Escrito por Gilmar de Oliveira
As escolas brasileiras, públicas e privadas, sofrem de um mal comum a ambas: o mau humor. As questões políticas e a falta de ascensão na carreira pode ser a causa nas escolas públicas, e a pressão de pais-clientes na direção que, por sua vez, repassa a pressão aos professores, aliada à necessidade de atingir níveis excelentes deixa o clima ruim nas escolas privadas. Claro, existem inúmeras outras causas em ambas as redes, mas o resultado desses desalinhos é um crônico mau humor.
Os alunos em geral são ativos, espertos, agitados (cada ano mais) e irreverentes, bem humorados. Muitos educadores justificam sua seriedade e a sisudez afirmando que, se "mostrarem os dentes" aos alunos, estes extravasam e perde-se o domínio da classe. Mais uma prova, para os que pensam assim, que continuamos a educar pelo medo e não pelo respeito.
Não é o salário que torna a escola pública uma sede do mau humor e do clima pesado. Municípios do norte catarinense estão entre os que pagam os melhores salários, mas é crescente o já enorme número de professores afastados por problemas emocionais, stress, depressão, ansiedade generalizada e até Síndrome de Burnout, o último estágio de esgotamento. Todas as semanas, recebo em meu consultório muitos educadores esgotados pela pressão, pela ausência de práticas que realmente funcionem para o aprendizado, pela coação moral (que aumenta em épocas de campanha política), ou por falta de apoio e pelo despreparo em lidar até mesmo com situações simples.
As escolas particulares, ávidas por resultados pedagógicos que tragam retorno financeiro, acabam por manterem uma pressão que, quando não passa do limite do bom senso, é até positiva, para evitar a acomodação natural.
Mas há anos enfrentam o fantasma de alunos mimados e mal-educados que, quando cometem indisciplinas, chamam os pais a lhes defenderem cegamente, passando recibo de conivência com as más ações dos filhos. Aí entra em ação o ego de pais emergentes, com dinheiro, mas sem cultura nem educação, com aquela triste sensação de poder e de superioridade de quem acha que o dinheiro compra até dignidade... Quando ameaçam tirar o filho da escola (e dizem que influenciarão mais famílias a fazerem o mesmo), provocam verdadeiro pânico nos gestores financeiros.
Os conteúdos trabalhados também acabam sendo sérios demais. Os livros pedagógicos raramente incentivam alguma associação, tem "cara" de informativo de funerária! Faça-me o favor! Imagine conteúdos que estimulassem mais criatividade, que utilizassem questionamentos e ferramentas de busca, que mostrasse erros crassos de quem não estuda ou não lê com atenção... Seria ou não mais divertido aprender?
Claro, não é possível inventar piada em tudo, mas um professor bem humorado, que utilize certas ironias, que faça associações engraçadas, auxilia até a compreender melhor um assunto ou fixar aquele detalhe que faz a diferença. Outro tópico importante é lembrar que quando um professor tem falas inusitadas, quando nunca se sabe o que esperar dele, a atenção do grupo é maior, o clima relacional se torna agradável, o respeito é compreendido e não imposto e há um ganho de qualidade na aprendizagem. Além disso, sempre acaba uma aula em gargalhadas, num clima natural de relaxamento que facilita o aprendizado.
Há uma enorme diferença entre ser engraçadinho e ser bem humorado. Assim como é bem diferente ser um professor bem humorado e criativo e ser um bobo da corte, querendo forçar para agradar. As escolas, sisudas por si só desde a arquitetura, precisam elucidar a equação que traga respeito, motivação e alegria associados à competência de quem vence metas e desafios, sorrindo.
Qualquer ramo de trabalho exige responsabilidade, atenção e seriedade. Não quer dizer que seja proibido um clima animado e sadio. Os funcionários de sucesso não têm medo de rir, nem de pagar um mico. Ser original aguça a criatividade e traz o desejo de se unir e colaborar. Xô, gente borocoxô!