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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Setembro/2010)

Informática nas escolas: Uma estranha que precisamos conhecer

Escrito por Gilmar de Oliveira

Resolvi fazer uma enquete sobre o uso da informática nas aulas em diversas cidades de Santa Catarina. Levei quase todo o mês de agosto. 

Usei as seguintes ferramentas: Google e enquete direta com meus alunos e ex-alunos dos cursos de pós-graduação em que leciono, pessoalmente e por e-mail. Peguei na internet o nome de escolas de diversos municípios catarinenses e liguei para muitas escolas, querendo saber de algum projeto de Informática em andamento.

Perguntei nas aulas de pós, quantos dos professores presentes usam, ao menos uma vez por mês, o laboratório de Informática da escola para desenvolver algum tema de suas aulas, para incrementar, ilustrar, desenvolver alguma etapa do processo de ensino no currículo normal ou mesmo de algum dos diversos temas transversais. Algum projeto utilizado, ao menos.

Mandei e-mails para vários professores, meus ex-alunos, conhecidos da área de Educação. A resposta foi desoladora. Talvez, leitor, desesperadora. Encontrei pouquíssimas respostas positivas sobre o uso de computadores nas aulas, quase sempre estratégias básicas e elementares, de pouco valor cognitivo. Creio que devido à pouca habilidade com programas mais capazes de ensinar empolgando.

Muitos desses professores riam quando eu citava laboratório de informática. É um luxo que a maioria das escolas de Santa Catarina (e do Brasil) ainda não dispõe. Sim, leitor: Um luxo. Algo fora da realidade. 

Em algumas escolas falta até giz, numa época onde o quadro branco e o canetão hidrográfico se disseminam, ajudando a saúde dos educadores. Claro: Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e Japão, dentre outros países, já possuem quadros de LCD ou Plasma em cada sala de aula do país e cada mesa de aluno com um laptop ao menos.

O resultado é que mesmo em escolas particulares ainda não é frequente o uso da informática para se desenvolver um tema, atualizar assuntos ou buscar exercícios que desenvolvam ou aprofundem os conhecimentos curriculares.

Ainda estamos no tempo da saliva e giz, dos cartazes feios colados nas paredes das escolas.

Nas escolas municipais da maioria dos municípios com menos de 45 mil habitantes, até encontram-se computadores, mas nenhum projeto em andamento foi encontrado.

E segundo as secretárias ou bolsistas que atenderam aos telefonemas, é raro o uso das salas de informática pelos professores.

A realidade é que poucos mestres sabem usar o computador como recurso pedagógico, que é. Pouco vídeo, pouco uso de outros laboratórios.

É fácil encontrar professores (dos poucos que usam a informática) que ligam os computadores, clicam em algum site sobre o assunto a ser abordado e dirigem os alunos para uma mera cópia, como se a tela do desktop fosse um mini quadro. Tal situação qualquer visitante encontra nas escolas públicas, atualmente.Isso não é aula de informática.

Mesmo com cursos de capacitação oferecidos pelo Estado, o desânimo dos professores (e seu constante estado de penúria) e a falta de tempo, de planejamento e pesquisa (aula-atividade mal usada) gera uma aula longe dos recursos multimídia, monótona, igual às aulas dos jesuítas, há 500 anos.

Uma aula modorrenta, com assuntos longe da realidade onde poucos professores sabem afirmar a serventia de tais conteúdos na vida do aluno. Uma aula que concorre com atividades mais interessantes para despertar o interesse dos jovens: videogame, computador, televisão e seus programas agitados, moderninhos e que fazem nossos alunos colarem no vídeo.

Ninguém é culpado do desinteresse dos alunos. Os professores sem tempo, ferramentas ou conhecimento. Os especialistas sem as devidas condições de organizar e desenvolver projetos com a informática. Os secretários e demais comissionados sem o devido preparo pedagógico e sem equipamentos para o uso nas escolas sob sua coordenação. As universidades que pouco investem em aulas que ensinam a ensinar com informática.

Lembro de uma turma que acompanhei, isso em 1998, aqui na região mesmo, que fazia CD ROM sobre os assuntos, com slides, fotos, exercícios, principalmente sobre Biologia. Eles aprendiam muito, desenvolviam gosto pela leitura e pela pesquisa, usavam as habilidades em informática (olhe o ano) e enriqueciam o conteúdo de tal forma que outros professores passaram a usar da mesma técnica e até surgiram projetos interdisciplinares. 

Mesmo os alunos com dificuldades de aprendizagem aprendem (no mais amplo sentido do termo aprender), usando ferramentas multimídia: alunos disléxicos, discalculistas, alunos com Déficits de Atenção, deficientes mentais, paralisados cerebrais... todos podem aprender e reter conhecimentos que se tornam soluções e respostas às suas vidas, quando o uso do computador e de recursos eletrônicos em geral adentram a sala de aula.

São alunos mais motivados, aulas mais dinâmicas, professores com domínio de turma e de conteúdo que os tornam realizados. Continue a minha enquete, leitor. Visite uma escola e comprove o que a minha enquete informal descobriu.

 
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