Escrito por Gilmar de Oliveira
Eu não alimento mais sonhos utópicos. Meus desejos são meros ideais que a cada dia se distanciam da realidade brasileira, como um barco à deriva se perde no horizonte.
Neste mês, onde este jornal trabalha com os sonhos, os desejos dos educadores, eu fiquei estarrecido comigo mesmo quando percebi que os meus sonhos são impossíveis de se realizarem na Educação Brasileira.
Perdi a fé. Porque nossa sociedade perdeu o controle da situação. Acho que é mais fácil a Somália e a Etiópia montarem uma sociedade letrada, escolarizada e equilibrada do que o Brasil reverter o atual quadro.
Vou explicar este meu pessimismo (ou seria realismo?): Temos um número de escolas praticamente suficiente para dar conta da demanda de jovens em idade de estudar. Temos leis que obrigam as famílias a manterem as crianças e adolescentes na escola.
Raros os grotões do Brasil que a escola fica inacessível. Mas o nível educacional das crianças piora a cada ano!
E a resposta social ao baixo nível educacional é evidente: brasileiros não respeitam fila, não respeitam trânsito, não leem, não compreendem a situação relatada nos telejornais e mal compreendem a sua própria condição de baixa escolaridade, de pouco preparo profissional, de nenhum planejamento familiar, de analfabetismo político e funcional.
Brasileiros jogam papel no chão, cospem nas ruas, tem um padrão estético terrível, a maioria do povo tem pouco ou nenhum senso ético, sempre tentando um jeito de se dar bem, de levar vantagem, pensam muito mais no individual do que no coletivo. É som alto nos ouvidos do vizinho, nas ruas, carros rebaixados, equipados, mas o dono jamais leu um livro sequer. Um trânsito caótico.
Parece que as leis servem só aos outros. Temos problemas sérios de mobilidade, de planejamento, de fiscalização da poluição, de combate ao crime. Filmes piratas, brinquedos piratas, roupas e acessórios piratas, eletrônicos piratas... Temos uma classe média com dinheiro, mas sem educação: é arrogante, preconceituosa, corrupta e brega.
Agora, nas eleições recentes, o povo votou nas mesmas pessoas que tanto criticaram nos protestos de 2013. A maioria dos ficha-suja foi reeleita. E a compra de votos só aumentou!
A maioria das famílias brasileiras acha a escola onde seus filhos estudam muito boa, o que por si só é um dado preocupante.
Principalmente se observarmos que o Brasil tem as piores notas no grupo OCDE, de países de desenvolvimento semelhante, a pior carga horária escolar, um currículo absurdamente fora da realidade do mundo e nas próprias avaliações internas do governo o desempenho cai ano a ano.
O meu desânimo não é por causa dos fatores terríveis acima listados. O que me desalenta é que este povo todo passou pela escola.
O que aprenderam sobre cidadania, sobre ética, sobre civismo, sobre respeito ao coletivo, sobre respeito ao próximo?
Como este povo saiu da escola sem entender sobre os cuidados ao ambiente, sobre higiene, sobre cuidados urbanos, sobre o mínimo de organizar e planejar a família, a profissão, a vida em sociedade?
Como as escolas deixaram as pessoas passarem sem saber ler e interpretar, sem escrever corretamente? Como as escolas não trabalharam o planejamento familiar, a diversidade contra o preconceito sexual, racial e religioso? Como as escolas não desenvolveram pessoas críticas sobre política (sem falar de partidos), sobre honestidade, sobre responsabilidade social, ambiental, sobre o mínimo, para a pessoa saber o que é crime organizado, pirataria?
O meu pessimismo-realismo não é pelo que a sociedade brasileira faz contra si mesma com os hábitos que listei acima. O que desespera é saber que nossa Educação e a formação dos conteúdos ensinados nas escolas não contemplará, a médio ou longo prazo, qualquer movimento de reforma que traga uma condição de melhoria social.
As pessoas atualmente passam pela escola e a escola não fica nas pessoas. Abandonam a escola porque ela ainda não faz diferença na vida da população, principalmente nos pobres. A escola atual não traz condições de ascensão social, de um pobre entrar, estudar, pensar, crescer e ter autonomia.
E afinal, como mudar? Um novo currículo, que desperte nos professores atuais um senso de realidade e mudança. Transformar. Não reproduzir o saber, mas repensá-lo. Cada professor se reinventar. Talvez haja uma chance. Eu duvido muito. Espero que eu esteja errado.