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Jornal da Educação

Psicologia e Educação (Edição Julho/2009)

DIVERSIDADE: Compreender o diferente para aceitar um mundo melhor

Escrito por Gilmar de Oliveira

Joinville sediou, no final do mês de junho, a Semana da Diversidade. Para desespero dos conservadores e ignorantes de plantão, trabalhar a diversidade é trazer luz às trevas do preconceito sexual. 

Uma ótima oportunidade de se trabalhar o respeito às individualidades, sejam sexuais, sociais, religiosas ou familiares. Mulheres, grupos étnicos e sociais deveriam prestigiar e lutar pela diversidade, pois também foram oprimidos ao longo da História. A luta e a festa não eram apenas de gays e transexuais. Era da liberdade. Do compromisso de respeitar as várias formas de amor, de desejo e de convivência.

Só faltou uma coisa: a presença maciça de professores e estudantes apoiando os eventos da Semana.

A Escola deixou de lado uma enorme oportunidade de buscar a reflexão e a discussão do quanto o preconceito sexual é terrível para uma sociedade e de quanto segue vivo. E pior: impulsionados por muitos professores, que defendem a família tradicional como salvação do mundo, por mestres que incentivam ou fazem chacota da sexualidade alheia.

Imaginei o choque e a oportunidade de levar novas realidades para as casas. Filhos explicando à família que a escola trabalhou temas que  ajudaram-nos a entender que ser diferente não fere ninguém, tampouco gostar ou se unir com este ou aquele ser irá destruir com o mundo...

Imaginei uma interação entre escolas e grupos diversos, com palestras com transexuais, nas salas ou em auditórios, explicando sua condição e suas histórias, para alunos curiosos e espantados em ver que alguém pode ser diferente sem ser marginal... Noutra escola, travestis mostrando que sua condição não é obrigatoriamente de prostituírem-se, que merecem respeito e direitos iguais como toda pessoa.

Imaginei religiosos de doutrinas minoritárias, cristãs e não-cristãs dando o seu recado a estudantes; pessoas com hábitos alimentares e sociais diferentes, oferecendo opções de vida a alunos que se preparam para um mundo novo.  Democracia, pluralidade, respeito. Menos sofrimento e chance de liberdade para tantos jovens que, oprimidos, sofrem por não poderem ser ou fazer o que desejavam. Diversidade.

Talvez a patrulha dos conservadores, nas escolas, na doce hipocrisia, ache melhor que gays e lésbicas se casem da forma tradicional e tentem manter uma imagem falsa de si mesmos, sofrendo e fazendo sofrer...

Imaginei uma parte do evento da Diversidade sendo formado por professores, em oficinas, discutindo e se informando sobre Sexualidade, Família e suas Mudanças, Liberdade, Respeito e Cidadania.

A maior parte dos professores que converso quando ministro cursos ainda acha que Homo, Hétero ou Bissexualidade é uma escolha da pessoa. Ou desvio de caráter. Como se um sujeito escolhesse gostar de berinjela ou de Jiló. Muitos educadores gays ainda creem que são anormais e vivem conflitos.

Claro que alguém que não goste de um alimento ainda possa escolher comê-lo, a contragosto e com repulsa, bem como uma pessoa pode aceitar ou se sujeitar a ter relações sexuais com quem não sente atração, por vergonha, medo, pressão, dinheiro, status ou o que for... Mas que vida é essa?

Conscientizar educadores para que trabalhem no aluno o respeito ao diferente, num mundo tão variado que se desenha, é o mínimo para desenvolvimento da cidadania. 

O preparo, para que o professor conheça a sexualidade e viva melhor a sua (embora eu pense que ninguém fica bem com sua sexualidade numa jornada de 50, 60 horas semanais...), é essencial para si e para os alunos, pois a sexualidade mal trabalhada gera neuroses, conflitos, angústia, relacionamentos fracassados, disfunções sexuais, depressão e aquele famoso mau-humor ironicamente comentado sobre a professora carrancuda. Escolher uma família diferente ou um modo de vida diferente não traz trauma.

Duas irmãs e um amigo podem criar, educar e orientar uma criança? Um pai solteiro que more com sua filha e dois primos pode ser uma família? Duas senhoras de idade avançada criando um menino, é família?  Sim, sim e sim. Não há padrão de família certa. As desequilibradas são as que vivem em conflito. Dois homossexuais masculinos e afeminados criando um menino, torna a criança "afeminada"?

Uma lésbica que more com um transexual pode ter filhos e, com seu parceiro, criá-los?  Homossexualidade "passa"? Duvida-se dos fatos acima por ignorância ou preconceito. Apenas isso. 

A família tradicional é melhor que as novas formas de família? Nem melhor, nem pior, nem mais, nem menos sofrimento. Tais tabus devem ser quebrados, na escola. Como o de que filhos de pais separados sofrem mais ou são mais rebeldes. Tudo gira em torno de mitos e "verdades feitas" por uma sociedade desigual e que não deu certo, nem tem esperanças de melhorar.

A verdade é que não há mais padrão de família ou de sexo que sejam certos e ideais. Existem padrões diversos e que devem ser aceitos. Nem melhores, nem piores. Só diferentes. E Isso é bom.

Quantos professores e professoras gays se escondem de si mesmos nas escolas? 

Não precisam dizer sua preferência; mas defender alunos do preconceito e orientar a busca pelo respeito. Parafraseando Caetano: Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

 
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