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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Junho/2013)

A queda livre da autoestima do Professor

Escrito por Gilmar de Oliveira

A autoestima é um fator componente do caráter, se altera frente às situações da vida, podendo melhorar (ou piorar) o conceito e a imagem que a pessoa tem de si mesma e o que se espera que os demais pensem dela. Ou seja, é a avaliação do valor que damos a nós mesmos.

Nós brasileiros, temos um péssimo conceito sobre nós mesmos. Apesar de sempre sermos otimistas, nunca nos vemos como protagonistas de mudanças, nem como capazes de realizações importantes, de sermos parte de nossa própria história. Vemos o estrangeiro como melhor e mais capaz, esperamos que heróis ou santos tomem conta de nosso destino.

Basta olhar para as ruas, nessas manifestações que acompanhamos: é tanta coisa a reclamar, tanto a corrigir, que a manifestação perdeu o foco. Isto indica uma capacidade mínima de acreditar em si como protagonistas da própria história, deixando que aconteçam as mazelas. Que bom que acordaram!

Entre os professores, as pesquisas apontam como uma das classes profissionais com autoestima mais rebaixada. Quais seriam as causas desse fenômeno? É importante lembrar que o professor era uma autoridade social em qualquer país do mundo, até no Brasil. Cresci no Norte de Santa Catarina nos anos 80 e era comum a resposta “professora!”, quando se perguntavam para minhas primas ou vizinhas o que queriam ser quando crescer.

“Pedagogia? Letras? Minha filha, isto não vai dar dinheiro.” É provável que os jovens ouçam isso ao revelarem suas escolhas. Ao perguntar para uma criança o que ela quer ser quando crescer, mais fácil ouvir “juiz de futebol” como resposta do que “professor de matemática” (há quem argumente que o árbitro ganha mais e é menos ofendido que o professor). Normalmente os cursos mais concorridos (Engenharias, Direito, Fisioterapia, Medicina) são os procurados pela classe média e alta. Dinheiro atrai dinheiro. Mas muitos jovens de classe média, orientados por pessoas que conseguem ver um futuro melhor, sabem que ser professor é a grande profissão do futuro nos países emergentes.

Mas a origem humilde de muitos universitários egressos de escolas públicas expõe a péssima qualidade de ensino: muitos desses estudantes sofrem nos semestres iniciais por mal saberem ler. Vem do Ensino Médio sem interpretação de textos, sem domínio de hábitos de leitura, sem conhecer algum método científico, sem dominar cálculos simples. Sofrem por sentirem um enorme abismo entre os mestres, explicando suas teorias complexas, e suas realidades: trabalhar, estudar e tentar recuperar um nível educacional que os permita continuar.

Aí vem a dificuldade de se ensinar a ensinar, pois as teorias dos mestres que hoje empoleiram as cadeiras das faculdades explica tudo, menos uma forma de ensinar aos jovens como se explicam assuntos às crianças de forma efetiva. Isso gera nos futuros professores a insegurança e problemas típicos de início de carreira: chegam tão crus às escolas, tão despreparados profissionalmente, que parece que realmente o problema está neles.

A autoestima do professor continua a ser detonada, no campo profissional, pelos salários aviltantes, pelas péssimas condições de trabalho nas escolas: salas e laboratórios sem climatização, sem material moderno, dificuldades em geral, diretores e coordenadores pedagógicos nomeados por padrinhos políticos sem a devida base para uma gestão eficaz. 

Mas não é a péssima remuneração que diminui a autoestima nos profissionais. Nem apenas pelas péssimas condições de trabalho ou pela origem humilde que, continua humilde, pois pouquíssimos professores enriquecerão na carreira. Não é pela formação precária, nem pela falta de respeito dos alunos mal educados; mas por todos estes fatores juntos e presentes no cotidiano.

A mudança começa pelas exigências da classe profissional, por supervisão dos níveis de ensino e pela disseminação de uma cultura que demonstre, por A+B, que respeitar ao professor é respeitar a si mesmo e ao seu futuro!

 
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