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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Maio/2007)

Uniforme que aterroriza

Escrito por Gilmar de Oliveira

Nos últimos dias tenho recebido uma série de mensagens contando casos escabrosos ocorridos nas escolas, com dúvidas de pais e professores quanto ao modo de proceder frente a tais situações inusitadas. Explico melhor:

O início do ano letivo trouxe a bizarra tradição de “doação” de uniformes, por parte do Governo Estadual aos alunos de suas escolas. Um uniforme que veio cercado de polêmica quanto à origem, cores, estética, denúncias...mas este não é o local para se repetir o que a mídia tanto “malhou”. O problema é maior neste momento.

Muitos diretores de escolas da rede estadual de ensino forçam os alunos a usar o uniforme “doado”, coagindo-os, retirando-os da sala para serem interrogados (sobre o motivo de estarem sem uniforme) e pelo que se ouve, humilhados por diretores e orientadores desequilibrados emocionalmente ou quem sabe, apaixonados pelos ditames do governo ou ainda pelas lindas cores do uniforme.

Imagine, caro leitor: seu filho de sete anos volta para casa chorando porque foi retirado da sala de aula pela orientadora que, brava e severa, pergunta o motivo de estar sem uniforme e mesmo ouvindo da criança que a mãe lavou a calça, carimba a agenda do aluno.  E além dele, mais alguns alunos que, claro, como toda criança de desenvolvimento normal, suja roupa na escola. Pior, caro leitor: o governo do estado forneceu apenas uma camisa, uma calça e uma bermuda por aluno. Num estado como o nosso, com chuva, frio, (pais e mães trabalhando o dia todo) é sandice exigir o uniforme limpo no outro dia.

E mais terrível ainda: tirar alunos da sala, falar rispidamente a estas crianças e adolescentes, carimbar agenda, ameaçar de suspensão (muitos já suspensos) chamar pais que perdem seu dia de trabalho e de renda, incomodar os afazeres de donas de casa para reclamarem da falta de uniforme está virando rotina nas escolas estaduais do Estado.

Afirmo a todos que, do ponto de vista psicológico, temos duas situações a serem observadas: este terrorismo educacional, causado pela “cegueira moral” de muitos diretores e orientadores, somente prejudica a tão abalada relação aluno-escola e escola-família. São pais revoltados, alunos assustados, punidos injustamente, muitos surrados por pais desequilibrados pelo “aviso” na caderneta. Tudo isso para quê?Melhora o ensino na sala de aula? A cidadania?

A outra situação é mais clara: os diretores, orientadores e professores envolvidos nestas situações acabam demonstrando o despreparo emocional, o desrespeito à educação por parte de quem deveria valorizá-la. São estes profissionais que desvalorizam o próprio trabalho, como se nada mais tivessem a fazer na escola do que serem fiscais de uniforme.

Isto é, sem dúvida, uma doença relacionada ao stress profissional ou à ignorância. Pergunta-se: o que leva um educador em sã consciência a coagir alunos apenas para obedecer cegamente ordens de alguns engravatados de gabinetes do governo?

O que leva um educador a não refletir sobre o quanto prejudica emocionalmente um aluno e a si mesmo com sua cobrança descabida? E será que faltou tempo ou racionalidade para no planejamento de início do ano pensarem na questão de que a cobrança seria infrutífera para muitos alunos e desgastante também?

É ou não é desvalorizar o trabalho educacional, agindo sem refletir, como se não soubessem que existem fatores climáticos, cronológicos, sociais e familiares que resultam na dificuldade de manter limpa em menos de 24 horas a peça de propaganda do governo? Até sei de diretores que pedem para que professores entrem na doença e cobrem o uniforme, mesmo interrompendo a aula ou deixando aquele clima ruim no ar antes de suas aulas....

É justo coagir, cobrar, humilhar ou mesmo reclamar com o aluno e tirá-lhos das salas de aula ou da (pré-histórica) fila? É ético que diretores obedeçam a ordens anti-educativas para manter seus cargos de confiança, agindo como terroristas sobre nossos filhos?

Não existe lei de obrigatoriedade do uniforme em escola pública, pois a entrada do aluno na sala é um direito. O que existe, no ECA, artigo 232 que diz ser crime constranger ou humilhar os menores de idade.

O site ação educacional especifica estes direitos e dá aos menos avisados algumas dicas sobre as leis existentes para punir profissionais despreparados para lidar com a educação moderna.

A escola precisa de preparo e planejamento na qualidade da educação, na transformação de seus conteúdos enciclopédicos em uma educação que prepare a pessoa a pensar, não para obedecer ordens cegas do século retrasado....refletir, ter bom-senso e denunciar tais abusos é um ato de cidadania e de saúde mental.

Pense nisto...afinal, o uniforme não foi doado...seu dinheiro é que foi colocado lá. Oxalá o dia que o brasileiro possa ao menos ter condições econômicas de comprar roupas para seu filho ir à escola e que uniforme seja visto apenas em museu escolar.

 
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