Escrito por Gilmar de Oliveira
Por mais estranho que possa parecer, existem, e muitos, pais que não suportam dividir seu tempo e seu mundo com os próprios filhos. Para eles somente o que eles dizem e o que fazem é certo e é bom. Aí suportam ficar próximos de suas crias, quando percebem que são admirados. Esquecem que em casa são pais, não são os profissionais ávidos por cargos e dinheiro que incorporam quando colocam o pé fora de casa.
Há, em muitos adultos de nosso tempo, uma necessidade incrível de se autoafirmar em tudo que podem, em mostrar sua grandiloqüência (na verdade sua presunção) em todo ser vivente ao seu redor. É uma forma de tentar preencher um vazio existencial que assola os que vivem sem maiores perspectivas, num mundo tão chato, do ponto de vista “politicamente correto”, e tão competitivo, sob a ótica capitalista e consumista de nossa sociedade.
Seria melhor que abdicassem da paternidade ou da maternidade, para ambos, pais ou criança, mas estes por questões sociais ainda ficam ao lado de seus filhos, mesmo a contragosto. Os muitos relatos que tenho ouvido nos últimos anos confirmam minha afirmação. Como tenho por norma não julgar nem me deixar levar pela situação do outro, procuro entender então o que se passava na cabeça da pessoa que quer ter um filho que mais tarde será um estorvo. Talvez o mesmo que leva um educador a aceitar trabalhar em escolas onde detestam tudo, mesmo sabendo deste tudo que os esperava antes de assinarem um contrato: imediatismo, o calor do momento sem pensar num depois.
Atualmente, na nossa região, a educação de casa é caótica! Os pais atuais são inseguros, neuróticos e ansiosos demais, passam suas angústias de ambição aos filhos, excedem nos deslizes de maus exemplos. O resultado, vemos nas ruas: falta educação e sobram mortes no trânsito, sumiram os bons modos sociais e o respeito ao outro e ao coletivo. Os outros, para as crianças desses pais, parecem objetos que se pode desprezar. Os pais, impotentes e sem voz dentro de casa, continuam machistas, não se abrem às mudanças que forneçam justiça e igualdade, têm preconceitos que os filhos refletem na escola e na sociedade, acham que a Lei é para os outros, mas consigo mesmo são permissivos.
Vamos dar exemplos da permissividade e da corrupção presentes nas nossas famílias? Vejamos coisas comuns, porém, jamais normais: baixam músicas e filmes piratas, sonegam imposto, compram produtos vindos de contrabando, param em fila dupla na frente das escolas, burlam leis, furam fila até no cinema, lidam mal até com a dieta dos filhos, mas juram que são exemplares. Em frente da escola dos meus filhos, os pais param no meio da rua para os reizinhos descerem, desrespeitam a faixa de segurança, parecem selvagens. Que exemplo eles dão às crianças? Como cobrar dos políticos se ensinamos a nossos filhos que o errado para nós é certo?
Importante frisar que não é a escola que deve ensinar isso: Honestidade e bons modos aprende-se em casa. Estamos criando uma geração permissiva, imediatista e mais corrupta ainda, mas a escola não deve substituir a família e se perde quando tenta fazer tal bobagem.
Para valores de convivência imutáveis, quem instrui são os pais, para coisas simples e tão importantes como desejar bom dia, agradecer, saber a hora certa de falar e de calar, pedir licença, ser polido e ter bons modos. Isso vem de casa.
Qual o papel da escola nesse processo? Ao invés de deixarmos nossos alunos mofando sobre matérias inertes, um projeto cairia bem: estudar e discutir o planejamento familiar. Estudar a construção da própria família, saber de si mesmo e da história de vida dos pais, refletir sobre elas para construir vidas melhores ou tão positivas quanto puderem. Isto levaria a novas questões: estudar o planejamento de vida, estudar questões da economia dos lares, sobre número de filhos, sobre profissões, a gravidez indesejada, o melhor momento de se constituir família, as novas composições familiares e por aí vai.
Nossos jovens estão precisando pensar. Pensar sobre o futuro. Pensar sobre planejamento de suas ações, criar uma identidade, para evitar que um traficante convença-os e distorça suas definições sobre si com modelos positivos de conduta. Quem pensa isto nas aulas de matemática? E tais questões em Língua Portuguesa? O que é mais importante? Báscara, adjuntos adnominais ou criar uma geração consciente de sua vida e responsáveis pelas outras? Se nossos pais tivessem estas disciplinas, estaríamos numa sociedade melhor, menor, com menos pessoas sofrendo e menos gente desequilibrada. Uma amiga, educadora das boas, sempre diz a seus alunos: “quanto mais filhos ter, mais pobres vão ser”. E não adianta reclamar dos filhos. Vovó dizia: “a fruta não cai longe da árvore”.