Escrito por Gilmar de Oliveira
Nos últimos dias, monitorei dois dos maiores portais da internet no Brasil. São sites de acesso às notícias cotidianas do Brasil e do mundo. Fiquei observando o que era mais lido.
No site UOL, por diversas vezes a chamada de destaque se referia às acusações feitas contra o Senador Demóstenes Torres, de ligação com um famoso contraventor. É uma notícia forte, comprometedora da atual situação do país. Mas para meu espanto, havia quatro comentários sobre o assunto na área disponibilizada para os leitores opinarem. Isso se tratando de leitores do grupo Folha de São Paulo, o maior jornal do país junto ao maior provedor de internet do Brasil, ou seja, milhões de leitores diários.
Logo abaixo, uma notícia sobre Ana Maria Braga, a idosa apresentadora de pele esticada de um programa matinal, contava que esta saiu chorando de um cabaré quando um homem lhe ofereceu dinheiro, logo que chegou à SP para iniciar sua longínqua carreira. Uma notícia irrelevante, no meu modesto ponto de vista, que ficou por três dias como a mais lida do portal, chegando a mais de mil comentários numa tarde!
No site Terra, outro portal muito visitado, milhões de vezes ao dia, as notícias da vitória de Fael, vencedor do BBB12 (programa reality show da Rede Globo), chegava à casa dos 10 mil comentários. No Uol, na semana, havia para este mesmo factoide milhares de comentários, enquanto que o cenário político e educacional praticamente não tinham leitores, menos de dez comentários.
Futebol e novelas, milhares de leitores e comentaristas, política, educação, meia dúzia de gatos pingados. A meu ver, há algo de errado nesta situação, uma distorção do que realmente é importante para a sociedade.
Tal distorção se dá pela absoluta falta de conscientização social dos brasileiros, produto da ignorância política, que elege estes que se colocam à votação.
Mas de onde vem a ignorância política? Vem do analfabetismo político disseminado nas escolas! De religião cristã (distorcida pela miopia de professores-fieis-fanáticos) e de assuntos irrelevantes encravados nos currículos, temos milhares de horas inúteis de péssimo ensino; de sociedade, consumo, economia doméstica, políticas contra a discriminação racial, sexual e social e tantos temas cruciais ao desenvolvimento de uma sociedade justa, equilibrada e sadia, nenhuma linha.
As famílias praticamente não discutem mais política, jamais a entenderam. Torcem o nariz para este assunto, xingam os políticos de ladrões, mas se vendem por favores eleitoreiros e votam no vereador que paga a gasolina para ter seu nome pintado no vidro do carro. Portanto, família no Brasil não dialoga nem analisa situações minimamente complexas.
As escolas se entopem de assuntos irrelevantes, que mal estimulam o raciocínio lógico (se é que estimulam...) e fogem longe de contextualizar as situações. Entre uma maquete e outra, entre um versinho e uma copiazinha, mais assuntos chatos que não esclarecem o mundo, tampouco permite uma leitura crítica e embasada das situações sociais do país. Natureza, sustentabilidade, futuro e sociedade passam longe da escola.
Precisa-se oferecer aos professores o devido treinamento, e deles exigir (e cada educador exigir de si mesmo) a disposição e o desejo de montar aulas interessantes, que despertem o sentido de vida, de mundo, de coletividade e ética nas novas gerações. Com os assuntos vivenciados, estimular o espírito instigador, crítico e esclarecedor nos alunos.
É a única chance, via escola, de termos uma sociedade equilibrada, justa, com reais oportunidades a todos. Ou continuaremos a ver novela e enlatado americano, a ler notícia policial suja de sangue e vendo cada vez mais pessoas buscando na internet a pornografia, jogos virtuais (crianças e adolescentes), vida de artista, fofoca e futebol (adultos).
Os mais velhos jamais se corrigirão da alienação; os alunos, por sua vez, precisam de um norte, de preparo para pensar com autonomia, serem capazes de fazer um mundo melhor, competindo com equilíbrio social no mundo globalizado e capitalista que deixamos construir.
Caso contrário, a atual alienação social e pedagógica (do ensino moderno e contextualizado com a vida prática) trará uma sociedade com jovens ainda mais perdidos, manipuláveis, ainda mais privados do exercício da cidadania, ainda piores do que estes que vemos hoje pelas ruas.
O professor pode melhorar o futuro, desde que volte a pensar como fazer voltar a pensar.