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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Outubro/2013)

O Mundo Está Perdido!

Escrito por Gilmar de Oliveira

Sempre ouvi dizer que esse mundo está perdido. Verdade. A maioria das pessoas adoece de tanto tentar ser “normal” e de tanto achar problema nos outros. Afinal, sempre os outros estão errados. Confunde-se normal e comum. Tem coisas que são comuns, mas não são normais. E a cada dia o comum tenta se passar por normal.

Olhem os brinquedos “dos meninos”: bonecos bombados com músculos avantajados até na orelha e carros tunados, ferozes, agressivos. Olhem os brinquedos “das meninas”: bonecas quase transparentes, de tão magras, tudo rosa, até o fogãozinho, o ferrinho de passar e a loucinha. Menina tem de ser frágil, dependente e serviçal. Menino tem de ser sapeca, atrevido e viril. Quem disse isso? Distorcemos cabeças do futuro com nossos ditames, geramos infelizes, ao normatizarmos condutas. Jamais questionamos as normas que nos cercam. Alguém lucra com isso, menos você. Aí vem o machismo, a rotulação, o reforço de estereótipos sociais e familiares que transformam crianças em adultos inseguros e incapazes de repensar o seu jeito, de trabalhar melhor a sua individualidade. Tão simples: bonecas, frases, coisas diárias que não são normais, mas por serem comuns, aceitamos de boca fechada.

Cresci ouvindo que rapaz cabeludo é malandro, homem que usa brinco não é macho, homem não chora; que tatuado é bandido... Continuo ouvindo isso! Mas são 30 anos de ladainha, quem sabe muito mais, pois antes de embarcar neste bonde (a Terra), já havia muita “gente” vomitando tais verdades.

São os mesmos que reclamam do filho que dá uma ou outra tragada na erva maldita, enquanto se esbaldam com bebida alcoólica na frente deles desde pequenos, e os levavam para casa de carro, após a festa em família, cozidos de bêbados. Depois choram pelos filhos mortos no trânsito caótico, achando que o filho morreu por influência das más companhias. Talvez tenham razão: talvez o filho tivesse más companhias desde que nasceu. Responsabilidade e equilíbrio de pai e mãe não saem junto com a placenta.

Creio que sejam os mesmos adultos que fumam, mas se escandalizam quando o adolescente rouba unzinho da carteira, para ver se é aquilo mesmo que o adulto respondeu quando a criança perguntava qual gosto tinha o cigarrinho. 

Ou são os que, ao menor problema, se entopem de calmantes e remédios por doenças que o lazer, o descanso e o contato com a família impediriam de se manifestar; mas não admitem o filho experimentando pílulas de drogas sintéticas em busca de felicidade, prazer e liberdade que nunca viram dentro de casa. Não se justifica o uso de entorpecentes, mas o que nossas condutas dizem ao inconsciente desses jovens que veem incongruências das famílias, desde que eram crianças?

Rompantes de fúria e grosseria, gritos e humilhações no lugar de palavras serenas com os filhos pequenos que, no seu tempo, crescem e devolvem com juros desequilíbrios impensados dos pais. Estes mesmos pais, que se estressam tanto na busca de dinheiro, que se esquecem de se divertir, curtir e ouvir a família., As crianças imitam condutas. Imitam nossa hipocrisia. Esta geração está perdida, não a próxima, mas a nossa, dos adultos perdidos, filhos de adultos perdidos da era do preto-e-branco. Uma era que trazia a fácil missão de vencer na vida: ser igual aos pais e aos avós. Nossa geração viu tudo a cores. E via a hipocrisia grassar na geração que ficou entre a tradição e a inovação. Mas que hoje, ao invés de criar um mundo novo, insiste em afirmar as “verdades” falidas das gerações passadas.

As escolas podem salvar o mundo. Ao lado dos conteúdos tecnológicos e científicos que tanto precisamos, devemos pensar a família. Pensar a sociedade que pode mudar o jeito de lidar com o mundo, com o trabalho, com as pessoas. Não se trata de doutrinar certo ou errado, mas de admitir a diversidade e a pluralidade como base do equilíbrio familiar e social. Nosso mundo se perdeu. O das crianças, não.

 
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