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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Julho/2010)

Outra vez moral na escola. Por que não ensinamos ética?

Escrito por Gilmar de Oliveira

A escola brasileira comete um erro muito pior que seus desastrosos resultados acadêmicos. É um erro crucial no desenvolvimento de nossos filhos: querer suprir o papel dos pais na formação do caráter.

Educar para os valores morais não é e nunca foi função de escola. Moral é função da família. Se a família não educa nem forma pessoa de grande caráter hoje em dia, não é problema da escola.

A escola deve investir, se ainda pretender servir para alguma coisa na sociedade dos tempos da informação-tesouro, na FORMAÇÃO ÉTICA de seus alunos. Educar para a Ética.

A moral deve ser pensada e analisada, nunca dogmatizada, nunca repassada como se fosse verdade suprema. A ética é o princípio do relacionamento equilibrado entre pessoa e sociedade. A moral é o conjunto de costumes e valores de um determinado momento da sociedade.

A moral depende da época, da elite dominante que empurra seus valores para uma sociedade dominada e sem base para um pensamento mais profundo. A moral ensina o que é certo ou errado hoje. Se os valores da sociedade ou dos poderosos mudam num breve amanhã, as pessoas educadas na moral perdem suas referências.

Ou seja: a escola não serviu para fazer pensar, apenas para adestrar nossos filhos. Se os comandos do adestramento mudam, temos uma sociedade baseada no caos, feito a nossa atualmente.

A escola brasileira, de todos os níveis, fez isso nos últimos 40, 50 anos. Depois do golpe militar de 1964, tínhamos até uma disciplina chamada educação moral e cívica. O supra sumo do adestramento social. Ainda bem que mal servia para ensinar os hinos pátrios, de tão mal elaborada e de tão chata. Mas poderia ser um veneno, se nossos professores fossem melhores (ou piores, depende o ponto de vista).

Não é parte do arsenal profissional de um professor ensinar que roubar é errado. Já disse isso aqui meses atrás (maio/2008). Recebi muitas críticas. Provoco de novo, então: um professor não deve dizer que roubar ou matar é errado. Deve orientar e levar ao entendimento que atos contrários à Lei são crimes!

Deve levar ao aluno à informação e fazê-lo concluir os motivos pelos quais os atos contrários à Lei são condenáveis pela Sociedade. Deve ensinar PRINCÍPIOS ÉTICOS, NUNCA ENSINAR VALORES MORAIS. 

Os únicos que podem educar valores são nossos pais ou os sacerdotes religiosos com seus dogmas, com autorização das famílias. É direito dos pais. Problema deles. Se o professor quer ensinar o que é certo ou errado, não ensina sua disciplina e ensina a vida com os próprios olhos. Azar nosso.

Se um pai quiser educar que roubar ou mentir ou matar é certo, isso é uma questão dele. A escola não pode corrigir. Pode, sim, levar o aluno a refletir as consequências de atos que desequilibrem a ética social.

Numa sala de aula, um professor pode conduzir a uma reflexão sobre os valores morais de hoje em dia. Isso levaria a uma comparação sobre a moral de cada época: há pouco tempo, as mulheres não podiam usar maquiagens ou eram taxadas como prostitutas. Não podiam cortar cabelo, não podiam usar roupas com decotes ou cores fortes. Pouco antes, nem trabalhar fora de casa, ou estudar com homens na mesma sala. Era a moral, reforçando preconceitos, como o machismo e o sexismo. Fugia longe à ética.

Portanto, a ética é que deve nortear os princípios educacionais. A ética que desenvolve a pessoa e a sociedade.

A moral, em geral, atrapalha, discrimina, favorece aos mais poderosos.

Michel Foucault já afirmava que, “a verdade é o que convém aos poderosos”. Nada mais certo.

Se a Rede Globo lança uma moda hoje, vira febre e todos usam. As redes mais vistas impõem os costumes e a moral atualmente. Pode ajudar a um grupo ou reforçar preconceitos.

Isso pode ser perigoso, pois a sociedade fica escrava da opinião dos donos da rede. Mas é um fato. Antes, os alunos ficavam escravos do ponto de vista do professor e os que fugiam da escola, ficavam escravos do trabalho mal pago.

Não sei o que é pior, levando em conta que muitos da escola, além de escravos da opinião, ou do estado, também ganham péssimos salários.

Os homossexuais estão sendo menos perseguidos atualmente graças às campanhas embutidas nos personagens das novelas.  Mas os valores dos ricos da Barra da Tijuca, refletidos na maioria das novelas globais, permeia a visão de mundo de nossa sociedade. Se a Rede Globo não tivesse tanta audiência, o Brasil seria mais rancheiro, mais brejeiro, mais caipira, como o é, na essência.

A formação moral dos nossos pais foi muito influenciada pela televisão. A dos nossos filhos, pelos valores disseminados na internet. 

A escola não pode concorrer com a Globo nem com a internet. Nem é seu papel. Nem querer substituir família desequilibrada.

Além de perder sempre na preferência, a escola precisa usar o pouco tempo e crédito de que dispõe com os alunos para levar à reflexão, à consciência crítica, aos princípios éticos: o respeito, a justiça, o equilíbrio, a tolerância, a cidadania, a compreensão, a análise, a ponderação, a dialética, a liberdade, dentre outros princípios fundamentais a uma sociedade equilibrada e próspera. 

 
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