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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Julho/2018)

Falando do TDA-H

Escrito por Gilmar de Oliveira

Em 2013 chegou ao público e aos profissionais da Saúde a quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, ou DSM-5. Trata-se de um manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria, para definir como é feito o diagnóstico de transtornos mentais. É usado por psicólogos, médicos e terapeutas ocupacionais.

Neste documento constam as características e os novos critérios para o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade.

É fundamental conhecer sobre transtornos mentais no âmbito da saúde e, creio, deveria ser estudado por profissionais da Educação também, pois é na escola que muitos dos transtornos mais incidem e interferem na aprendizagem.

Assim, passamos a entender todas as dimensões do transtorno e definir o diagnóstico, tendo validade e reconhecimento em várias culturas. Tais informações colaboram muito para entender causas, identificar sintomas e comorbidades (que são alterações associadas ao transtorno).

 

E, afinal, como o TDAH é classificado no DSM-5? 

Neste manual, o TDAH se classifica entre os transtornos do neurodesenvolvimento, caracterizados por dificuldades no desenvolvimento que se manifestam precocemente e influenciam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou pessoal.

São cinco os critérios diagnósticos conforme o DSM-V, para se afirmar que a pessoa possui o transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (American Psychiatric Association, 2013):

CRITÉRIO A– Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere com o funcionamento ou desenvolvimento. Em ambos os domínios seis (ou mais) dos seguintes sintomas devem persistir por pelo menos seis meses, em um grau que é inconsistente com o nível de desenvolvimento, e tem um impacto negativo diretamente sobre as atividades sociais e acadêmicas e profissionais.
 
CRITÉRIO B – Vários sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade devem estar presentes antes dos 12 anos de idade.

CRITÉRIO C – Vários sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade devem estar presentes em dois ou mais contextos (por exemplo, em casa, na escola ou trabalho, com os amigos ou familiares; em outras atividades).

CRITÉRIO D – Há uma clara evidência de que os sintomas interferem ou reduzem a qualidade do funcionamento social, acadêmico ou ocupacional.

CRITÉRIO E – Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso da esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não são melhor explicados por outro transtorno mental (por exemplo, transtorno de humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo, transtorno de personalidade).

 

Há uma gama de sintomas de desatenção e de impulsividade, que devem ser observados pelos profissionais da Saúde (médicos e psicólogos, sempre em conjunto), sintomas estes que se manifestam há mais de seis meses, que têm início na primeira infância. Tais critérios determinam a existência desse transtorno ou não.

É importante que as escolas conheçam os critérios diagnósticos, para compreensão e encaminhamento, jamais para diagnóstico, pois com o apoio terapêutico (medicação, psicoterapia, psicopedagogia), as pessoas com TDA-H tem condutas e aprendizagem normalizadas.

Também se percebe que, ao se conhecer os critérios diagnósticos, os profissionais da Educação colaboram para conter este derrame de diagnósticos errôneos, onde crianças ansiosas ou com alterações psicomotoras ou cognitivas e mesmo sem limites e Educação vinda do lar são taxadas como hiperativas.

A incidência de TDA-H nas escolas é baixa, em torno de 3% a 6% dos alunos (www.blog.saude.gov.br), embora vários artigos citem o aumento do transtorno devido ao excesso de uso de jogos eletrônicos, celulares, tablets e computadores.

Ou seja: num turno com 500 alunos, talvez encontre-se 15 alunos com TDA-H, provavelmente menos na maioria das escolas. Mas a dispersão causada por esta exposição excessiva aos eletrônicos, a redução de horas de sono, má alimentação, estresse e fatores emocionais causam, sim, problemas para manter a concentração e o foco em sala de aula, sem TDA-H.

O alerta e as orientações devem ser dadas AOS PAIS pela escola, que deve orientar sobre a necessidade de bons hábitos para manter a atenção em alta.

Ao professor, cabe exigir o silêncio como base para a concentração e notificar os casos de indisciplina ou mesmo de TDA-H para o corpo técnico fazer os devidos encaminhamentos e cobrar da família as providências, ou mesmo levar ao Conselho Tutelar a necessidade de ajuda que o estudante possua.

EDUCADOR, lembre-se: a agitação, desobediência, o deboche, falta de vontade e ser irrequieto não são escolhas do aluno, não é “safadeza”, são sintomas de base biológica que afetam a conduta social e a concentração de quem tem TDA-H.

Observe o quadro com os critérios diagnósticos do TDA-H. Mas lembre-se: nem todo agitado é TDA-H (hiperativo) e nem todo disperso tem déficit de atenção e a prevalência é bem menor do que o que se rotula nas escolas atualmente.

 

Para pessoas com 17 anos ou mais, pelo menos cinco sintomas são obrigatórios:

1. DESATENÇÃO:

a) Muitas vezes, deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido na escola, no trabalho ou durante outras atividades.
b) Muitas vezes tem dificuldade em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (por exemplo, tem dificuldade em permanecer focado durante as palestras, conversas ou leitura longa).
c) Muitas vezes parece não escutar quando lhe dirigem a palavra (por exemplo, a mente parece divagar, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia).
d) Muitas vezes, não segue instruções e não termina tarefas domésticas, escolares ou no local de trabalho (por exemplo, começa tarefas, mas rapidamente perde o foco e é facilmente desviado).
e) Muitas vezes tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (por exemplo, dificuldade no gerenciamento de tarefas sequenciais, dificuldade em manter os materiais e os pertences em ordem, é desorganizado no trabalho, tem má administração do tempo, não cumpre prazos).
f) Muitas vezes, evita, não gosta, ou está relutante em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (por exemplo, trabalhos escolares ou trabalhos de casa ou para os adolescentes mais velhos e adultos: elaboração de relatórios, preenchimento de formulários, etc).
g) Muitas vezes perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo, materiais escolares, lápis, livros, ferramentas, carteiras, chaves, documentos, óculos, telefones móveis).
h) É facilmente distraído por estímulos externos.
i) É muitas vezes esquecido em atividades diárias (por ex., fazer tarefas escolares, e em adolescentes e adultos mais velhos, estes não retornam chamadas, deixam de pagar contas, manter compromissos).

 

2. HIPERATIVIDADE-IMPULSIVIDADE:

a) Freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira.
b) Muitas vezes levanta-se ou sai do lugar em situações que se espera que fique sentado (por exemplo, deixa o seu lugar na sala de aula, no escritório ou outro local de trabalho, ou em outras situações que exigem que se permaneça no local).
c) Muitas vezes, corre ou escala em situações em que isso é inadequado (Em adolescentes ou adultos, esse sintoma pode ser limitado a sentir-se inquieto).
d) Muitas vezes, é incapaz de jogar ou participar em atividades de lazer calmamente.
e) Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora” (por exemplo, não é capaz de permanecer ou fica desconfortável em situações de tempo prolongado, como em restaurantes e reuniões).
f) Muitas vezes fala em excesso.
g) Muitas vezes deixa escapar uma resposta antes da pergunta ser concluída (por exemplo, completa frases das pessoas; não pode esperar por sua vez nas conversas).
h) Muitas vezes tem dificuldade em esperar a sua vez (por exemplo, esperar em fila).
i) Muitas vezes, interrompe ou se intromete os outros (por exemplo, intromete-se em conversas, jogos ou atividades, começa a usar as coisas dos outros sem pedir ou receber permissão).

 

Os tradicionais subtipos de TDAH (predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo e combinado) são considerados como apresentações no DSM-5. Essa alteração deve-se às conclusões de várias pesquisas, que demonstram que o surgimento dos sintomas pode variar de acordo com a idade em que o diagnóstico é considerado, diferente do sentido do termo “subtipo”, que se refere a uma condição invariável.

Estudos anteriores descreveram um declínio geral da severidade dos sintomas de hiperatividade-impulsividade ao longo do desenvolvimento, enquanto que para os sintomas de desatenção os resultados são inconclusivos, a redução, a estabilidade e o aumento desses sintomas têm sido relatados.

Dessa forma, estima-se que até 70% das crianças diagnosticadas com TDAH na infância continuam a exibir níveis inapropriados de desatenção e, em menor grau, sintomas de hiperatividade-impulsividade durante a adolescência e na vida adulta (Biederman et al., 1998; Faraone etal., 2002).

 
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