Escrito por Gilmar de Oliveira
A chance de cursar uma pós-graduação stricto sensu (mestrado ou doutorado), àqueles que foram buscar meios de sustentar a si mesmos, é quase nula, em nosso país. Como refletimos na coluna de fevereiro, ou a pessoa é sustentada pela família, seja emendando os cursos após sua graduação, ou perde seu emprego, volta a ser sustentado pela família ou cônjuge, reza para obter bolsa do governo e tenta viver com uns caraminguás ou simplesmente não estuda no mestrado ou no doutorado.
Fica-se, nesta questão, à margem de uma Educação diferenciada e de qualidade, com pesquisa e reflexão na Educação. Se pudéssemos ter incentivos do governo para buscar a experiência de educadores que estão na escola e necessitam tanto de novos instrumentos quanto de compreender de forma metodológica as nuances dos processos educacionais, melhoraríamos a qualidade do ensino no Brasil em poucos anos, de maneira surpreendente. Ou seja: ao invés de tentar podar, a CAPES deveria incentivar o intercâmbio de mestrado e doutorado no MERCOSUL e na América Latina.
Alternativa seria cursar especializações, que nada ou muitíssimo pouco contribuem para a pesquisa sobre Educação no Brasil, muitas até de qualidade lamentável. São cursos ainda frequentes e procurados porque os alunos desses cursos conseguem aumentar seus salários no funcionalismo público.
Assim, a alternativa que surge é cursar o mestrado e/ou doutorado no MERCOSUL, mesmo com a CAPES ameaçando as universidades que pensam em reconhecer estes diplomas, como diz a lei. Argentina e Paraguai possuem ótimos cursos (e outros que são ruins de doer, cuidado!), conheci pessoas elogiando cursos do Uruguai, que devem ser analisados. São mestrados e doutorados feitos para brasileiros e demais sul-americanos. Claro que nem todos os mestres e doutores que concluírem esses cursos se tornarão pesquisadores acadêmicos. Mas, se afinal de contas, o governo brasileiro e a Educação brasileira conseguiram mergulhar seus jovens numa sociedade neoliberal, o mercado então, que selecione os melhores postulantes a pesquisador,ora!
Mas os conhecimentos agregados a quem cursa mestrado e doutorado contribuem em dois campos: a pesquisa, por si só, de profissionais que viveram e vivem a realidade educacional brasileira no seu cotidiano, situação enriquecedora na pesquisa com pessoas (muitos de nossos teóricos em Educação pouco pisaram na escola enquanto educadores), de um lado e, do outro traz ao educador uma compreensão abrangente e elucidativa dos processos de aprendizagem e dos mecanismos ligados à boa formação escolar: os diversos currículos (implícitos e explícito)s, as novas abordagens em Educação (pressupostos, tecnologias, Filosofias da Educação com diversos contextos e parâmetros, por exemplo), a Inclusão e a visão que não recebemos nas universidades brasileiras: a latinidade, a consciência de que nós brasileiros, somos latino-americanos, não europeus, o que muda a práxis educativa e nossa visão de mundo, mais realista e mais voltada a reduzir a desigualdade social do continente. Claro que, este último ponto depende de trazermos ao jovem o senso crítico e a consciência de si e de sua condição: uma dimensão de alternativas de vida, de aprimoramento constante (mais ainda para sobreviver neste tal mercado neoliberal que citei acima).
Apesar da propaganda oficial de nossa qualidade de ensino de pós-graduação (a CAPES acredita que somos os melhores do mundo), a verdade é que os países acima citados, nossos irmãos do MERCOSUL estão à nossa frente na Educação em todos os níveis. Mas a visão e a missão dos educadores do MERCOSUL, exceto boa parte dos educadores brasileiros, são voltadas para a formação de profissionais que qualifiquem nossos jovens como profissionais e como cidadãos, capazes de vencerem as mazelas sociais e políticas que os donos do poder os deixaram. Aprendamos com eles.