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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Setembro/2011)

Mais aprendizado, menos assuntos vazios

Escrito por Gilmar de Oliveira

Pergunta: Olá Prof. Gilmar, 

Este ano eu refleti sobre o meu planejamento anual, e resolvi diminuir a quantidade de conteúdos a serem trabalhados para os próximos anos.

O Professor também pensa dessa maneira? “Enxugar” o planejamento, assim poder trabalhar o pouco com mais detalhes? Fábio, Itapoá, SC (professor de matemática).

 

Resposta: Oi Fábio!

Você fez muito bem em rever seu planejamento. Afinal, é melhor priorizar a qualidade no lugar da quantidade. 

Vejo como muito sábia a decisão de retornar um olhar sobre o planejamento anual, sobre o plano de ensino de cada série que o professor leciona. E mais saudável ainda é dispensar conteúdos que em nada acrescentam na vida do aluno, conteúdos que são desprovidos de sentido real.

Afinal, os pesquisadores em Neuropsicologia há tempos afirmam que não é a maior complexidade de exercícios em exatas que geram os melhores resultados no raciocínio lógico. Para a imensa maioria dos estudantes, é a prática repetitiva do método correto e sua conseguinte reflexão do processo (e não uma mera fórmula sem sentido) que levam o aluno a pensar a matemática e dar-lhe sentido em sua vida.

Um exemplo: Fui à loja de calçados no sábado e um tênis para meu filho custou 66 reais e 45 centavos. Na hora, puxei 70 reais da carteira (um: era semana de pagamento; dois: era a metade do preço; três: sou pão-duro mesmo!), mais um real e 45 centavos para facilitar a vida do caixa e voltar 5 reais de troco.

Para meu espanto e do Bruno, de 9 anos, a atendente usou a calculadora para somar as notas e moedas e depois não sabia fazer a operação que me daria um troco de 5 reais! Meu filho olhou, pensou e respondeu quanto voltaria.

Ela não só não pensou a Matemática como nem demonstrou atenção ao que lhe disse, de facilitar o troco, nem tinha consciência do que fazia. Uma vendedora “tecladora” que se formou, no mínimo, no Ensino Médio.

A pobre moça demorou incríveis 3 minutos para compreender a operação... O que a escola fez por ela? O que os profissionais que por anos trabalharam aquela cabeça cheia de anseios puderam perceber do que aprendia nas aulas? 

Como é amplamente conhecido, leitor, eu tenho discalculia e ainda assim consigo, com esforço e boa vontade, pensar a matemática para ao menos facilitar o troco. Graças aos meus professores e à bagunça do ensino nas escolas estaduais na época do meu Ensino Fundamental que, nas trocas constantes de professores, repetiam os mesmos assuntos diversas vezes. Mas ajudou-me, como percebi que ajuda para meus filhos.

Assim, reflitamos: quem nos garante que os alunos aprendem mais passando mais conteúdos? E sejamos honestos: fora as quatro operações básicas (que menos da metade aprende nos 9 anos iniciais do ciclo básico), a leitura e a escrita (menos de 45% aprende no mesmo período citado, segundo o próprio MEC), o que mais se aprende na escola, atualmente?

Minha filha de 4 anos e meio, por exemplo, ao entrar na escola, no Jardim I que agora se integra à escola de Educação Básica, aprendeu que “SESCO é assim, Ó (colocando o dedo indicador num círculo feito com os dedos da outra mão, num sentido de penetração, numa alusão a sexo)”!! Aprende-se pornografia e preconceitos com alunos mais velhos, aprende-se a não gostar de estudar, a ver tudo como chato e quase sempre sem sentido.

 Imagino que uma maior gama de conteúdos, não eleva a chance de se reter algo que faça contato com a realidade ou vislumbre um novo horizonte na vida do aluno.

Com menos conteúdos, aqueles realmente que fazem sentido, a chance de haver interesse é bem maior. No caso da matemática, a chance de resolver problemas simples aumenta com maior tempo de exposição prática à matemática.

E aumenta mais ainda com a possibilidade do professor contextualizar cálculos, resolver de modo prático e ensinar baseado em projetos e contextos interdisciplinares

Afinal, com menos conteúdos pode-se planejar mais aulas-oficinas, aulas em laboratório, levá-los para campo, planejar atividades contextualizadas sobre os mesmos temas, com um aproveitamento muito maior.

Imagine se eles não vão gostar... Isso em todas as disciplinas: cumplicidade, ser e fazer, criar e resolver, entender e progredir. Quem não gosta?

 
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