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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Setembro/2012)

O Demônio da autonomia

Escrito por Gilmar de Oliveira

Mais um bilhete na agenda do meu filho. Novamente sem tarefa. Ah, tinha outro: um trabalho de Geografia incompleto. Ah, mais um... Os pais não assinaram a agenda.

Vou medir o diâmetro das panturrilhas do Nuno, pois ele sobe tantas vezes por semana as escadas de acesso à Orientação, para carimbar a agenda, que talvez aumente a massa muscular de suas pernas de sabiá.

O Nuno adora Karatê. Dois meses e subiu de faixa. Treinou muito o "Katá". Diariamente, não pedi. O que isso quer dizer? Se for interessante, uma criança faz com gosto. Sendo chato, evita. Ou insistem na tarefa chata, ensinando aos pequenos a detestar a escola, ou buscamos o seu interesse, inovamos!

A escola enviou-me bilhete para que eu compareça para "conversar" sobre meu filho. Respondi que deveriam enviar por escrito, de forma adiantada, o tema da "conversa", uma vez que minha última ida àquela escola caracterizou-se por um festival de críticas pessoais à minha atuação.

Dos ataques pessoais (traumatizei, acho...) a asneiras pedagógicas pré-históricas (copiar ajuda a ler melhor, por exemplo), da pressão psicológica ao questionamento dos motivos de insistir com meu filho em escola pública (naquela, especificamente), lembrei-me da fala de um professor do mestrado, que afirmava: "o que importa para a maioria dos profissionais desse tipo de educação (dessa vez, com "e" minúsculo) é o aluno ‘copiando matéria’, de ‘boca fechada’, como no séc. XVIII".

Respondendo aos velhos questionários de tarefas, ele pode ser mudo e ter deficiência mental, não ver um palmo de realidade à frente do nariz, haveria problema?

As centenas de empresas da região,que lucram com mão-de-obra barata, adoram. Gente adestrada a não pensar faz muito sucesso por aqui.

Eu exigiria tarefas diárias resolvidas dos meus filhos, se precisassem das tarefas para maior compreensão, ou se o critério de avaliação compreendesse uma atividade combinada e desafiadora, jamais exigida e maçante. Sabem a matéria: basta!

O Nuno pesquisa e aprofunda o assunto, para horror dos professores. Ele pesquisou sobre o pH da saliva, não se conformou com o que a professora disse à classe (segundo ele), que a saliva é ácida, para digerir alimentos (ai, meus dentes!!!).

Mas por que não teve coragem de apresentar a pesquisa, corrigindo a "Prô"? Também ouviu outra pérola: água salgada, não congela, porque o sal tem uma substância que evita o congelamento...

Ele encheu de copos no freezer, com água e diferentes quantidades de sal diluído para testar a "verdade" (Nuno disse: "todos congelaram, Pai! Por que a Prô disse diferente?"), mas não teve coragem de levar o resultado para a sala...Fez em diferentes temperaturas. A Prô errou... no conteúdo e na forma de comprovar a verdade.

Eu cobraria tarefa, se estivesse programada no planejamento das aulas, que nunca chegou a ser colado na agenda escolar, nem consta no site (?) da escola. Nem nos cadernos das disciplinas consta plano de aula ou de ensino, nem os objetivos das tarefas (habilidades adquiridas), nem critério de avaliação.

Talvez a equipe pedagógica da escola do Nuno tenha entendido que participação dos pais fica apenas em tarefa e uniforme. Eu sei que não é o que o município prega. Aliás,a Secretaria de Educação de Jaraguá do Sul preconiza sugestão e diálogo casa-escola, um intenso acompanhamento.

Atividade num mapa de fotocópia borrada ou viajar pelo Google Earth com imagens interativas? Devore a pesquisa digital! Mas conte à Pro, sem medo do que fizeste,filho! Então: entre sua pesquisa, com autonomia, por meio digital, ou um questionário estúpido, mal formulado e mal escrito, deixe a tarefa, meu filho! Faça se quiser e se tiver tempo, pesquise o que puder, mas aprenda! Caia na tentação, assuma consequências, mas exponha sua razão!

Ter autonomia é um perigo! Junto à democracia é o "mal" que as escolas (retrógradas), precisam banir da cabeça dos pequenos (não "escolas", mas a banda podre da Educação, os acomodados e desatualizados).

Banir a diversidade religiosa e sexual, extinguir sugestões sobre aulas diferenciadas e recursos modernos. Banir quem pede planejamento, critérios claros de avaliação, quem não assina "carimbos" de "não fez tarefa" porque sabe que o filho as fez, de forma diferente, devem ser achacados e seus filhos, perseguidos, aterrorizados, não é mesmo, leitor?

Ainda acredito na escola pública e de qualidade, pagamos por ela! Lutemos por ela! A escola precisa melhorar. Cômodo seria mudar de escola. Mas minha existência é incômoda, como um demônio a assombrar os fracos, com tentações de autonomia e inovação, contra a paz tola dos acomodados. Não, a vossa "verdade" não vos libertará!

 
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