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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Junho/2014)

Os cuidados com o futuro

Escrito por Gilmar de Oliveira

A escola brasileira passa por uma grave crise de qualidade e de gestão. Creio que as mazelas históricas poderiam há muito ter sido neutralizadas pelo valor do mérito. As escolas da América Latina foram construídas sob dogmas arcaicos do catolicismo, que se preocupou em educar as elites que, por sua vez, não se preocuparam em educar o povo. Já o ensino protestante europeu tratou logo de trabalhar a qualidade da Educação de seu povo, para que o acesso à leitura se tornasse uma ferramenta de conhecimento sobre Deus, à época. Mas trabalham até hoje a qualificação, valorizam muito e sempre o mérito, o melhor aluno, o melhor professor. Educação forte é país desenvolvido.

Mas as escolas da Argentina, Uruguai, Paraguai e principalmente do Chile (só para ficar na América do Sul, embora destaque ainda a Costa Rica), se libertaram desta ferida purulenta que foi a negligência histórica da escola pública por parte dos governantes, fator decisivo no crescimento econômico das últimas décadas ou, no caso argentino, uma ajuda ímpar para não afundar ainda mais o país, vítima do desgoverno populista de Cristina Kischner.

No Brasil, os índices educacionais são de mentirinha. Não há crescimento. As provas realizadas pelo Ministério da Educação para medir o nível da Educação Básica, como o Prova Brasil e ENEM, mostram que a maioria das questões são feitas para que qualquer alface ou pedra consiga responder. E, no caso do ENEM, não zerando a redação (onde nem com esforço se consegue zerar) e conseguindo uns 100 pontos em média, o estudante pode alcançar uma vaga no Ensino Superior. As faculdades recebem a cada semestre alunos semi-alfabetizados e gastam horas do curso ensinando outra vez Português e Matemática.

O PISA e outros testes internacionais mostram que não saímos das últimas posições na Educação Básica; a Provinha Brasil pode ser gabaritada por qualquer criança, mesmo dormindo. Há inúmeros relatos de pais e de estudantes contando como a professora DISSE onde se colocava o X (!!). Visitei muitas dessas escolas com tais relatos e constatei a precariedade do ensino e a faixa frontal alardeando a nota do IDEB...

Ao se trabalhar com as crianças, ao se verificar a sua capacidade e seu rendimento, vê-se hoje que, mesmo as do Ensino Fundamental 2 (6º ao 9º ano), não conseguem entender o teor de um bilhete simples. E a maioria dos pais acham que as escolas onde seus filhos estudam são de boa qualidade. Se também foram educados precariamente, como perceber as carências?

A saída para esta situação, segundo especialistas em Educação e Economia (total relação, mesmo que os educadores não admitam), passa inicialmente pela mensuração do tamanho do problema. Creio que um órgão não-governamental, gerenciado por autoridades acadêmicas em Educação e as entidades representativas do mercado de trabalho e do Estado, associados a entidades internacionais de referência em Educação e Aprendizagem devam se unir para criar testes e avaliações em alunos e professores.

Não se trata de padronizar saberes mundiais num único saber uniforme: medir habilidades a partir de um referencial é necessário e benéfico num mundo globalizado e competitivo. Detectadas as defasagens, trabalha-se em reforma de currículos, treinamento de professores, planos de demissão estimulada por bônus financeiros e aposentadoria antecipada em certos casos. Ou seja, capacitar os mestres e gestores e testá-los continuamente, premiando os que atingem metas e eliminando das escolas os profissionais que não condizem mais com as exigências de um ensino de qualidade. A crise educacional brasileira é tão grande que, mesmo com tais ideias esdrúxulas como pagar para os maus mestres saírem, o prejuízo a médio prazo seria menor ao país do que lidar com jovens menos preparados.

As gestões mais políticas do que técnicas continuam. A falta de qualidade é percebida pelo mercado de trabalho, que perde tempo treinando habilidade cujo dever de ensinar é da escola. Quem percebe o problema mal sabe quais soluções tomar. Tão ruim quanto um mau professor é um mau gestor educacional. Se eles estão perdidos ou mal intencionados, tampando mazelas, orgulhosos de uma nota fictícia no IDEB , lutando por cargos em troca de apoio político, o futuro se voltará contra nós!

 
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