Escrito por Gilmar de Oliveira
Começar o ano analisando fatos tristes e lamentáveis não é uma situação confortável. Por isso, tive a ideia de relembrar fatos bacanas de minha vida como professor de escola pública nos anos 90, e refletir as condições absurdas que levaram nossas escolas à ruína.
Iniciei como professor substituto em 1992, no Colégio Estadual Martins Veras, em Joinville. Uma escola robusta, construída nos anos 70, mas com um projeto de dois pisos. Havia uma grande vantagem: muitos professores efetivos com vontade de trabalhar e de mudar a Educação, o que gerava nos professores mais novos um belo exemplo de trabalho e de responsabilidade com os alunos. Havia até oposição ao trabalho dos diretores, mas havia diálogo, receptividade às ideias inovadoras, saber ouvir era visto como enriquecedor, mesmo que as opiniões divergissem. As diretoras trabalhavam e zelavam. Tudo funcionava!
Em 1993 também trabalhei no Colégio Plácido Olímpio de Oliveira. Apesar de antigo, o “Plácido” tinha, como no Marins Veras, um laboratório de Ciências (Química, Física e Biologia), ambos às moscas. Como é que os professores não utilizam este espaço para tirar as aulas da mesmice teórica? Bem, fora as aulas de campo e de laboratório (lecionava Ciências), as minhas aulas eram chatas e teóricas, olhando agora, na distância e maturidade que o tempo oferece à reflexão. Ainda assim, os alunos vibravam com as minhas aulas, pois já utilizava os conhecimentos adquiridos na faculdade, com meus excelentes professores de Psicologia Escolar: aulas vivenciais, aulas contextualizadas, exemplificadas e críticas faziam a diferença! Coloquei em prática: deu certo!
Entre 1994 e 1996 tive o prazer de ser o professor de Ciências na então Escola Básica Francisco Eberhardt, no Rio da Prata, linda área rural de Joinville, aos pés da Serra do Mar. Uma comunidade rica em histórias e vivências, em pluralidade cultural, pois cada estradinha isolada guardava tesouros em tradições quase extintas e a escola era um centro de referência na comunidade. Tudo era limpo, funcionava bem, mesmo sem verbas. O respeito que as famílias tinham pela tradicional escola era repassado aos alunos. Havia devoção pelos professores e pela diretora que, com qualidade e esforço, mantinha a escola nos níveis das melhores escolas particulares. Professores exigidos, prédio supervisionado e bem administrado. Cuidava-se muito da higiene, da pintura, das carteiras, banheiros, da horta e da forma como o conteúdo era trabalhado.
Tantas escolas que visitei para ministrar palestras e cursos, já formado (início de 1997), e outras tantas que trabalhei, hoje em ruínas, interditadas: O Plácido Olímpio está fechado há dois anos, num bairro que necessita de escola de Ensino Médio e de Cursos Profissionalizantes.
O Francisco Eberhardt foi interditado e notícia nacional, com alunos deslocados para a igreja e para o salão de bailes ao lado da escola, com salas provisórias sem paredes, sem condições dignas, vergonhosas. Uma escola que até 2000 era um modelo; virou uma sucata. Nunca mais ouvi um aluno ou professor dessa escola receber um prêmio, fato comum à minha época. Nunca mais o Plácido Olímpio levantou um troféu, pois era polo formador de atletas e de grandes profissionais das artes, da Educação e referência esportiva.
O Martins Veras virou pronto-socorro de alunos sem escola que passaram a ser deslocados para esta unidade, superlotando a escola, já sem grandes estruturas, até virar sucata, como tantos colégios em nosso Estado.
Onde andava a APP? Onde andava a supervisão de patrimônio? Onde estavam os “administradores” escolares? Onde andava o planejamento educacional? Onde andava a vigilância e seu trabalho preventivo? E se não interditassem, os alunos estudariam ainda nas sucatas da vergonhosa omissão, do Estado, das famílias, da própria Vigilância Sanitária?
Mas, eis um mistério: Como existem escolas até mais antigas, muito bem cuidadas, limpas, seguras e com aulas vivas? O que difere? A meu ver, Gestão, Competência e Vergonha na Cara!