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Centro de Educação a Distância

Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Dezembro/2009)

A IDADE IDEAL PARA ALFABETIZAÇÃO

Escrito por Gilmar de Oliveira

Será mesmo que existe uma idade mínima adequada para alfabetizar uma criança?

Uma celeuma se formou entre o presidente da Federação de Escolas Privadas e o MEC, sobre a idade-limite para aceitar crianças no ensino fundamental. 

Procurei saber o currículo Lattes do presidente da federação de escolas privadas, José Augusto de Mattos Lourenço, mas não encontrei trabalho acadêmico algum. Porém, ele afirma categoricamente que a idade ideal para a criança ingressar nas salas de alfabetização é de cinco anos. 

Será ele um cientista ou tem interesses econômicos em sua afirmação?

Por sua vez, o MEC pensa ser válido colocar uma data-limite para o ingresso no Ensino Fundamental, embora esta primeira série não implique num ensino formal, tal data é 31 de março.

Uma criança que complete 6 anos em primeiro de abril ficará obrigada a estudar mais um ano na educação infantil, mesmo que seu coleguinha de classe seja mais imaturo, em termos de desenvolvimento motor, emocional ou cognitivo. Vai acontecer o de sempre: crianças imaturas no ensino formal, que nasceram até “data X” sofrendo para acompanhar e sendo pressionadas pelas professoras e crianças que por natureza (ou meio social mais estimulador), desenvolveram tais habilidades mais cedo, letradas e dominando escrita e leitura, “sobrando” na Educação Infantil. Ficarão recortando caixinha de ovo e colando picote colorido em folha mimeografada por mais um ano...

Claro que a Educação Infantil, quando bem planejada e calcada principalmente no lúdico, vai além do picote e da colagem (em poucas cidades temos uma realidade melhor em termos de qualidade da Educação Infantil, o restante são atividades imbecilizantes e enfadonhas).

Pois bem, para complicar, o Senado brasileiro (e os “grandes” especialistas em corrup...quer dizer Educação), enviou à Câmara um projeto diferente daquele do MEC: permite a entrada da criança de 5 anos no Ensino Fundamental, agora com 9 anos. Ou seja, nem o governo entende ou tem certeza sobre suas ações. O pior fica para pais, mestres e crianças.

Não existe uma idade certa para o aprendizado da leitura e escrita. Na minha experiência clínica, já atendi crianças que aprenderam a identificar letras e a escrever pequenas palavrinhas com menos de 3 anos. Assim como há crianças ditas normais, mas que demoram a decodificar letras.

Não há uma idade certa, mas um período. Todos os educadores e psicólogos estudam esta questão, quando se debruçam sobre estudos epistemológicos, com os textos de Piaget, Vigostskii ou Wallon. Mas não os refletimos nem os contextualizamos à nossa realidade.

Porém, o drama de nossos universitários é encontrar professores que contextualizem e percebam as diferenças na estimulação e percepção do mundo do início do século XX para a estimulação mais intensa, que leva à precocidade de estruturação de nossas crianças. Também devemos lembrar que a espécie humana tem um limite maturacional, ou seja, que dita um ritmo específico à espécie, independente se a criança é bem ou mal estimulada. Ou seja: não adiante ensinar Filosofia Kantiana para um bebê.

Não é a idade cronológica que deve ser analisada para identificar a maturação para a leitura ou formalização do ensino; é a maturidade cognitiva e motora, a prontidão da criança para acompanhar a construção do conhecimento ao qual o professor, como mediador, deveria levar a criança à explorar.

Será que é difícil para os educadores de gabinetes lembrarem de trabalhar professores e alunos para estruturar inicialmente o letramento, que é um conceito muito mal aplicado e pessimamente compreendido no Brasil? Será que a criança entre 5 e 6 anos de todas as classes sociais tem consciência da função da escrita e sua dimensão na vida? 

Sugiro que se façam avaliações cognitivas, com psicopedagogos, antes de se definir qual a classe ideal para a criança. Testes que verifiquem seu estágio de desenvolvimento cognitivo, seu estágio psicomotor, sua maturidade emocional para escolherem a classe onde ela irá brincar (para aprender).

Vamos ter crianças entre 5 a 8 anos em classes de letramento e estruturação psicomotora  e lúdica; crianças de 5 a 8 ou até 9 anos em classes de alfabetização. Esqueçamos as séries, ora!

Por que os países mais desenvolvidos em Educação estimulam suas crianças a brincarem, a explorarem o conhecimento, sem se preocupar com a alfabetização? E quando, por volta dos dez anos de idade, iniciam a formalização da Educação, os pequenos aprendem bem, rápida e profundamente, além de serem criativos e operantes, longe da apatia e da aversão que a escola brasileira causa?

Letrar, brincar, criar, explorar o meio, compreender regras e interagir. Depois desenvolver as habilidades necessárias para se compreender o mundo e seus desafios, entrando na escrita e na leitura quando forem mais maduras e preparadas, porque a alfabetização é um processo longo, o uso da língua está se reformulando, a forma de conviver e interagir também. Mas a escola, ainda não...

 
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