Logo da Universidade do Estado de Santa Catarina

Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Maio/2010)

O fracasso do Construtivismo

Escrito por Gilmar de Oliveira

A Revista Veja, em sua edição de 12 de maio de 2010 (edição 2164), além de muitas reportagens excelentes (como a da capa, sobre jovens gays assumindo sua sexualidade sem traumas, sobre a tetraplégica relatando suas experiências na entrevista das “amarelas”), nesta semana lavou minha alma, do ponto de vista epistemológico. 

Sempre fui visto como “um ET”, quando dizia que o Construtivismo é uma barca furada educacional, principalmente nas escolas brasileiras, carentes de professores com conhecimento técnico adequado para ensinar e compreender o processo de desenvolvimento cognitivo das crianças. Como diz o teor da reportagem “Salto no Escuro”, o Construtivismo não é um método. No Brasil, para mais de 60% das escolas públicas, é. Pior: virou dogma. Criticar o construtivismo é candidatar-se a queimar na fogueira onde arde qualquer tentativa de coerência pedagógica. 

Frente à professores dogmatizados, que em praticamente sua totalidade, defendem o que sequer conhecem, tentando aplicar um método que não é método, pouco se pode fazer. Defendem o Construtivismo sem conhecer seus pressupostos, confundindo teoria com método, criam projetos bizarros, enfraquecendo ainda mais as aulas, cada vez mais sem foco, sem conteúdo, sem metas de aprendizado. 

A reportagem de Veja (http://veja.abril.com.br/120510/salto-no-escuro-p-118.shtml) destrona a adaptação brasileira desta teoria em método. Mas afinal, o que é o Construtivismo? 

É parte de uma teoria que explica o processo de aquisição do conhecimento, a partir das interações entre o sujeito e o meio, dentro dos limites do desenvolvimento da mente.  Nada mais é do que uma explicação brilhante, feita por Jean Piaget, da forma como a criança aprende e interage com o mundo, de acordo com seus esquemas de desenvolvimento próprios da idade. O bielo-russo Vygotsky, que não era colaborador nem seguidor de Piaget (a reportagem da Veja errou neste ponto), descreve o processo de aquisição do conhecimento e de desenvolvimento cognitivo através de uma perspectiva sócio-histórica, contribuindo com a teoria piagetiana no sentido de demonstrar que as influências sociais têm um peso significativo na construção do conhecimento, não bastando apenas a maturidade biológica do sistema nervoso nem as assimilações e acomodações dos esquemas frente a uma nova situação inquietante (equilibração).

Nas escolas onde os professores se dizem construtivistas, ocorrem simplificações absurdas de conhecimentos necessários à compreensão do mundo, com aulas sem foco, onde o rumo tomado pelos interesses das crianças toma a frente. Sem a devida experiência e sem a mediação do professor, tudo acaba em maquete, teatrinho, joguinho, texto coletivo ou cartaz e, claro, defasagem educacional. 

A pior herança do Construtivismo à brasileira está na alfabetização. A aquisição da leitura e da escrita pelo método ideovisual (que os adeptos do “samba da pedagoga doida” creem ser uma práxis construtivista) despreza a origem sonora de nossa escrita, parte de associações e memorizações que, em última análise, prejudicam a compreensão dos textos e afastam os alunos da leitura. 

A referida reportagem faz menção a este prejuízo, baseada em estudos americanos e cita que Inglaterra, França e os Estados Unidos abandonaram de vez a alfabetização por associações visuais. Sob os comparativos e os resultados daquelas vítimas de professores iludidos: os alunos que se interessam muito menos em assuntos mais profundos e mais despreparados para ler e interpretar um simples texto, a cada geração. 

Em sala de aula, percebi este fenômeno (crianças e jovens cada vez mais semianalfabetos) de forma mais intensa, a partir das inserções de métodos que se dizem construtivistas, nos treinamentos nas escolas, com o advento dos Parâmetros Curriculares. 

Em muitos municípios, como Joinville e Jaraguá do Sul, era uma “quase lei”: punições a professores que insistiam nos métodos tradicionais de alfabetização. Era final dos anos 90, a busca por uma mudança na Educação fez esta moda do Construtivismo invadir as salas de nossos alfabetizadores. Professores perdidos, outros com falsas certezas e as escolas fazendo, na verdade, o DESTRUTIVISMO do saber. 

Outra leitura fundamental sobre o assunto, também na Veja

 
ENDEREÇO
Av. Madre Benvenuta, 2007 - Itacorubi - Florianópolis - SC
CEP: 88.035-001
CONTATO
Telefone:
E-mail: comunicacao.cead@udesc.br
Horário de atendimento:  13h às 19h
          ©2016-UDESC
Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no Portal da Universidade do Estado de Santa Catarina. Ao continuar navegando no Portal, você concorda com o uso de cookies.