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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Julho/2011)

Diagnósticos precoces e imprecisos: Um mal das escolas brasileiras

Escrito por Gilmar de Oliveira

Pergunta: “Dr. Gilmar li seu artigo sobre idade certa para alfabetização. Meu filho tem 7 anos e 10 meses e está no 2º ano (1ª série) de uma escola que segue o sistema Anglo de ensino desde os 4 anos. Todos os colegas de sala já estão lendo fluentemente com exceção dele. Ele lê sílaba por sílaba e tem ainda muita dificuldade, porém escreve bem com letra cursiva, segue sequências matemáticas, faz contas, interpreta textos. 

 

Ele perdeu o pai com 3 anos e em agosto do ano passado foi diagnosticado com diabetes tipo 1 (é insulino-dependente) o que foi motivo de muitas faltas na escola. Agora, a diretora acha que ele está com dislexia. Eu acho que ele não é maduro emocionalmente (opinião do endócrino também). Sei que por email é difícil de analisar, mas estou tão perdida. Minha cidade é pequena e não tem recursos, profissionais gabaritados, por isso peço sua opinião.  (A.C., Interior de São Paulo)”

 

Resposta: Obrigado por seu contato. Realmente, a questão aí não se resume na falta de informação de sua diretora. O problema é que muitos educadores que se preocupam com os alunos com distúrbios de aprendizagem (ou dificuldades ou ainda atraso na aprendizagem, como parece ser o caso de seu filho), mas pouco ou nada sabem de avaliações específicas, surgem diagnósticos desprovidos de fundamento.

 

Vamos a uma questão que há tempos vem sendo alertada por psicólogos e neurologistas, que encontram respaldo na seguinte pesquisa: “Quase 75% das crianças e dos adolescentes brasileiros que tomam remédios para déficit de atenção não foram diagnosticados corretamente, segundo pesquisa divulgada no 3º Congresso Mundial de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), na Alemanha, no fim de abril.”Telma Vinha, especialista em Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colunista da Revista Nova Escola, afirma que “Medicar uma criança sem um diagnóstico preciso é um erro”... (fonte:www. dignow.org e muitos sites de notícias em julho de 2011)

 

Um exemplo é a suposta dislexia de seu filho: Após os 10 anos, ao final dos 4 (agora 5) anos iniciais é que se pode dar um parecer diagnóstico sobre dislexia. Ela deveria saber disso. 

 

Normalmente os diagnósticos são feitos por professores ou especialistas pós-graduados em psicopedagogia, mas que trabalham como professores nas escolas (e se é professor e não psicopedagogo, não deveria vestir a carapuça e atuar noutra função que não conste no contrato de trabalho), não dispõem de instrumentos e locais adequados para que uma testagem seja minimamente confiável. Mas com base em relatos, sites, desenterram diagnósticos que mais atrapalham do que ajudam. 

 

Noutras, médicos neurologistas atestam TDA-H com frequência e fidelizam pacientes que, em geral, medicados com Ritalina, ficam mais quietos e até mesmo atentos, para a alegria dos pais ineptos e prejuízo ao cérebro das crianças, pelo uso desnecessário da “droga da obediência”, como a Ritalina é chamada. Médicos com pacientes fiéis, pais mais sossegados e filhos zumbis. 

 

Quanto a seu filho, ele ainda está em idade de alfabetização e, pelo visto, está indo bem, mas no ritmo dele, que deve ser respeitado. Apesar de novo, ele entende e percebe a ansiedade à sua volta, mas a recebe com culpa e pesar, por não corresponder, por mais que disfarce e seja ativo e alegre.

 

A diabetes é sim uma causa possível de lentidão da aprendizagem na maioria das crianças com este problema de saúde. Principalmente na leitura e escrita. São alterações metabólicas que podem causar reações nos mecanismos cerebrais que envolvem memória visual e áreas de simbolização. É uma possibilidade, pode até não existir esta situação ocorrendo com seu filho, mas existe a chance.

 

Quanto à letra cursiva e as demais habilidades são evidências de que ele tem boa memória visual, boa coordenação visomotora (embora as escolas copiem demais), boa atenção e bom raciocínio.

 

Mas com as faltas à escola, com algumas dificuldades emocionais sobre a perda do pai (às vezes levantadas por nós adultos... se nós sentimos, eles sentem e não superam), a pressão da comparação com os demais da escola, atrasa a escrita sim. Embora, reforço, SEU FILHO AINDA ESTÁ dentro da normalidade.

 

Deixe as coisas acontecerem e cultive hábito da leitura com ele. leia palavras simples, brinque de escolinha pedindo para que escreva o nome de objetos da casa, leia histórias de livros infantis, caminhe na rua e peça para ele ler as fachadas das lojas, o nome das ruas, etc... mãe e filho curtindo leitura juntos. Sem muita preocupação e sem cobrança, curta cada palavra lida, cada frase escrita, escreva bilhetes surpresas para ele. Tudo com o propósito de curtir a forma como ele lê em cada  momento, que é único. Estas atitudes são o melhor incentivo ao mundo letrado. Faça e veremos os resultados em breve.

 

Um grande abraço.

 
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