Escrito por Gilmar de Oliveira
Oito da noite. Ligo para uma escola estadual da região Norte de Santa Catarina. A secretária atende e faço algumas perguntas.
- Quantos alunos estão inscritos para o ENEM? Quando será o vestibular simulado? E o interdisciplinar?
- Não sei lhe informar. Quem está falando?
- É da coordenação do Centro de Apoio à Educação Superior e Tecnológica (CAEST). Ligo para saber das ações voltadas para o apoio e esclarecimento dos estudantes sobre os vestibulares, quais os cursos, bolsas de estudo, como são feitas as orientações para processos seletivos em geral.
- Ah, sei... Melhor o senhor falar com o diretor do colégio, mas ele não se encontra. A coordenadora pedagógica está em sala (faltaram professores), ela deve saber, mas o senhor precisa ligar outra hora.
Passei o número do telefone, mas não retornaram. Tenho feito este trabalho desde o início de agosto. Escolho uma cidade, ligo para um colégio estadual, questiono. Quase sempre a mesma resposta.
Não há estrutura, nem trabalho específico, seja para incentivo ou esclarecimento sobre o vestibular, faculdades, cursos técnicos, nada! Algumas poucas escolas de Joinville e Jaraguá do Sul vão até a FURB ou à UNIVILLE, para conhecerem a estrutura.
Recebem UMA palestra sobre algumas áreas, mas o maior interesse da garotada, nestes casos, é em ver os cadáveres do Laboratório de Anatomia.
Nesta semana, abriram as inscrições para o vestibular da ACAFE. Perguntei a vinte estudantes de terceiros anos, inclusive de escolas particulares. Vinte escolas diferentes. Nenhum soube via escola, nenhum aluno avisado. Sequer sabiam que a UDESC, agora, tem o vestibular também vinculado à ACAFE. ENEM, UFSC, UDESC. Institutos federais, Universidade da Fronteira Sul, cursos técnicos do PRONATEC. Nada dos alunos saberem. Assuntos que passam no mais absoluto limbo na enorme maioria das escolas estaduais.
Com especialistas em falta na escola ou presos às salas, cobrindo faltas de professor, faltam chances de melhor organização de projetos que esclareçam sobre os cursos. Onde se cursa Ciência da Computação? Qual a diferença entre Tecnologia de Alimentos e Nutrição? Quem na escola tira dúvidas, de profissões, esclarece sobre bolsa de estudos, quais cursos, qual a concorrência?
Por que não esclarecem o mínimo necessário? Para piorar esta tragédia anunciada, os pais consideram as escolas dos filhos como "muito boas", em sua maioria, conforme pesquisa do Gustavo Ioschpe. É raro saber de pais cobrando por mais exercícios de vestibular, simulados, palestras...
Não existe nenhum CAEST. Se me identifico como imprensa, como articulista, disfarçam, maquia-se a realidade. Quando pensam que podem receber algo de alguma instituição que pode lhes apoiar, contam suas mazelas, expõe-se a triste realidade.
Importante lembrar (e cobrar melhorias) que as escolas da Rede Estadual, mesmo com algumas ações (por parte de educadores abnegados), ainda não oferecem ensino com qualidade, muitas caindo aos pedaços (às vezes, interditadas), com laboratórios e ambientes tecnológicos fechados, sem projetos pedagógicos voltados à vida profissional, no melhor momento de trabalhar este tema na cabeça dos alunos
Sem incentivo e ênfase ao tema, os jovens perdem o interesse e sequer sentem que todos podem ir em frente com os estudos. Muitos desses alunos demoram muitos anos (outros nunca chegam a ingressar) para ingressar em faculdades ou cursos tecnológicos. E lá, as faculdades perdem tempo com revisões de Matemática e Língua Portuguesa, que deveriam ser ensinados no Ensino Médio.
Futuro, nos dias de hoje, se faz com preparação e sólida formação. As vagas que exigem qualificação serão das pessoas preparadas, de dentro e de fora do país. Com tantas empresas e investimentos chegando à nossa região, a exigência da qualidade aumenta. Por isso as escolas precisam viabilizar tais mudanças: ensino de qualidade e encaminhamento consistente para sólida formação profissional.
Ou todos se mobilizam (escolas, famílias, jovens), ou entraremos na contramão da História.