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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Abril/2010)

Qualidade no ensino: o estímulo para se fazer “qualquer coisa”

Escrito por Gilmar de Oliveira

"Tem qualquer coisa aí para mim?" Quem perguntou, sobre uma vaga, nestes termos, foi um estudante de engenharia aqui da região. Estou fazendo crescer uma empresa de consultoria em Gestão de Pessoas, da qual sou sócio. Uma das ferramentas mais solicitadas (que faz nossa empresa parecer uma agência de Recrutamento de Pessoal), é a contratação qualificada. Uma série de avaliações mais criteriosas, que analisa os traços de personalidade, as aptidões e competências para o exercício do cargo a ser preenchido. Contratamos apenas estudantes universitários ou graduados, com qualidade.

A questão é que a cada 10 candidatos que avaliamos, uns 8 reprovam ou na entrevista ou nas testagens iniciais, em conhecimentos de Matemática e Português, em vocabulário ou interpretação simples dos enunciados.  Sequer partem para os testes de raciocínio.

A grande maioria dos currículos que recebemos sequer são guardados, porque a quantidade de erros gramaticais é assombrosa. Hoje, por exemplo: de uns 15 currículos que abri, recebi 3 "proficionais", uma "apitidão", um "eu estou si formando em tenico este meis", uma moradora da Rua MareXal Theodoro (nem sabia que ele mudou de nome).

Sem contar os jovens que se acumulam na recepção esperando para falar com o moço (obrigado pelo moço, mas não sou recrutador, ainda) que recruta, para "qualquer coisa". Estes preenchem a ficha e ficam aguardando a entrevista, onde a secretária tem de explicar: "Jovem, quando eu disse que deverias preencher a ficha ou enviar currículo que em breve você seria chamado para uma entrevista, em caso de perfil aprovado, não quis dizer para você aguardar aqui, mas sim um telefonema nos próximos dias..." Sim, ela teve de explicar aos jovens que não era apenas preencher uma ficha que se chamaria automaticamente.

Qual a responsabilidade das escolas neste drama urbano? Não só por ignorarem a realidade, os cursos e a complexidade das boas faculdades e o mercado de trabalho, não só por ignorarem que nossos jovens estão cada vez mais mandões e donos da verdade, por esquecer de  alertar aos alunos que usam MSN e  ORKUT e pensam ser isto a finalidade e o domínio de informática; não só pelas escolas não orientarem aos pais que tapete vermelho não existe para iniciantes e que estagiário e Office boy não tem auxiliares. A responsabilidade das escolas está em fechar o olho para a qualidade e para as exigências do mercado de trabalho.

Pergunto o que é um professor ferrar e ouço como resposta: dar prova sem consulta, fazer questões com muitas linhas para ler o enunciado, não encerrar a aula dez, quinze minutos antes, como a maioria (sim, escutamos isto, caro leitor, vida real...).

E como ferrar um professor? Simples: alunos que não querem nada com nada escrevem horrores da qualidade da aula e do nível de exigência do mestre, combinam entre si e lá vai o professor escutar cobranças de muitos coordenadores de curso ou das comissões independentes de avaliação ou mesmo dos donos de faculdades: não podemos perder alunos, pegue leve, não exija de quem não quer... Eu mesmo já fui espinafrado por "não favorecer os interesses dos clientes". Quais clientes? Os alunos, ora! Aqueles que pagam, mas não querem levar o produto: conhecimento e a competência para o bom exercício da profissão.

Quais as reações dos professores? Aulas cada vez mais mastigadas e prontinhas, graus de exigência cada vez menores, imbecilizando o nível das aulas. Alunos satisfeitos com a aula tosca, avaliação do professor "bonzinho" com A de cima a baixo, notas dos alunos recheadas de 9 e 10. Um mundo de aparências, de perfeita harmonia entre o fingir ensinar e o fingir aprender.

Todos se enganam. Mestres e alunos, que sentem na pele o dogma do mercado liberal: O MERCADO SELECIONA OS MAIS HÁBEIS, COMO A NATUREZA SELECIONA OS MAIS ADAPTADOS. 

Fabricam-se DIPROMAS, mais vagas sem candidatos. 

Tem qualquer coisa aí para mim?

 
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