Escrito por Gilmar de Oliveira
Pergunta:
Meu nome é Louise (nome fictício), sou estudante de pedagogia no sistema EAD, pela Faculdade Internacional de Curitiba. Estava fazendo uma pesquisa e li o teu artigo: “Valores Morais na escola: Perigoso Veneno” (maio de 2008) e gostei muito do que li. Estou terminando meu trabalho de conclusão, e o tema do meu trabalho é Valores Morais na Escola.
A maior dúvida, nas entrevistas que realizei com os professores, era o que realmente compete a escola. É a escola e os professores que devem ensinar o que são os valores e normas de conduta, ou o aluno deve aprender com a sua família? Há um jogo de empurra, os pais responsabilizam a escola e vice-versa.
Em um trecho de seu artigo:(...) Dar noções de mundo, de cidadania é papel da escola. (...)
Na maioria das vezes isto é esquecido. Bom, temos que trabalhar muito na questão da educação e na formação continuada para professores. Enfim há um longo trabalho pela frente.
Desde já agradeço.
Resposta:
Vamos primeiro às diferenciações do termo: o que é MORAL? É um conjunto de valores dados por determinado grupo social ou alguma instituição, que normatiza a conduta, a forma de ser e de agir, de pensar, de assimilar costumes e maneiras considerados adequados e característicos de determinado grupo. É um traço da cultura de determinado grupo. Pode ou não ser tendencioso ou levar ao preconceito, por exemplo: mulheres de saia e sem cortar cabelo, mulher não ser sacerdote, homens sustentam a casa... Se um homem diz que é “do lar” e que é a esposa trabalha fora, como ele é visto pelo meio social?
A Moral muda conforme o tempo: mulher corta cabelo, estuda à noite, faz faculdade, homens pintam cabelo, se divorciam...
Agora vamos à definição de ÉTICA: conjunto de princípios que norteiam as relações entre pessoas e grupos. São princípios universais e que não mudam com o tempo (atemporais), que estruturam as relações, que trazem bases de convivência e fundamentam valores, cultura, cidadania e até costumes. A Ética fundamenta, dá bases, mas não dita regras ou costumes. Mas o ensino da Ética nos leva a pensar e entender os motivos do que é ou não lícito na sociedade.
É aí que entra a escola: ao invés da escola dizer o que é certo ou errado, é papel (designado por lei) levar o aluno a pensar seu mundo, seus valores e princípios, pensar os motivos de alguma atitude ser certa ou errada, pensar os valores familiares e suas diferenças entre famílias e entre suas origens, promovendo a inclusão e a pluralidade de valores e de conhecimentos.
É papel da escola promover o debate e a reflexão, oportunizar a compreensão dos valores e da cidadania, promover a inclusão, a igualdade, a liberdade de expressão, o senso de justiça e de equidade (todos princípios da Ética, que sublinhei).
Você oferece liberdade ao aluno e ele responde com a cidadania que tanto nos falta.
A escola oferece a Ética e o debate sobre os costumes e valores sociais, sem ditá-los. Uma vez que a escola se propõe a ensinar valores morais, quais valores serão ensinados?
Vamos a alguns exemplos: Num colégio de determinada religião, se pregará noções morais sobre sexualidade conforme a moral daquela religião, tanto para quem a segue como para quem não a segue. Noutra escola, um professor pregará sobre o que acha certo como verdade de todos, mesmo sendo apenas o ponto de vista dele, abrindo chance para muitos outros darem seus pontos de vista, éticos ou não.
Eu ouvi, certa vez, de um professor de Ensino Religioso, que os descendentes de Caim, conforme o Velho Testamento, foram marcados na pele. Ele disse que eram o negros os descendentes de Caim, o Assassino, por isso que eles sempre eram pobres e a maioria maldosos. Quantos racistas ele criou?
A Ética não ensina nem dita: ela explica os princípios. Imagine num mundo tão pluralista como a sociedade contemporânea pós internet? Simples: Não ensinar valores. Discuti-los, apenas.
A Escola brasileira sempre valorizou o status quo da sociedade, sempre se educou com os valores de quem dominou a sociedade e impediu que tivéssemos mobilidade social. Ou seja: a escola brasileira sempre apoiou a exclusão, disfarçada de valores morais. Daí vem o preconceito, o ódio, a desigualdade social, o racismo... As famílias não devem ser substitutas da escola. Cada uma tem seu papel na formação do cidadão.
Cabe à escola de hoje formar aos futuros e às futuras chefes de famílias, uma visão ética do mundo.
Abraços!
Nota da Editora: É grande o número de leitores e leitoras que nos enviam correspondência, especialmente eletrônica. E, a partir desta edição, estaremos respondendo resumidamente àquelas cartas que considerarmos mais abrangentes.