, sem as “decorebas” de fórmulas e macetes para ENEM. Outro aspecto essencial é que a estrutura dos cursos nas faculdades de  licenciatura precisa mudar: Pouco se aprende de técnicas de ensino; pouco aprendem sobre dificuldades de aprendizagem e transtornos de conduta, não se ensina como lidar com a indisciplina, nem como trabalhar com alunos com deficiência. 

       Para os melhores alunos cursarem faculdades que formam professores, precisa-se de escolas modernizadas, apoio multiprofissional e aulas de inovação tecnológica aos futuros professores e sim, também de excelentes salários e planos de carreira. A própria consciência de serem empreendedores lhes falta, pois nesse país, deveria se montar muitos negócios baseados na Educação, mas precisam aprender sobre isso nas faculdades.

       Quando a sociedade brasileira respeitar o professor como respeita o médico e o advogado, teremos a carreira educacional valorizada. Mas enquanto ser professor continuar a ser bonito na família dos outros, nosso país estará na contramão da História.  

 
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