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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Junho/2012)

Quem é o Professor?

Escrito por Gilmar de Oliveira

Em 2008, eu e meus alunos da faculdade INESA traçamos um perfil dos professores de nossa microrregião, sobre sua formação, seus hábitos, treinamento e formação continuada, salário, área de trabalho. Foi um levantamento que envolveu centenas de professores das três redes (estadual, municipal e particular), deixando a rede federal de fora por delimitarmos a pesquisa à Educação Infantil e ao ensino fundamental, onde rede federal não atua por aqui.

Com base nessa pesquisa (que vi como atual, ainda, em 2012), nos meus anos de docência e de acompanhamento dos professores, nos cursos, palestras e consultorias, resolvi descrever este ser incompreendido, fundamental na formação de uma sociedade equilibrada: o professor, o mestre, o docente. Eis o que podemos refletir sobre este profissional, razão da existência deste jornal, em sua edição de aniversário:

O professor é, antes de tudo, um profissional envolvido com as emoções humanas. Um profissional. Ser professor não é dom, não é arte. É ciência! Não é sacerdócio. É profissão! A sociedade, com a anuência de professores despreparados e políticos (que não sabem conceber Educação), criou certa aura de maternidade e de assistencialismo, na figura da "professorinha", um misto de substituta de pais omissos com provedora de necessidades, quase uma santa, com uma santa paciência. Quase a totalidade dos professores de nossa região possui diploma universitário, cerca de 70% fez ou faz pós-graduação. Deveria ser assim no Brasil todo, mas isso ainda é utopia. Quase todos pensam que o ensino superior foi útil e necessário, mas deixou, na opinião deles mesmos, a formação profissional de lado. Ponto para eles. As faculdades trabalham teorias mortas sobre Educação, mas se esquecem de ensinar as técnicas de manejo de alunos, de estimulação e foco nas aulas e recursos pedagógicos elementares.

Acima de tudo, enxergarmos essa classe como profissionais, assim como médicos, dentistas e engenheiros é fator decisivo para que possam ser respeitados nas suas lutas por salários, dignidade e qualidade do ambiente de trabalho. Quase a totalidade da classe citou o desrespeito da sociedade como causa da indisciplina e dos baixos salários. Excelente!

O contínuo aprendizado sobre o ser humano e seus mecanismos de aprendizagem é característica dessa profissão. O professor é o que transita sua práxis entre a aprendizagem e o conhecimento, por isso necessita de treinamento e formação continuada, para acompanhar o desenvolvimento social de seu público (crianças e jovens), as tecnologias, áreas de interesse, novas práticas de ensino, por exemplo. Praticamente 85% dos professores afirmaram ser oferecidos treinamentos e cursos num padrão satisfatório de frequência. Mas aqui reside uma problemática de vícios de funcionários públicos com estabilidade empregatícia: muitos profissionais se acomodam e, à medida que as horas de cursos não promovem mais aumento de seu nível salarial ou funcional, desistem de aprimorarem-se. Já ouvi de alguns educadores que não se interessam mais pelos cursos oferecidos, porque já cumpriram as horas para a elevação do nível no plano de carreira.

O professor tem o que há de mais importante em uma sociedade: a função de ensinar às novas gerações sobre o mundo, sobre a vida, sobre os mecanismos sociais que causam equilíbrio ou desequilíbrio na sociedade. Três quartos dos entrevistados sabem que seu trabalho tem tal responsabilidade, bem diferente de educar, que é função da família. Neutralidade e visão multidisciplinar para fazer os devidos encaminhamentos das situações de desajuste ou carências sociais não indicam frieza ou indiferença. Significa competência técnica e respeito à sua área. A maioria dos profissionais já sabe disso e que não se pode abraçar o mundo, que qualquer profissional precisa de ajuda, dentro e fora da escola.

É do professor a missão de ensinar a pensar, de desenvolver habilidades e potencialidades, e principalmente conscientizar a necessidade de um mundo ético, de um equilíbrio entre desenvolvimento e justiça, entre consumo e preservação, sem envolvimentos ideológicos. É o mestre que dá sentido a uma sociedade, que prepara o crescimento de uma nação. É nas mãos do professor que se diminui a criminalidade, que se prepara a mão de obra, que se preserva a saúde, que se maneja com responsabilidade o ambiente. Se o professor educa bem, o ambiente é mais limpo, a economia é diversificada e próspera; se educa mal, o país mergulha na miséria humana e material.

É com o preparo docente que se encontra a qualidade em tudo que é produzido por um país. Mas o professor não é mero formador de mão de obra: é um formador de cidadania, de espírito crítico, um formador de pessoas capazes de ler o mundo e o momento. Pessoas que não podem ser enganadas por políticos espertalhões ou líderes religiosos populistas, que lucram com a miséria humana e a imbecilidade dos alienados. Formar pessoas, formar mentes pensantes. O efeito colateral dessa atuação é o aumento da autoestima, da iniciativa de vida digna, de busca pelo que é justo para que o estudante possa acreditar que ele é peça importante na sociedade, que é com esforço e técnica, com ciência e com planejamento, que alcança seus sonhos.

Por isso é a classe que mais deve ser cobrada. E a mais valorizada! Por esta responsabilidade, por esta missão essencial à vida humana. Mas antes de ser cobrado pelos outros, o professor deve cobrar de si mesmo. Deve ser autocrítico, deve chacoalhar seus pares que se encontram no marasmo, devem chacoalhar a escola, a comunidade, transformar, sair da mesmice!

Aliás, sonhos. O professor é o realizador dos sonhos da infância. Dos sonhos da vida. Pelos professores voamos, levitamos, crescemos e nos tornamos gigantes.

Quem é o professor? É o piloto de nossos sonhos de vida. O barqueiro que cruza o limite entre o desejo de ser e o prazer de realizar.

 
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