Escrito por Gilmar de Oliveira
Voltamos às aulas e às rotinas diárias de estudos, trânsito, horário para dormir, acordar, almoçar, resolver tarefas e elaborar trabalhos. Que bom. É assim que construímos um futuro, ainda que incerto, pois nada na vida depende somente de nós ou de nosso talento (os brasileiros sabem muito bem disso), mas certas obrigações reduzem as chances de fracassar na vida. Estudar e cumprir obrigações faz parte deste grupo.
Creio que seja bem mais proveitoso, neste momento, oportunizar uma reflexão sobre a necessidade de algumas mudanças na forma de lidar e definir a escola, por nós adultos, tanto pais como educadores, que resulte em um cotidiano mais realista e desafiador.
Em primeiro lugar, admitamos: a escola é chata sim, na forma como ela se apresenta hoje em dia. Nada de contrariar esta opinião dos pequenos. A escola pouco mudou da Idade Média para hoje em dia, não atrai mais ninguém, nem os assuntos são relevantes, na imensa maioria, para qualquer ser normal que viva sobre o chão. Um habitante do Antigo Egito nada reconheceria do nosso mundo, se acordasse hoje, mas não se enganaria ao identificar uma escola.
Embora chata, é hora de mostrarmos aos estudantes que o mundo é feito com regras e obrigações e que nem tudo (na verdade, quase nada) é feito apenas de prazer, lazer e oba-oba.
Ou seja, a escola é chata, os assuntos sem sentido, mas temos de ir e ponto final. E ir para aprender, questionar e tirar as melhores notas e respeitar a todos, por obrigação ou por consciência, mas que seja assim.
Os pais precisam mostrar aos filhos que este mundo de prazer e fantasia que insistem em proporcionar a cada segundo aos pequenos, não existe.
E os filhos sabem, porque eles enxergam muito bem o jeito que retornamos do trabalho: cansados ou pior: cansados e estressados. Outros, à beira de um surto. Quem ama o que faz, até se apresenta melhor, mas deve mostrar quanto custa atingir este nível de qualidade de vida.
As crianças tendem a ver os pais como meros provedores, que já nasceram como são e que vivem apenas para dar o melhor aos filhos. Estes não viram o processo de formação de nossa vida e os momentos de aperto, nossos sacrifícios. Nós, adultos, esquecemos de mostrar.
A vida é assim, tudo tem um preço. Quem é honesto sabe o quanto custa ter uma vida de conforto. Isto requer esforço e certa dose de sacrifício (para os honestos), geralmente menos que estudar os conteúdos da escola.
Em segundo lugar, os educadores precisam aprender a ouvir os estudantes, vê-los como donos de alguma verdade no discurso “a escola é chata”.
Hora de refletir sobre como educar para a vida, para entender o mundo com seus desafios e suas oportunidades. Hora de dar sentido nos conteúdos, privar os alunos de coisas que para nada se usa ou que apenas quem for cientista ou engenheiro terá de saber.
Passou da hora de exigir, sim, esforço para conseguir notas, de punir as faltas, de ver os alunos como seres que sabem definir entre certo e errado e que devem se acostumar a viver com regras e fazer sacrifícios e certas renúncias.
Mas antes de tudo oferecer qualidade no que se ensina; aliar conhecimento à modernidade, com aulas gostosas, cheias de vínculos com a realidade e com descobertas, trocar conhecimentos, desafiar os alunos a trazerem mais, a fazer melhor a cada dia.
Claro que teremos aulas chatas, cedo ou tarde, por mais vinculada com a realidade e com o mundo moderno que a escola seja. Mas sendo exceção, os alunos saberão que o esforço valerá a pena.
Mudar o discurso em casa, apertar o cinto na educação dos filhos mexe na zona de conforto dos pais, como mexe com os professores acomodados. Mas muda a vida de quem fará o mundo melhor.